É longa a lista de produções brasileiras que retratam o período colonial e a vida da família real portuguesa, mas A Viagem de Pedro encontra um caminho próprio para representar a história. Com Cauã Reymond no papel de Dom Pedro I, o longa dirigido por Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças) mergulha na mente conturbada do imperador com uma trama claustrofóbica, que busca desconstruir o mito e desvendar o homem.
A história do filme se passa no período em que Dom Pedro I saiu escorraçado do Brasil e voltou a Portugal a bordo de uma embarcação inglesa. Odiado pela população daqui e atormentado pela morte da esposa, a imperatriz Leopoldina, Pedro ainda precisa enfrentar o irmão, usurpador do trono, e nomear sua filha como rainha - uma combinação de circunstâncias que o tornaram uma bomba relógio. Assista à entrevista em vídeo do AdoroCinema:
“Dom Pedro era liberal até a primeira vírgula. Quando ficava inseguro, ele virava um ditador. Nosso filme convida o espectador a conhecer o humano e não o herói e a imaginar o que aconteceu nesse período. Apresentamos um Dom Pedro em dúvida, sensível”, explica Cauã Reymond em entrevista exclusiva ao AdoroCinema. São poucos os registros históricos deste período específico da história - um solo fértil para a imaginação da diretora e roteirista Laís Bodanzky mesclou fatos históricos à ficção.
“Não há comprovação de que Dom Pedro tinha sífilis, por exemplo, mas ele tinha todas as características. Uma delas eram os delírios. Após a morte da Leopoldina, ele ouvia a voz dela, isso não fui eu que inventei. Ele tinha epilepsia, estava impotente, coisa que para ele era inadmissível porque a virilidade era uma questão de honra e de poder. Nada disso foi inventado”, disse a cineasta em entrevista ao AdoroCinema.
Falar sobre o passado para entender o presente
Um dos aspectos mais interessantes sobre filmes históricos é a forma como nos ajudam a entender o presente e como chegamos até aqui - quesito importante para Cauã e Laís. “Falamos sobre machismo, masculinidade tóxica, racismo estrutural e, principalmente, desconstruirmos a imagem desse Dom Pedro que já foi retratado de outras maneiras. A história de Dom Pedro com Leopoldina, por exemplo, tem uma violência muito grande. Muitas teorias dizem que ela morreu quando ele a empurrou escada abaixo. Não temos como comprovar, mas reimaginamos como foi esse passo a passo”, analisa Cauã.
Para apresentar uma leitura mais crítica da história, Laís aposta também na voz dos personagens que estão ao redor de Dom Pedro. Além da relação conturbada com Leopoldina e Domitila, figuras históricas já conhecidas, pessoas escravizadas recém-libertas também estavam na embarcação e o imperador mantinha com elas uma relação complexa.
“O maior desafio foi como trazer um olhar contemporâneo para um Brasil de 200 anos atrás. É um exercício, um olhar crítico, que precisamos fazer o tempo inteiro. O filme traz questionamentos para pensarmos sobre feminismo e sobre o movimento negro brasileiro revisitando a história. Não dava para reproduzir a história clássica desse ‘herói’ e essa opressão sem trazer a história daquelas pessoas que estavam ali, quais eram suas angústias, seus sonhos. Isso era muito importante para mim porque não está nos registros históricos”, explicou Laís.
Cauã Reymond complementa, relembrando que a proximidade entre Dom Pedro I e as pessoas escravizadas também era muito menos “romântica” do que se costuma pensar. “Dom Pedro se dizia um imperador do povo, mas existia uma separação entre eles. Ele acha que não é racista e que é liberal, mas o filme mostra que ele não estava tão próximo assim e que usufruia do poder como queria”, reflete o ator.
A Viagem de Pedro ganhou sessão especial no Festival de Cinema de Gramado e estreia nos cinemas brasileiros de 1 de setembro de 2022.
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