por Francisco Russo
Nelson Rodrigues, com muita propriedade, classificou que o brasileiro sofre de complexo de vira-lata. Quem não conhece o termo, eis uma rápida explicação: trata-se de um sentimento de inferioridade em relação a outros países. Nada do que aqui existe é bom, a não ser que seja elogiado por alguém de fora. No cinema isto também acontece. Cidade de Deus recebeu uma saraivada de críticas que se calaram após as quatro indicações ao Oscar, apenas para citar um exemplo. Esta necessidade de ser reconhecido pelo exterior veio mais uma vez à tona na coletiva do astro Tom Cruise, realizada em 3 de fevereiro no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Sempre simpático, Cruise não fugiu de qualquer das perguntas feitas. Em algumas foi incisivo, em outras evitou respostas mais comprometedoras. Porém o impressionante não é esta postura, mas sim a dos presentes no evento. Questões sobre o que achava do Brasil predominaram, especialmente na reta final. A resposta, obviamente, foi repleta de elogios. Obviamente não pelo Rio de Janeiro ser uma cidade linda, mas por não haver outra resposta a dar. Cruise não veio ao país para uma visita, veio a trabalho. Ser político faz parte de suas obrigações, mais até para alguém que tem ainda o compromisso de ser um dos produtores de Operação Valquíria. Falar mal do país, naquela situação, seria como dar um tiro no próprio pé. Entretanto, tal insistência é de pensar. Por que precisamos saber o que Tom Cruise acha do Brasil? Mesmo que tenha sido uma resposta sincera, que mudança isto traz? Um afago ao ego, talvez? Ou o velho complexo de vira-latas sendo materializado, quando precisamos que alguém de fora nos elogie para que possamos nos sentir satisfeitos? A resposta está com você, caro leitor.
No que você se interessa ao ler sobre Tom Cruise no Brasil, em sua opinião sobre o país ou em seus projetos cinematográficos, como Operação Valquíria? O Adoro Cinema, já há quase nove anos, leva o cinema a sério. Por isso mesmo os passeios de Cruise e família pelo Rio jamais foram aqui noticiados, assim como também não serão os comentários sobre o país. Isto não importa, ao menos para nós. Se você busca isto, pare de ler agora. Ao longo da entrevista Cruise explicou o porquê de fazer Operação Valquíria: o desconhecimento sobre a história, classificada pelo ator como fascinante, aliado ao conhecimento prévio de fazer um suspense. "Stauffenberg não buscava redenção, seria até arrogante ter uma", declarou.
Como forma de preparar o elenco sobre o contexto histórico, a Alemanha do III Reich, foi preparado um documentário sobre a resistência alemã da epoca. O ator ainda declarou que buscava um filme clássico, que resgatasse o espírito de filmes como Fugindo do Inferno. Para quem busca fidelidade histórica, Cruise responde que este não é um documentário. Para bom entendedor, meia palavra basta. A divisão entre ser produtor e também ator veio à tona, com a ressalva do desafio que é exercer ambas as funções também pelo lado da análise de roteiros. Como dirigente da United Artists, é também sua responsabilidade o sucesso do filme. Não é à toa que o ator desembarcou no Brasil para divulgar seu lançamento.
Apesar de Cruise ter declarado que Operação Valquíria foi muito além das expectativas internas em relação à bilheteria, fato é que o desempenho fora da America do Norte tem dado fôlego ao filme. Nos Estados Unidos o longametragem arrecadou em torno de US$ 81 milhões, superando por pouco o orçamento de US$ 75 milhões. Maiores comentários sobre as qualidades, e defeitos, do longametragem você poderá conferir na semana que vem, aqui no Adoro Cinema.