Considerado o maior evento de filmes franceses fora da França e somando mais de um milhão de espectadores em todo o Brasil desde sua criação, o Festival Varilux de Cinema Francês está chegando ao fim de mais uma edição, que começou em 21 de junho e vai até amanhã (6). A programação de 2022 inclui 17 longas-metragens inéditos e sete séries, com exibições em mais de 50 cidades.
Como de costume, o AdoroCinema foi bater um papo com a delegação artística que estava hospedada em Copacabana, no Rio de Janeiro. A primeira parte desta cobertura foi dedicada ao ator Gilles Lellouche (O Destino de Haffman) e ao diretor Régis Roinsard (Esperando Bojangles). Aqui, na segunda parte, você vai conferir o resultado da entrevista com Carine Tardieu, diretora de Os Jovens Amantes.
No filme, Shauna (Fanny Ardant) e Pierre (Melvil Poupaud) se reencontram no corredor de um hospital 15 anos após o primeiro contato que tiveram. Ela tem 71 anos, ele tem 45. Os dois ficam hipnotizados um pelo outro e se reconectam. Mãe de Cécilia (Florence Loiret Caille), avó e viúva, Shauna quer se reafirmar enquanto mulher plenamente capaz de viver um grande amor. Já Pierre é um pai de família casado com Jeanne (Cécile de France). Apesar da diferença de idade, os dois seguem acreditando no amor.
Como você se envolveu com o projeto? É uma prioridade sua dirigir histórias sobre mulheres?
"Eu não procuro necessariamente contar histórias sobre mulheres, mas às vezes isso se impõe a mim. Neste caso, eu não pensei em falar sobre envelhecimento feminino. É um filme que chegou a mim de forma muito especial. Não fui eu quem o iniciou. Originalmente, havia outra diretora chamada Solveig Anspach, que morreu em 2015. Ela era minha amiga e queria contar essa história porque aconteceu com sua mãe. Um dia, sua mãe veio vê-la dizendo: 'Eu me apaixonei.' Ela tinha 75 anos na época, e o homem tinha a idade da filha. Solveig ficou chocada e preocupada, mas muito emocionada e feliz por sua mãe.
"Quando começou a escrever o roteiro, Solveig já estava com câncer e sentia que era o fim, então fez sua coroteirista, Agnès de Sacy, prometer que o filme sairia mesmo sem ela. E ela queria que fosse dirigido por uma mulher. Como eu conhecia Solveig, Agnès e o produtor Patrick Ullmann, eles me ofereceram o projeto. No começo, eu disse: 'Oh meu Deus, é difícil assumir o projeto de outra pessoa.' Mas finalmente aceitei porque havia temas que me tocavam, como o fato de que podemos amar com qualquer idade e de que, a cada vez que amamos, é como se vivêssemos um primeiro amor. Amor é sempre amor, é sempre pela primeira vez.
"Também havia a possibilidade de abordar a relação mãe-filha, relações pais-filhos em geral. De repente sua mãe se apaixona, e você está sozinha. Isso te manda de volta para sua própria solidão e te confunde, pois ainda vemos nossas mães como mulheres que não têm sexualidade. Então havia muitas coisas que me interessavam. E é verdade que o tema do envelhecimento feminino inevitavelmente está na natureza do filme."
Fanny Ardant foi sua primeira escolha para o papel de Shauna em Os Jovens Amantes?
"Foi importante para mim trabalhar com uma atriz de 70 anos que assumisse plenamente sua idade e que aceitasse que eu a filmasse com rugas, da forma como ela é, e não uma atriz que tivesse recorrido à cirurgia plástica, não uma atriz que gostaria que eu expusesse sua imagem o tempo todo para ser magnífica. Em nossas sociedades atuais, há uma corrida permanente e um medo de envelhecer. Não podemos mais. Eu acho muito bonita uma mulher envelhecida, um corpo, isso diz alguma coisa.
"Eu adorei trabalhar com a Fanny Ardant. O que acho muito forte nela e o que descobri com ela no set é que ela pode, na mesma cena, parecer ter 50 anos porque está radiante, feliz, e de repente, quando algo se abate sobre ela, parecer ter 80 anos. E tem toda a idade dela, justamente, que vem se impor. É muito comovente."
Festival Varilux de Cinema Francês: Ator de Sex Education e filme sobre negacionismo marcam abertura do evento (Entrevista)Você tem alguma cena preferida, que tennha sido a mais marcante de gravar?
"Eu adorei essa filmagem. Os atores principais se deram muito bem. Eu tinha uma equipe que conheço bem, pessoas com quem eu já tinha trabalhado. Mas acabamos presos pelo confinamento. Esperamos, esperamos, esperamos. Quando conseguimos voltar, estávamos todos um pouco febris. 'Será que vamos conseguir?', pensamos. Isso tornou tudo muito intenso, pois estávamos felizes de poder fazer o nosso trabalho.
"Eu tenho muitas e muitas lembranças, cenas magníficas, mas sobretudo aquela em que a personagem da Fanny termina definitivamente com Pierre e o expulsa de casa. A filha então chega, encontra a mãe devastada, aos prantos, e vem pegá-la nos braços. No set, Fanny ficou tão emocionada que, mesmo quando eu cortei, ela não conseguia parar de chorar. Ela estava baqueada. Sim, é forte. No roteiro diz 'Shauna está chorando', mas você nunca sabe até onde o ator pode ir. Foi uma cena muito emocionante."
Para você, qual é a principal mensagem de Os Jovens Amantes?
"São várias. Do ponto de vista político, eu diria que a sociedade deveria parar de ver como tabu uma mulher mais velha com um homem mais novo, enquanto os homens são sempre representados com mulheres mais jovens nos filmes e até na vida."
