Crimes of the Future é o próximo trabalho de David Cronenberg e já tem sido considerado um projeto chocante e polêmico, fazendo com que muitos espectadores abandonassem a sala de cinema durante exibição no Festival de Cannes. Com Kristen Stewart, Léa Seydoux e Viggo Mortensen no elenco, o filme é um body horror sobre evolução humana.
Seguindo a premissa do longa-metragem, uma doença chamada “Síndrome da Evolução Acelerada” faz com que órgãos incomuns cresçam dentro do corpo do protagonista Saul Tenser e sua parceira, interpretada por Léa Seydoux, os remove cirurgicamente na frente de uma plateia ao vivo.
Assim como para o público, a representação de autonomia corporal de David Cronenberg nem sempre foi clara para os atores principais. Além de Kristen Stewart comentar que não sabia o que estava fazendo no longa-metragem, Léa Seydoux também disse que não entendeu muito bem a proposta quando fez sua primeira leitura no roteiro.
“Acho que é isso que David quer. Ele é um observador do próprio trabalho. Tenho que admitir que não entendi bem quando li o roteiro no começo. Para mim, também foi uma metáfora sobre o que é ser um artista, e foi assim que me relacionei com o filme. Como artistas, nós apenas damos tudo — nosso corpo e nossa alma.”
Crimes of the Future: Novo filme de Kristen Stewart promete ser o mais perturbador de todos; conheçaDavid Cronenberg, por sua vez, disse que "realmente não se importava" se Léa Seydoux ou qualquer um de seus atores não entendesse o significado por trás de sua história, pois queria provocar uma performance crua.
“Você escala atores brilhantes que são perfeitos para o papel, e não importa se eles acham que não sabem o que estão fazendo”, afirmou o cineasta. “Eu tive muitos atores dizendo: 'Eu não sei o que diabos estou fazendo', e eu digo, 'sim, mas você continua fazendo isso'. É o que o ator traz.”
Ele continuou: “Não temos discussões, não ensaiamos, não intelectualizamos. Quando vejo o que acontece no set, a menos que haja algo que todo mundo acha que saiu dos trilhos, não digo nada.”
Já para o público, o cineasta explicou a intenção do filme
Embora os atores principais não tivessem noção do que estavam fazendo, o público não ficará na mesma situação. David Cronenberg explicou alguns pontos principais sobre o longa-metragem e disse que o protagonista é um verdadeiro artista apaixonado
“[Saul] Tenser é realmente um avatar, um modelo do artista que está realmente dando tudo o que poderia dar, abrindo-se e dando o que é a parte mais profunda e íntima de si mesmo escondida dentro”, disse Cronenberg. “Ele está oferecendo isso ao seu público e, portanto, sendo incrivelmente vulnerável ao ridículo, à rejeição, ao mal-entendido, à raiva. E para mim, esse é o modelo de um verdadeiro artista apaixonado.”
O diretor acredita que evolução é mais do que a palavra pode explicar. É uma interpretação mais ampla de como pode ser o próximo passo da existência humana e isso nem sempre significa que é uma mudança positiva e eficaz. “Acho que estamos evoluindo, não involuindo. Nossos sistemas nervosos são completamente diferentes dos seres humanos de 100 anos atrás. Acho que o uso de telas, o uso de tecnologia digital realmente alterou nosso sistema nervoso.”
Quando Darwin falou sobre evolução, ele não estava falando sobre isso levando gradualmente a algo superior. Evolução não significa ir para algo melhor, significa algo diferente.
Viggo Mortensen, que já trabalhou com Cronenberg em quatro filmes diferentes e firmou uma parceria de anos, elogiou o diretor por sua capacidade de inspirar confiança em seus atores. “Você percebe que ele tem seus melhores interesses, o personagem que você está interpretando, no coração tanto quanto qualquer outra coisa. Essa confiança permite que você experimente coisas sem questionar muito que, de outra forma.”