Nesta terça-feira (13), morreu, aos 91 anos de idade, Jean-Luc Godard; diretor, roteirista e crítico de cinema que se destacou como pioneiro no movimento dos filmes franceses da Nouvelle Vague, dos anos 1960. Sem causa de morte divulgada, a notícia foi confirmada por sua família através de um comunicado: “Não haverá nenhum cerimonial oficial. Jean-Luc Godard morreu pacificamente em sua casa cercado por seus entes próximos. Ele será incinerado”.
O presidente da França, Emmanuel Macron, prestou homenagem ao diretor nas mídias sociais, afirmando: “[Godard] é o mais iconoclasta dos cineastas da ‘New Wave’, aquele que inventou uma arte resolutamente moderna e intensamente livre. Estamos perdendo um tesouro nacional, um olhar de gênio.”
Em seu último filme, Gordard apresentou The Image Book – um boletim caleidoscópico de 200 anos de história – durante uma competição no Festival de Cinema de Cannes em 2018, sendo celebrado com a Palma de Ouro Especial. Em 2010, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas o concedeu um Oscar Honorário, ao qual ele recusou. Muitos artistas da área o apontam como o responsável por mudar o vocabulário do cinema.
“Houve cinema antes de Godard e depois de Godard”, declarou Luigi Chiarini, presidente do Festival de Cinema de Veneza, pouco depois do lançamento de Breathless em 1960. Desde Orson Welles, com Cidadão Kane 20 anos antes, não havia um diretor estreante que transformasse a gramática do cinema de maneira tão radical.
A carreira de Jean-Luc Godard
Em Breathless, Godard guiou o diretor de fotografia do filme como se fosse uma reportagem para TV, com uma câmera na mão, algo quase inédito naquela época. O ritmo cinético foi aprimorado ainda mais pelo uso de cortes de salto feito pelo cineasta, a fim de impulsionar a ação e alimentar os atores com diálogos improvisados durante as filmagens. Este continua sendo o longa mais acessível de Godard e, para muitos, o mais bem realizado de sua carreira de mais de 50 anos, que conta com cerca de 30 filmes, entre eles, Acossado (1960), Made in USA (1966), Rei Lear (1987), Para Sempre Mozart (1996), Adeus à Linguagem (2014) e Imagem e Palavra (2018).
Entre os principais prêmios do cinema europeu, Jean-Luc ganhou o Urso de Ouro de Berlim pelo hipnótico filme de ficção científica, Alphaville (1965), e o Leão de Ouro de Veneza pelo erótico Nome: Carmen (1983). No entanto, Godard nunca recebeu uma indicação ao Oscar. Grande crítico de Hollywood, tinha o costume de ausentar-se quando ganhava alguma prêmio. Em suas críticas, ocasionalmente ele destacava Steven Spielberg, alegando que seus filmes não tinham mérito artístico. Tais opiniões o levaram a brigar com os seus contemporâneos da Nouvelle Vague, como François Truffaut, Eric Rohmer e Claude Chabrol.
A reputação de Godard como um dos membros mais influentes da Nouvelle Vague foi cimentada em meados da década de 1960, com uma série de filmes populares e aclamados pela crítica. Seu maior sucesso comercial foi com o longa-metragem Desprezo, estrelado por Brigitte Bardot como a esposa de um roteirista desiludido (Michel Piccoli). Produções como My Life to Live, Alphaville, Pierrot le Fou e Masculine, Feminine revelaram o talento do cineasta para misturar estéticas incultas e eruditas.