Por Roberto Cunha
O longa de Beto Brant, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, participa da competição na Première Brasil no Festival do Rio e o cineasta marcou presença nas sessões, como aconteceu na última quinta-feira, 13, no Estação Vivo Gávea. O filme, baseado no livro de Marçal Aquino, teve as duas sessões com salas cheias e boa recepção do público. Antes da exibição, Brant e o ator Adriano Barroso, que interpreta o policial Pollozi, fizeram uma breve apresentação e falaram sobre a experiência deles na produção. Momentos como esses são bem interessantes para o espectador porque é uma chance, às vezes única, de ter um contato com o diretor e saber um pouco mais sobre o processo de realização. Depois de uma das sessões, Brant visivelmente contente com a repercussão, conversou um pouco com o Adoro Cinema sobre seu mais recente trabalho.
SOBRE O LIVRO E O PERSONAGEM
O cineasta reforçou que este é o sétimo trabalho que faz baseado na obra de Marçal Aquino, que ajudou no roteiro, e a amizade de mais de 20 anos existente entre eles é muito produtiva, o que permite que ele tenha contato com as publicações até mesmo no "periodo de gestação".
Perguntado sobre uma possível identificação com o protagonista, Brant cita a entrega de Cauby (Gustavo Machado) ao seu projeto e sua vontade de realizar como uma característica em comum. E faz questão de ressaltar que o descontrole vivido pelo personagem durante a trama é o que reforça a dramaturgia.
DISCURSO PANFLETÁRIO
Quando questionado sobre uma possível visão do espectador de que a questão das terras abordada no filme poderiam ser vistas como panfletárias, Brant justificou que a escolha por retratar aquele momento foi interessante porque não era a retratada no livro, mas a que ele encontrou ali, sendo vivenciada pelos locais e era algo extremamente pulsante, impossível de deixar de lado.
CAMILA PITANGA - A ESCOLHA
Brant falou que pretende ampliar seu público, que gostaria de falar com mais gente do que tem conseguido com seus filmes. Nesse sentido, por mais que a escolha da atriz para um dos papéis principais possa parecer lógica, ele lembra que a definição veio mais por conta da experiência da atriz na vida real, em seu engajamento em questões sociais e políticas, coisas que surgiram na entrevista que fez com ela na época dos testes.
SENSUALIDADE
As muitas cenas de nudez e sexo de Lavínia (Camila Pitanga) não foram esquecidas na conversa, mesmo sabendo que esse elemento está presente na obra do diretor. Mas ele fez questão de frisar que não era uma coisa gratuita, pois a carga sensual no livro também era forte e que as imagens ajudam a traduzir "essa voltagem erótica" do autor.
A NUDEZ
A naturalidade com que a atriz encarou as cenas de nudez também surgiram no papo. Sobre isso, ele voltou a dizer que foi fundamental a conversa de Camila (foto) com Sônia Braga, que a alertou para a necessidade de não se esconder para perder o pudor, o que ajudou muito a jovem atriz a realizar as cenas com tranquilidade. Outro ponto destacado por ele foi a harmonia da equipe, isolada - de certa forma do mundo - e extremamente unida.
UM FILME, DOIS DIRETORES
Perguntamos sobre a experiência de dirigir o filme na companhia de Renato Ciasca e o diretor, de maneira objetiva e clara, disse que foi algo muito natural para ele. Sobre possíveis divisões de tarefas, Beto salientou que eles se conhecem desde os tempos de faculdade, são anos de trocas de ideias, um já sabe mais ou menos o que o outro pretende e a coisa fluiu muito bem e em conjunto.