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    Entrevista - Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo

    Entrevista com o diretor Hugo Carvana e o ator Gregório Duvivier.

    Hugo Carvana estreou como diretor de cinema em 1973, com Vai Trabalhar, Vagabundo. Desde então vieram outros seis filmes antes de Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo, que chega aos cinemas brasileiros em 5 de agosto.

    Gregório Duvivier estreou no cinema em 2007, com a comédia Podecrer, situada nos anos 80. Desde então tem se destacado em filmes como Apenas o Fim, sempre tendendo para o humor. Em Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo ele trabalha pela primeira vez com Carvana como diretor.

    Em bate-papo com jornalistas a dupla falou sobre o longa-metragem, que traz um estilo próprio de comédia. Você pode conferir o resultado logo abaixo. Boa leitura!

    O MALANDRO MUDOU

    A carreira de Hugo Carvana como diretor de cinema ficou marcada pela figura do malandro carioca. Questionado sobre as mudanças de estilo no malandro ao longo dos tempos, Carvana disse que mudou muito. ”O malandro romântico não tem mais espaço porque a cultura mudou, a ambição do dinheiro foi ficando maior. Antigamente o cara dava um golpe de malandragem para ficar com uma mulher. Quantos sambas não foram feitos pensando nisto? A arma era uma navalha, hoje é uma metralhadora.”

    TARCÍSIO MEIRA

    Hugo Carvana disse que escolheu Tarcísio para interpretar Ramon Velasco justamente pelo tom sisudo que ele passa ao público. “Precisava de um ator que fosse sisudo e sério para fazer um personagem que fosse diferente de um homem sério. Se me chamasse, por exemplo, seria óbvio, iam dizer que já era o malandro vagabundo. Não podia chamar o Pereio, porque ele é malandro e vagabundo. Tinha que chamar um cara anti-Carvana e anti-Pereio, que daria mais vigor ao personagem. Tarcísio relutou muito de início, tive que seduzi-lo. Até que se entregou de vez.”

    BORDÃO

    O bordão “Não se preocupe, nada vai dar certo”, que dá título ao filme, veio de um amigo já falecido de Hugo Carvana, chamado Armando Costa. “Sempre reclamava dele, porque atrasava o trabalho e ele me vinha com esta frase. Era uma maneira de me dizer ‘não esquenta, isto aqui está uma porcaria e não vai dar certo. Se der é lucro para você, olha que legal’. Ele já me preparava para o bode, tinha esta visão bem pessimista da vida. Era engraçado com a desgraça e eu adoro o humor da desgraça. Esta frase ficou na minha cabeça por três décadas, até que resolvi fazer um filme em torno dela”, disse o diretor.

    SOTAQUE DO GURU

    Hugo Carvana revelou que o sotaque portunhol do guru interpretado por Gregório Duvivier foi criação do próprio ator. “Na única leitura que fiz com o elenco inteiro em uma mesa eu não sabia que ele iria fazer aquilo. Aliás, ninguém sabia. Na hora chegou aquela voz e todo mundo caiu na gargalhada. O Gregório descobriu o personagem”, disse Carvana.

    ”Fiquei quebrando a cabeça em casa para encontrar como seria um sotaque indiano. Não temos esta referência no Brasil. Em inglês tem o feito pelo Peter Sellers em Um Convidado Bem Trapalhão, que é engraçadíssimo, mas aqui não tem. Nossa referência de guru enganador é um pouco mais para o latino, tipo Walter Mercado, então fui neste caminho”, explicou Gregório. “Fiquei muito feliz do Carvana ter topado, daí me senti muito mais confiante para levar isto até o fim.”

    DIFICULDADES DA PROFISSÃO

    Gregório Duvivier admitiu que ficou emocionado ao rodar a cena no Retiro dos Artistas, onde encontra um velho amigo do pai interpretado pelo próprio Hugo Carvana. “A cena fala muito das dificuldades da profissão do ator. Tenho colegas que de repente caíram no ostracismo ou foram esquecidos, é uma profissão que está sujeita a isso. Achei linda a forma como o Carvana disse o texto e as lágrimas brotaram naturalmente”, declarou. ”Este é um dos momentos mais bonitos de ser ator, quando os sentimentos afloram. Às vezes sem falar nada, um olhar detona alguma coisa”, complementa Carvana.

    RÓTULO

    Gregório Duvivier tem sido associado a vários papéis cômicos, seja no teatro, através da peça de improvisação “Z.E. – Zenas Emprovisadas”, ou no cinema, como em Podecrer e Apenas o Fim. “Toda vez que tentei experimentar outras searas acabei fazendo comédia também. Como diz o Carvana, a gente pode sair da comédia, mas a comédia não sai da gente”, disse o ator ao falar sobre a possibilidade de ter papéis mais diferenciados. “Adoro o drama, mas como ator fatalmente esbarro na comédia. Nos filmes mais sérios que fiz, como À Deriva e 5 x Favela – Agora por Nós Mesmos, acabei fazendo humor também. Não tenho medo de ser rotulado, acho a comédia muito nobre e é difícil pra caramba também. A comédia é um ótimo berço para o ator.”

    MODISMO NO CINEMA

    A boa fase atual do cinema brasileiro tem sido impulsionada pelo sucesso de comédias, como Se Eu Fosse Você, De Pernas pro Ar e Cilada.com. ”Agora a moda é a comédia, mas se amanhã ela acabar vou continuar fazendo humor”, disse Hugo Carvana. “Não irei nunca deixar esta corrente, porque não represento movimentos mas meus sentimentos. Então me inclua fora desta, não sou modista. Não faço comédia porque hoje se faz comédia, eu já faço há 40 anos”, completou.

    PRÓXIMO FILME

    ”Quando penso em um filme, penso em personagens que quero homenagear”, disse Hugo Carvana. “Quero fazer um sobre o velho batedor de carteiras, o malandro refinado que com apenas dois dedos tirava a carteira da calça do cara, sem sangue nem arma. Este cara foi aposentado pela calça jeans, que apertou a bunda e o deixou desesperado. E eu quero fazer este cara”, declarou. Carvana disse que ainda está anotando ideias para o filme, que por enquanto não tem previsão sobre quando começará a ser rodado.

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