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    Kiefer Sutherland

    Volta por Cima

    A garotada que hoje vibra pelo agente Jack Bauer na série 24 Horas vêem em Kiefer Sutherland um astro incontestável. Tanto a série quanto o ator são um fenômeno no mundo inteiro, já estão na sexta temporada, ganharam uma pororoca de prêmios e há planos, bem concretos, das aventuras do agente antiterrorismo migrar para a telona em 2008. Onde o sucesso por certo vai ser reincidente. O que pouca gente sabe é que nosso amigo Kiefer já foi um dos grandes astros de Hollywood e que viveu uma ascensão tão espetacular quanto uma queda pra lá de retumbante. Literalmente Kiefer foi do céu ao inferno. De astro à coadjuvante de segunda e a astro novamente. Bem vindos ao arquivo confidencial de mr. Kiefer "Bauer" Sutherland.Kiefer William Frederick Dempsey George Rufus Sutherland nasceu na psicodélica Londres de 1966, filho de uma respeitada atriz de teatro e do grandalhão, também ator, Donald Sutherland. Mesmo não tendo muito contato com o pai famoso - aos quatro anos a família se dissolveria - o futuro ator passou a infância fazendo os trabalhos da escola nos camarins onde a mãe se apresentava. Óbvio, a semente estava plantada.Depois de aparecer em três filmecos o jovem Sutherland teve sua primeira boa chance em Conta Comigo, rodado em 86. Na curiosa e sensível história onde um grupo de jovens atravessa a cidade para ver um homem morto Kiefer arrancou altos elogios do diretor Rob Reiner e começou a se destacar. Até aí o atorzinho era apenas mais um moleque do então chamado Brat Pack (um amontoado de jovens promessas que incluía Sean Penn, Tom Cruise, Matt Dillon, Emilio Estevez, Nicolas Cage...), mas a partir de Conta Comigo a carreira de Kiefer deslanchou. Vieram Os Garotos Perdidos, onde personificou um vampiro bad boy. Hora de Matar, Renegados Pela Justiça, os pop-westerns Os Jovens Pistoleiros e Jovem Demais Para Morrer, e o hoje cult Linha Mortal, onde contracenaria com sua futura noiva, ninguém menos que Julia Roberts. Nesse ponto exato do tempo, 1990, aos vinte e quatro anos, Sutherland não tinha muito que reclamar. Havia passado do estágio de promessa, já era mais famoso que o próprio pai, seus filmes eram sucesso de público e de crítica e ainda namorava a mulher mais desejada do universo. Sutherland estava no topo, e foi exatamente aí que o trem começou a sair do trilho, exatamente aí que suas verdadeiras 24 horas começaram.A descida da ladeira começou com Kiefer fazendo escolhas erradas, escolhas bem erradas mesmo, trágicas. Filmes que a primeira vista pareciam bons desafios mostraram-se fracassos retumbantes. Hospital de Heróis, Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer, O Silêncio do Lago, O Próximo Alvo e Uma Garota em Apuros de fato não orgulham nenhuma filmografia. Como desgraça pouca é bobagem, seu noivado de sonhos com La Roberts terminou da pior forma possível. A três dias do casamento Julia deu um bico no noivo e foi parar no colo do melhor amigo do rapaz, o hoje sumido Jason Patric. Na rua da amargura e com uma exuberante galhada a lhe enfeitar a testa o rapaz decidiu cair nos braços de sua outra paixão, o álcool. Desprestigiado, mundialmente conhecido como corno e com fama de bebum, o ator passaria praticamente todos os anos 90 acabando com a pouca moral que ainda lhe restava em filmes mais que ridículos como Pânico no Ar, Olho por Olho e Cowboy Away. Não, não se sinta culpado se você não viu nenhum desses filmes, ninguém viu. As únicas exceções foram seus papéis em Os Três Mosqueteiros, no confuso e excelente Cidade das Sombras e algumas pontas mínimas em Questão de Honra e Tempo de Matar. Por esses tempos a atividade principal do ator era, vejam só, laçador de bois em concursos de rodeios. Trabalho que levou tão a sério que chegou a ganhar alguns campeonatos.Kiefer seguiu direitinho o Manual do Artista Decadente. Começou a aparecer em jornais - uma prisão por dirigir embriagado aqui, um quarto de hotel detonado ali, um paparazzi ensopapado acolá - criou um selo musical underground e começou a divulgar manias exóticas, como a de colecionar tatuagens e guitarras (ele tem dezenas, todas raríssimas). Hoje Sutherland empresaria uma banda de rock, a Rocco de Luca & The Burden, cujo membro mais famoso é ele mesmo, que não toca nada e só cuida dos contratos. E como todo bom ator decadente que já foi algo na vida, KS também foi parar na TV. E essa curiosamente foi a sua salvação.De Rock Hudson a Michael J. Fox, a TV têm sido a bóia salvadora de muita gente. Considerada uma "mídia menor" nos EUA, quem vai para a televisão - geralmente para atuar em séries - vai porque de algum modo perdeu seu espaço na linha de frente do cinema. Não deixa de ser uma espécie de aposentadoria artística, mas é melhor estar na TV do que não estar em lugar nenhum, até um malabarista de sinal concorda com isso. Criado pelos roteiristas Joel Surnow e Robert Cochran, 24 Horas tinha uma premissa interessante: mostrar em tempo real as 24 Horas, segundo a segundo, de um dia especial (ruim) na vida de um agente antiterror. Com 38 anos e uma carreira combalida, é claro que Sutherland não fez doce e de pronto aceitou o convite para ser o protagonista da série. Bem, o resto é história. A série fez um sucesso estrondoso e KS se empolgou tanto pelo negócio que hoje, além de ator principal, é também produtor-executivo do seriado, que está atualmente na sexta temporada. Depois de 24 Horas até as grandes produções cinematográficas voltaram a lembrar do ator, seja emprestando sua voz a um maníaco que aterroriza Colin Farrell no thriller Por um Fio, seja ao lado de Michael Douglas como um investigador em Sentinela, Kiefer Sutherland está voltando aos jardins suspensos de Hollywood. E tudo parece ser uma mera questão de tempo.

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