Conheço muitas pessoas que têm o costume de em determinadas situações cotidianas procurar sempre uma palavra que possa resumir ou definir algum conceito, opinião ou caso qualquer. Eu mesmo sou uma dessas pessoas. Isso aconteceu comigo hoje, quando saí da cabine de Arquivo X - Eu Quero Acreditar. Pensei que talvez um "frustrante" poderia ser significativo ou um "decepcionante" poderia representar um certo tipo de conforto. Foi quando encontrei o temível "lamentável", que mostrou-se cabível e sincero perante a minha feição sonolenta e perdida.A expectativa era inevitável. Afinal, foram seis anos de hiato que separaram Fox Mulder e Dana Scully da legião assombrosa de fãs espalhados pelo mundo todo. Uma intensa onda de comentários, indagações e especulações em torno da trama, que prometia manter o tom misterioso da série e, assim, dar um sabor ainda mais especial para o retorno das investigações da dupla intrigada pela escuridão.O que se vê é pouco menos de duas horas de pura enrolação, monotonia e nostalgia. Apoiada no sucesso construído na década de 90 e ainda contando com o carisma dos personagens (que já nem parecem tão carismáticos assim), a produção rasteja para chegar a algum lugar e, no fim das contas, acaba não chegando. Não serei injusto de deixar de mencionar alguns pontos que são, de fato, interessantes. No entanto, são fatores que não conseguem salvar um filme cansativo e sem atrativos a não ser para seu público mais fiel.A começar pelo roteiro, Arquivo X - Eu Quero Acreditar não apresenta nem ao menos um enredo forte que possa sustentar um investigação intrigante. Houve momentos em que, sinceramente, senti raiva dos personagens e do desenrolar da trama, pois a mesmice é escancarada em cima do responsável pelas pistas, o ex-pedófilo padre Joe. Aliás, talvez o tal padre tenha se mostrado um dos poucos pontos positivos do filme. E não me refiro a seu personagem em si, mas à relação religiosa e o conflito criado entre ele e Scully, que acaba dando uma sobrevida em muitos momentos que a trama parece estar adormecida.Também é positiva e interessante a idéia de se trabalhar os conflitos de Mulder e Scully de maneira separada. A dupla se une em alguns momentos mas, por muitos outros, precisa enfrentar individualmente seus próprios conflitos desenvolvidos ao longo da história. Esses tais "vários acontecimentos" que são apresentados no longa poderiam dar uma bela sustentação ao roteiro e conduzí-lo de maneira atrativa ao seu desfecho, mas não é o que acontece. Os fatos que os agentes enfrentam e suas soluções apenas reforçam a idéia de que uma grande monotonia toma conta do desenrolar da trama, devido à simplicidade e a falta de elaboração de argumentos que funcionariam como suspense em torno da história e das cenas mais instigantes do filme.Quanto à volta das personagens, nada de muito chamativo. Pelo contrário. Como é chato e irritante ver Mulder e Scully discutindo relação e falando sobre "não desistir" e "eu quero acreditar". Uma mistura de sensacionalismo com idealismo barato que chega a enjoar e transforma um bom propósito da volta da dupla em um romance ingênuo e maçante. De bom mesmo, fica o comentário para o tom sarcástico de Mulder adotado em muitas falas do começo do filme, artifício que ele perde conforme investiga o caso. Além disso, apesar de servir para agradar mais aos adeptos da série, a aparição de Skinner e as citações ao passado de Mulder e Scully são positivos e também ajudam a reviver uma quase apagada chama de qualidade do longa em algumas cenas.A direção de Chris Carter também não acrescenta nada de inovador ou interessante, a não ser pelas boas montagens paralelas no início do filme e na cena da caçada ao suspeito. Em ambas as seqüências, é interessante ver como o diretor trabalha o suspense e busca ligar os fatos das situações descritas nas cenas, já que estas estão relacionadas. No mais, uma seqüência de planos simples e de abordagens convencionais decorrentes da linguagem do seriado. Até aí, nada que comprometa, já que a proposta de reviver a dupla e sua relação um tanto quanto conturbada, teoricamente, foi seguida. No entanto, em um aspecto geral, a verdade é que Arquivo X - Eu Quero Acreditar serviu mais como uma volta nostálgica do que como um novo projeto sério e criativo.O elenco não ajuda, mas não atrapalha. Sinceramente, a qualidade dos atores poderia até ter sido pior ou melhor, mas esse não é o fator mais preocupante do longa. Dentro de suas limitações, coadjuvantes e protagonistas mostram-se regulares e não comprometem tanto. Enquanto David Duchovny e Gillian Anderson buscam não fugir da linha criada ao longo dos nove anos de série (e até que conseguem, de certa forma), Amanda Peet, o rapper Xzibit e Billy Connolly oscilam e demonstram simplicidade, apesar de incomodarem por alguns momentos de exagero desnecessários. Enfim, atuações descompromissadas que não conseguiriam salvar uma produção já naufragada.Não há muito o que procurar em Arquivo X - Eu Quero Acreditar. Existem sim pontos positivos que merecem ser lembrados, mas nada que se destaque muito. Para ser mais preciso, fica aquela indesejável sensação de que "ficou faltando alguma coisa". De uma aguardada volta com conteúdo e elementos para estimular a criatividade do público, o segundo filme da franquia se revelou uma literal frustração melancólica e deixa a desejar, infelizmente. Muito pouco para quem um dia colecionou Globos de Ouro, Emmy e outros tantos prêmios pelo mundo.
Sonolento, novo "Arquivo X" decepciona após seis anos de espera