Nando Olival iniciou a carreira no cinema em 1998, com o curta-metragem E no Meio Passa um Trem. Três anos depois se arriscou nos longas ao lado do parceiro e ainda desconhecido Fernando Meirelles, em Domésticas. Uma década depois, ele retorna ao cinema com Os 3, drama jovem que aborda questões bem atuais, como a influência dos reality shows e da publicidade.
O AdoroCinema conversou com Nando Olival (foto) durante o Festival do Rio. No papo o diretor traz detalhes e curiosidades da produção de seu novo longa-metragem, fala sobre futuros projetos e ainda dá uma palinha sobre um suposto filme que enganou muita gente: "Eduardo e Mônica". Boa leitura!
Foto: Roberto Bonifácio
DEZ ANOS LONGE DO CINEMA
Os 3 é o primeiro longa-metragem dirigido por Nando Olival desde Domésticas, lançado em 2001. “Domésticas foi um filme feito muito para entender o business do cinema, como ele funcionava. Inclusive ele tem algo um pouco parecido com Os 3, já que ambos foram feitos, de certa forma, rápido. Depois de Domésticas fui sugado para a publicidade e não pintava nada que pudesse sair de lá. Há uns três anos fiquei com um longa internacional que seria feito no Brasil, que fazia parte do acordo da O2 Filmes com a Universal Pictures, mas ele ficou rateando. Não conseguia me acertar com o roteiro. Até que um dia veio o Fernando (Meirelles) e disse que tínhamos que tirar o filme de lá, pois estávamos virando clientes e nós éramos fornecedores. Nesta época tinha parado de fazer publicidade para me dedicar a este longa e, quando não funcionou, resolvi que ia fazer um longa de qualquer jeito, mesmo que fosse independente ou que tivesse que investir nele. Preparei tudo muito rápido, até mesmo porque não tinha patrocínio quando fiz o filme. Agora que demorou um pouco mais, após a entrada da Warner, por questões de agenda.”
OLHAR DE DIRETOR
”Possivelmente muita coisa mudou”, responde Nando Olival à pergunta sobre o que mudou no seu olhar como diretor entre os dois filmes. “Talvez por não ter experiência em cinema lá atrás não sabia direito o que estava fazendo, não sabia nem que filme iria sair. Ficamos quatro semanas rodando e praticamente um ano montando, então com Domésticas não tinha muita ideia de sua estrutura. Com Os 3, como não havia dinheiro nenhum, não podia vacilar. Já sabíamos mais ou menos como o filme iria sair e isto fez muita diferença para mim.”
MISTURAS NO ROTEIRO
”Queria fazer um filme sem saber direito do que se tratava, mas que falasse sobre os jovens sem se prender à juventude atual. Algo que falasse mais de juventude do que de música, gíria ou coisas do tipo”, disse o diretor. “Vim de uma geração que rompeu com esta coisa quadrada que havia na publicidade, de fazer tudo improvisado. Juntei isto com a questão da exposição, de bastidores de um reality show, para trabalhar esta coisa das várias imagens que a gente cria da gente mesmo. O filme tem muito este lado de você declarar o que está sentindo, em uma transferência da adolescência para uma juventude um pouco mais madura, no sentido de conhecer melhor a si mesmo.”
ELENCO DESCONHECIDO
”A ideia era pegar ninguém famoso”, afirma Nando Olival. “Primeiro pela dificuldade em encontrar grandes atores nesta faixa etária. Segundo porque precisava ter o filme um pouco na mão, no ponto de vista de produção. Não podia ficar preso à agenda de um ator. Depois porque sabia que, durante a filmagem, o longa ainda estaria em gestação. E depois que comecei a trabalhar com três atores desconhecidos não faria sentido colocar alguém mais famoso como coadjuvante, pois quebraria esta harmonia.”
Nando Olival falou também sobre como foram os testes para a seleção do trio protagonista. “Falava para cada um dos candidatos que, se gostasse dele, iria colocá-lo em um grupo com outras duas pessoas que gostava e aí veríamos se dava samba. Não estava atrás de cada personagem especificamente, mas de um trio que funcionasse de forma orgânica. Durante muito tempo fiquei selecionando e criando grupos de três, passando de um grupo para outro até que encontrei estes atores.”
TOQUE
Nando Olival contou uma particularidade do trio formado por Victor Mendes, Juliana Schalch e Gabriel Godoy. “Eles tinham uma coisa durante as filmagens que era o toque. A todo instante estavam se tocando, se beijando, quando dizia 'corta' eles continuavam. Para um filme jovem era importante ter esta sensualidade. Então do ponto de vista gestual eu quase não tive que trabalhar com eles. E esta intimidade existe até hoje. Ontem, na sessão do filme, ao invés de assistirem eles ficavam se sacaneando. Tipo dizendo que naquela cena você estava muito ruim, se fosse você tinha vergonha. Estavam sempre se beijando, de mão dada, era muito legal.”
DOIS ANOS DE ESPERA
Os 3 foi rodado em setembro e outubro de 2009, ou seja, dois anos antes de sua estreia nos cinemas. Questionado sobre o período de espera até o lançamento, Nando Olival disse: “É uma tremenda chatice! O filme foi feito muito rápido. Aluguei um prédio onde o set de filmagens era no 2º andar e toda a parte de produção era no térreo. Então estavam todos da equipe técnica lá, inclusive o Daniel Rezende. Durante as filmagens a ilha de montagem estava no set, então a montagem foi feita simultaneamente às gravações. Quando chegamos em novembro o filme já estava pronto, também porque o Daniel ia trabalhar em Tropa de Elite 2 em dezembro. Então foram dois anos vendo o mundo passar. Tinha outros projetos, mas não conseguia seguir em frente sem me desprender deste, que ainda estava me consumindo.”
NOVOS PROJETOS
Nando Olival pretende continuar se dedicando ao cinema nos próximos anos e tem dois projetos em vista. “Um deles é sobre cinco estrangeiros que vêm ao Brasil e todos se envolvem na indústria do turismo sexual. É uma produção internacional cujas filmagens serão aqui. Tem outro que ainda estou começando a desenvolver, que é sobre um jovem recém-formado como advogado que se envolve num processo onde faz coisas erradas dentro da lei. Tem um lado político também.”
EDUARDO E MÔNICA
Nando Olival é também o diretor de “Eduardo e Mônica”, campanha publicitária que fez muita gente acreditar que se tratava na verdade de um longa-metragem. Aproveitamos a oportunidade para falar também sobre o projeto. “Já trabalhava com publicidade e me chamaram para dirigir. Queria imaginar o que seria Eduardo e Mônica hoje em dia, criar este universo no mundo atual, e funcionou direito. Agora, ele fez sucesso e teve 10 milhões de pageviews, mas mesmo que fosse ruim iria fazer uns 5. A canção é tão poderosa, as pessoas têm tanta vontade de ver aquele clipe que nunca foi feito, que acho que esta foi a grande sacada. Quanto ao mistério, creio que foi também porque havia outros filmes ligados à Legião Urbana sendo rodados naquele momento”, disse o diretor, se referindo a Faroeste Caboclo e Somos Tão Jovens, que chegarão aos cinemas em 2012.
Perguntamos também se não existe a possibilidade de Nando enfim rodar um longa-metragem baseado na música, mas o diretor desconversou. “Muita gente tem me perguntado sobre isto”, se limitou a dizer.