Jean-Luc Godard nos deixou no dia 13 de setembro de 2022, aos 91 anos, na Suíça. Em comunicado à imprensa, a família afirmou que o cineasta partiu de forma pacífica, cercado por seus entes queridos. A causa teria sido suicídio assistido, procedimento legal na Suíça. Considerado um dos pioneiros do movimento francês conhecido como Nouvelle Vague, ele deixou um legado indispensável para o cinema.
Nouvelle Vague foi um dos movimentos mais importantes para o cinema mundial, criado na França no fim dos anos 1950, tendo Godard com um de seus fundadores, ao lado de diretores como Truffaut, Claude Chabrol, Eric Rohmer e Jacques Rivette. O movimento reinventou diversos paradigmas de estética nas produções cinematográficas do mundo inteiro.
Entre algumas das características que definem a estética do movimento, inovadoras para seu tempo, podemos citar os cortes bruscos, câmera na mão e diálogos mais existenciais. O estilo influenciou diretores ao longo das décadas seguintes, e estabeleceu nomes como o de Jean-Luc Godard na história definitiva do cinema.
O AdoroCinema escolheu algumas obras do cineasta, que representam sua importância para o cinema ser do jeito que conhecemos hoje.
Acossado (1960)
Primeiro longa metragem do diretor, Godard quebrou as regras estabelecidas anteriormente, ao filmar com a câmera na mão. Em Acossado, após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) ruma para Paris. No caminho, ele mata um policial que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, e em Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana, a escondê-lo em seu apartamento, passando a se relacionar com a jovem.
Bando à Parte (1964)
Em Bando à Parte, Arthur (Claude Brasseur), Odile (Anna Karina) e Franz (Sami Frey) formam o triângulo do filme. Franz é um rapaz boa pinta que conhece Odile em uma aula de inglês. Ela conta para o jovem que o seu patrão guarda uma fortuna no quarto. Interessado pela grana, Franz resolve falar com seu amigo Arthur, que está devendo dinheiro para o tio. Os dois rapazes vão seduzir a moça e tentar convencê-la a auxiliar no roubo.
O Demônio das Onze Horas (1965)
Em O Demônio das Onze Horas, Ferdinand Griffon (Jean-Paul Belmondo) está entediado com a sociedade parisiense. Certa noite, ele deixa a esposa em uma festa e volta sozinho para casa, onde encontra uma antiga amiga, Marianne Renoir (Anna Karina), trabalhando como babá dos seus filhos. No dia seguinte, ele aceita fugir com a bela para o Mediterrâneo, mas o casal vai ser perseguido por mafiosos.
Masculino, Feminino (1966)
Em Masculino-Feminino, Paul (Jean-Pierre Léaud), um jovem que acaba de abandonar o serviço militar francês, é agora um militante contra a Guerra do Vietnã desiludido com a vida. Enquanto Madeleine (Chantal Goya), sua namorada, tenta uma carreira como cantora pop, ele se isola mais a cada dia.
Duas ou Três Coisas Que eu Sei Dela (1967)
Em Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela, Juliette Janson (Marina Vlady) é uma dona de casa casada, mãe de família, que divide sua rotina entre os afazeres domésticos e a prostituição. O longa se passa em uma Paris dos anos 1960, com uma sociedade extremamente consumista, indiferente à Guerra do Vietnã e aos males do mundo.
Eu Vos Saúdo Maria (1985)
Eu Vos Saúdo Maria foi "censurado" no Brasil pelo então presidente José Sarney, sob alegações de ofender a fé católica. Mesmo após o fim da Ditadura Militar, qualquer filme que fosse exibido no país, deveria passar pela avaliação da chamada Divisão de Censura de Diversões Públicas da Polícia Federal, a chamada "Censura Prévia". Ela só foi abolida após a Constituição brasileira de 1988. A censura sob o filme gerou tremenda curiosidade em torno da obra, que mesmo proibida, chegou a ser exibida em Universidades.
Marie (Myriem Roussel) é uma estudante que joga basquete e trabalha no posto de gasolina de seu pai enquanto Joseph (Thierry Rode) trabalha como taxista. Ao saber da gravidez de Maria, ele a acusa de traição. Gabriel (Philippe Lacoste) tenta convencê-lo a aceitar os planos divinos. Paralelamente, um professor de ciências que estuda a origem da vida na Terra se envolve com uma aluna, com quem mantém intensas discussões filosóficas.
Imagem e Palavra (2018)
Último longa de Godard, Imagem e Palavra parte de montagens de imagens para refletir sobre aspectos do cinema e do mundo. Colando cenas de filmes, de reportagens, de vídeos caseiros e mesmo de desenhos, o cineasta aborda as funções do tempo e do espaço, utilizando em particular o caso das imagens sobre o mundo árabe de como são percebidas pelo mundo ocidental.
Entre outras obras notáveis que podem ser citadas, temos ainda Uma Mulher É Uma Mulher (1961), O Pequeno Soldado (1963) e O Desprezo (1963), com Brigitte Bardot, além de outras dezenas de filmes celebrados. Frequentemente estudada enquanto estética, a obra de Godard também pode ser analisada por diversas perspectivas, como a de gênero, tendo a forma como o cineasta representava suas personagens femininas, elemento de eterna discussão dentro dos estudos feministas.
Godard se vai, mais sua obra permanece, sendo constantemente debatida por todos aqueles que também dedicam suas vidas à sétima arte.