por Lucas Salgado
Uma das maiores estrelas da história do cinema europeu, Catherine Deneuve esteve no Brasil para participar do Festival Varilux de Cinema Francês e promover seu mais novo filme, Potiche: Esposa Troféu, mais nova parceria com o diretor François Ozon. Os dois realizaram juntos 8 Mulheres.
Os realizadores do festival organizaram uma coletiva de imprensa da atriz na quinta-feira, 9 de junho, no Rio de Janeiro, e o AdoroCinema, como não poderia deixar de ser, marcou presença.
A atriz falou sobre o novo trabalho, a vinda ao Brasil, a indústria da moda em Hollywood e o mal provocado pelo politicamente correto, dentre muitas outras coisas. Confira abaixo o que melhor aconteceu durante a coletiva.
CINEMA TRANSGRESSOR
A atriz trabalhou com grandes nomes da direção cinematográfica, incluindo alguns dos cineastas mais transgressores da sétima arte, como Lars Von Trier, Roman Polanski e, é claro, Luis Buñuel. Ao ser questionada se a transgressão era algo que lhe chamava atenção em um realizador, a atriz foi contundente em dizer que não. "Escolhi trabalhar com diretores. Escolhi A Bela da Tarde pela oportunidade de trabalhar com Buñuel e não para transgredir", destacou.
A BELA DA TARDE
Falando em Belle de Jour (no original), o clássico de 1967 foi um dos assuntos mais lembrados na coletiva, mostrando que o filme ainda está presente na memória de muita gente. A atriz revelou que consegue conviver bem com A Bela da Tarde, que entende porque as pessoas relacionam o seu nome com o longa e que já aprendeu a lidar com isso.
Ao ser questionada acerca da uma eventual semelhança entre a personagem do filme de Buñuel e a de Potiche, pelo fato das duas serem, de certa forma, bibelôs, Deneuve foi enfática ao afirmar que não existem ligações entre os papéis. "A Bela da Tarde é um filme sobre a sexualidade e as fantasias femininas", disse.
DIVA
Catherine Deneuve destacou que não tem dificuldades em conviver com a visão que o público tem dela. "Não vivo como a Catherine Deneuve, mas sim como a Catherine. Às vezes é complicado ser um ícone, mas as vantagens são maiores do que as desvantagens", afirmou. A lenda do cinema francês também fez questão de reforçar que não gosta do título de diva: "Diva é coisa de ópera italiana. É um termo até um pouco pejorativo, ligado à exigências esdrúxulas e excentricidades. O que falta no cinema hoje é mistério e não a figura da diva."
POTICHE - ESPOSA TROFÉU
Ao abordar seu novo filme, Potiche, a atriz destacou que foi levada ao mesmo pela vontade de trabalhar novamente com o diretor François Ozon. "As filmagens de 8 Mulheres foram muito complicadas, afinal éramos oito mulheres, mas desde então tenho vontade de voltar a trabalhar com Ozon", falou Deneuve. Potiche tem sido muito comparado aos longas de Jacques Demy estrelados pela atriz, em especial Os Guarda-Chuvas do Amor, mas Deneuve não vê muitas semelhanças entre Ozon e Demy, apesar de reconhecer que o primeiro foi inspirado e influenciado pelo segundo.
Foto: Paula Kossatz
Ainda sobre Esposa Troféu, a atriz falou sobre a felicidade em voltar a contracenar com o grande amigo Gérard Depardieu, apontado por ela como um dos atores mais generosos do cinema.
FILHA
A atriz não deu muito espaço ao jornalistas para falar de sua filha Chiara, fruto de um relacionamento com Marcello Mastroianni. As duas atuaram lado a lado em Les Bien-Aimés, filme de Christophe Honoré que fechou o último Festival de Cannes. "Não vou falar sobre a minha filha, volto com ela ao Brasil no ano que vem para que ela mesmo possa falar sobre si", destacou Deneuve, completando que a filha não é muito parecida com ela: "Ela é muito italiana (em referência à nacionalidade do pai)."
CIGARRO
Um dia antes da coletiva no Rio, Deneuve compareceu à uma entrevista em São Paulo e acabou causando polêmica ao fumar durante a mesma. A atriz reforçou que não conhecia a proibição de se fumar em espaços fechados na cidade, mas afirmou ter ficado muito incomodada com o tratamento da mídia para tal situação. "Pego um avião da França, faço uma viagem longuíssima, falo 45 minutos sobre um novo filme e tudo o que destacam é que eu fumei", contestou. Neste sentido, a estrela destacou ser totalmente contra o politicamente correto.
INDÚSTRIA DA BELEZA
"Hollywood é Hollywood", afirmou a atriz para criticar o culto à beleza no cinema norte-americano. "Essa indústria da beleza é muito limitador para as atrizes, assim como o culto à juventude. Envelhecemos melhor na Europa", concluiu.
LARS VON TRIER
Deneuve também aproveitou o espaço para tratar da polêmica acerca do diretor Lars Von Trier - com quem trabalhou em Dançando no Escuro - na última edição do Festival de Cannes. "Ele disse algo muito grave, mas que deveria ser relevado. É alguém muito provocador que se perdeu em um momento de loucura, e que pediu desculpas por isso", disse, criticando a decisão da organização do evento em declará-lo persona non grata. "Felizmente, não puniram o filme (Melancolia) e Kirsten Dunst pôde conquistar o prêmio de melhor atriz."