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    Lobisomem na Noite aposta em “carta de amor aos monstros” que diverte, assusta e refresca ares da Marvel (Opinião)
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Werewolf by Night já está disponível no catálogo do Disney+.

    O Universo Cinematográfico da Marvel foi encabeçado despretensiosamente por um enigmático e falastrão Tony Stark (Robert Downey Jr.). Desde então, com a iniciativa Vingadores e outras diversas equipes vindas direto dos quadrinhos, o emaranhado de filmes e séries comandado por Kevin Feige tomou diversos rumos.

    Naturalmente, a fórmula que sustenta uma das empreitadas cinematográficas mais lucrativas de Hollywood se tornou exaustiva. É comum que nesta quarta fase do estúdio - a forma como a empresa divide as grandes sagas - o público esteja cansado de alguns maneirismos, bem como repita continuamente que esperam por algo novo nas redes sociais.

    Não apenas pelo apelo da audiência cativa, mas também para angariar novos públicos, a diversidade tem sido uma das empreitadas da Marvel, mesmo que a inclusão ainda não seja expressiva sem meas culpas ou um certo buchicho dos fãs conservadores. Mas esse é um tema para outra conversa.

    É neste momento em que as tentativas de inovar, ou pelo menos sair do previsível, começam a pipocar nas telas. Tivemos um flerte com o terror em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura pelas mãos de Sam Raimi. Vimos a violência tomar conta das sequências de Cavaleiro da Lua, enquanto a trama abraça alguns conceitos da psique humana.

    Crescemos com Kamala Khan (Iman Vellani) e aprendemos com sua cultura em Ms. Marvel - aliás, um ótimo experimento estilizado da Casa das Ideias. E ainda estamos acompanhando as desventuras de uma advogada solteira que da noite para o dia, literalmente, se torna uma Hulk.

    Ainda que esses últimos projetos tentem burlar as regras do seu próprio local de origem, os gostos e sabores propostos ainda não são totalmente novos. Para quebrar essa prática e mostrar que está atenta aos apelos que ecoam tanto na internet, Lobisomem na Noite foi concebido.

    Terror da Marvel

    Inspirada no ser mítico que também está atrelado à editora, a atração abre portas para um novo formato dentro do MCU. Descrito como um especial de Halloween, o projeto também precede uma aventura natalina protagonizada pelos Guardiões da Galáxia - encarada por James Gunn, diretor da franquia, como o epílogo da Fase 4.

    Majoritariamente em preto e branco, a trama acompanha uma noite escura e sombria, em que uma cabala secreta de caçadores de monstros emerge das sombras e se reúne no Templo Bloodstone após a morte de seu líder. Em um estranho e macabro memorial à vida do líder, os participantes são empurrados para uma misteriosa e mortal competição por uma relíquia poderosa — uma caçada que, em última análise, os colocará cara a cara com um monstro perigoso.

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    O projeto marca a estreia de Michael Giacchino como diretor de filmes - um média-metragem no caso. Anteriormente, ele conduziu um episódio de Star Trek: Short Treks e fez o curta Monster Challenge.

    Em sua empreitada de estreia, o cineasta parece unir a sua habilidade mais explorada, a condução da trilha sonora, com uma direção extremamente dinâmica e concentrada nos detalhes. Ao optar por uma estética que se apoia em tons monocromáticos, o diretor parece evitar grandes distrações de um possível contraste vibrante e colorido para que cada movimento e cada olhar sejam acompanhados com o máximo de atenção.

    Quando há cor, antes dos derradeiros minutos finais, é apenas para dizer o óbvio através de imagens: o objeto de desejo do grupo de caçadores é tão poderoso que não poderia ficar dentro da limitada paleta de pretos e brancos. E mais: ainda há uma correlação com o conceito de magia vista no MCU - dos poderes de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) ao perigoso Darkhold.

    Sem a obrigação de se estender como uma película comum, Lobisomem na Noite também escolhe apresentar a narrativa pela simplicidade. Não há grandes reviravoltas, apenas um deleite de imagens bem conduzidas e o foco no trio de protagonistas. A “carta de amor aos monstros", como disse Michael anteriormente, está impressa nas diversas homenagens aos anos 1930 e 1940. Afinal, a escolha estética também se atrela ao período.

    Estas décadas comportaram grandes clássicos do cinema de horror, incluindo Drácula (1931), Frankenstein (1931), O Médico e o Monstro (1932), A Múmia (1932) e O Lobisomem (1941). Com as mais variadas metáforas e analogias, os longas da época refletem as consequências da crise de 1929, com a quebra da bolsa, além do aperfeiçoamento de efeitos práticos e a influência do expressionismo alemão.

    “Filmes de monstros para mim não passam de alegorias para pessoas com problemas”, reflete Giacchino. “Toda vez que eu assistia King Kong ou O Lobisomem, e todos os perseguiam com tochas, tentando matá-los, eu sempre me sentia mal por eles. Eu ficava tipo, 'Gente, ele não quer fazer isso! Ele não quer ser violento! Ele tem um problema e precisa de ajuda.'”

    Outro aspecto que se destaca em Lobisomem na Noite é a sua liberdade na violência. O cineasta esperava que o especial fosse ganhar classificação +18, devido ao excesso de sangue na tela e das sequências intensas. No entanto, a escolha estética em permear a narrativa em preto e branco fez com que o filme seguisse as demais produções da Marvel.

    Sem perder a graça que levou as produções da Marvel adiante, afinal, as fórmulas são seguidas por um motivo, o especial de Halloween se sustenta como um respiro muito bem-vindo ao extenso catálogo do estúdio. Ao pensar no gênero de terror, que ganha doces pitadas de afeto com um Homem-Coisa cativante, Feige e Giacchino completam a missão de entregar algo fresh, que realmente vai levar algumas discussões a outros lugares.

    Ao fim, a presença do cineasta responsável pela trilha sonora de Homem-Aranha: Sem Volta Para CasaUp - Altas Aventuras e Batman é mais um acerto do estúdio. Em uma empresa que é conhecida por limar seus realizadores a fim de estabelecer conexões narrativas, a escolha de Michael reflete novos tempos. E mais: o fato de ser um compositor extremamente hábil colabora para o ar épico da narrativa, que enquanto se estabelece como algo totalmente novo para uma audiência calejada de heróis, ainda abraça a nostalgia e faz belas homenagens - com direito a banhos de sangue, escolhas visuais sensíveis e viscerais, sem deixar a diversão de lado.

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    Com seus pouco mais de 50 minutos, Lobisomem na Noite é um exercício de motivação para refrescar os ares da Marvel que pode abrir portas para mais experimentações. Com uma máquina cinematográfica como essa, seria burrice não apostar em inovação, em explorar este multiverso magnífico que o cinema propõe. Se a audiência esperava por algo novo, bem, aqui está um belo exemplar.

    O especial de Hallowen já está disponível no Disney+.

    Lobisomem na Noite
    Lobisomem na Noite
    Data de lançamento 7 de outubro de 2022 | 1h 00min
    Criador(es): Michael Giacchino
    Com Gael García Bernal, Laura Donnelly, Harriet Sansom Harris
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    3,7
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