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    Brasil no Festival de Cannes 2022: Produtoras brasileiras levam debate sobre diversidade atrás das câmeras
    Aline Pereira
    Aline Pereira
    -Editora-chefe
    Jornalista que ama boas histórias e combina a paixão por cinema e TV com comunicação para mergulhar ainda mais nos universos e personagens que já fazem brilhar os olhos. Pipoca, terror, dramédia e uma pitada de reality são a receita perfeita para todos os dias.

    Festival de Cannes contou com participação de profissionais brasileiras no maior mercado audiovisual do mundo. Ao AdoroCinema, produtoras falam sobre diversidade além das telas.

    Uma das maiores celebrações do cinema no mundo, o Festival de Cannes não só é palco de grandes lançamentos cinematográficos, como também hospeda o maior mercado internacional. Em uma área chamada de Marché du Film, o Festival reúne profissionais “dos bastidores”, da produção à distribuição, com foco nos negócios - e o Brasil estava lá. A edição de 2022 contou com a presença de produtoras do instituto Nicho 54, que conversaram com o AdoroCinema sobre a diversidade por trás das telas.

    Fundado em 2019, o Nicho 54 trabalha na formação e valorização de profissionais negros na área audiovisual e tem um programa voltado à produção-executiva, área que gerencia o processo estratégico de realização dos filmes, do orçamento à organização prática dos projetos. E se o avanço na representatividade nas telas ainda tem um longo caminho pela frente, o assunto é ainda mais complexo quando se trata de diversidade em cargos estratégicos e de liderança.

    “O mercado está caminhando a passos lentos em relação à diversidade e à compreensão de que ter profissionais negros na liderança dos processos criativos e produtivos reflete na tela”, nos diz a produtora Joelma Gonzaga, co-realizadora do programa Nicho Executiva, que levou uma comitiva de profissionais ao Festival de Cannes. Para Fernanda Lomba, diretora-executiva do Nicho 54, a participação de profissionais negros no início e na ponta final da produção são fundamentais para que as mudanças sejam concretas - e duradouras. 

    “É preciso essa participação para entender se as ações são efetivas, se constroem resultados, impactos. Senão, vira algo do tipo ‘vou fazer só porque a moda é discutir diversidade' (...) Existem diversos conteúdos que tentam chegar nisso, mas não conseguem justamente porque não têm essa diversidade em uma sala de roteiro”, explica. 

    Diversidade também faz parte de estratégia de negócios

    O movimento pela representatividade nas telas começa, é claro, como uma luta para que nossa sociedade, em que o racismo é um problema ainda profundo, seja mais justa e igualitária - mas o viés do lucro também está em jogo. “A perspectiva da diversidade vem do campo social, mas vai se transformando também em uma necessidade do mercado. Chegou um momento em que se desgastou a capacidade de as mesmas narrativas serem contadas e continuarem atraindo público”, analista Fernanda.

    Nesse sentido, o Nicho 54 caminha na direção de oferecer a profissionais negros um leque amplo de habilidades para entrada e expansão no mercado, ainda predominantemente masculino e branco. “Hoje, o mercado vê essa crise de conteúdo e está interessado em narrativas plurais e diversas, mas não entendeu que esse resultado vem de um processo em que essa diversidade possa liderar ali dentro, para que essas vozes apareçam”, pontua.

    Mudança em todos os gêneros

    Joelma Gonzaga levanta ainda outro ponto importante: para que a mudança cultural seja efetiva, não basta ter diversidade apenas em obras que tratem dessa temática. “Antes de tudo, sou produtora de cinema. De todos os gêneros. Se estamos falando de reformular a cultura, é preciso pensar nos profissionais negros como profissionais que podem estar em todos os departamentos. Por isso, também, me voltei à formação de produtoras-executivas. Porque acho que é uma área que pode mudar muitas coisas. É a função que lida com o processo desde o início, do roteirista até a distribuição, que está na origem de tudo e pode trazer mudanças”, reforça.

    Como exemplo, Joelma cita o sucesso inquestionável de Shonda Rhimes, um dos maiores nomes da TV, responsável por produções como ScandalHow to Get Away With Murder e, mais recentemente, Bridgerton, um dos maiores fenômenos da história da Netflix. Todos esses títulos apostam em um elenco com forte protagonismo negro. “Shonda é uma das produtoras mais poderosas da televisão norte-americana. E o que ela fez foi naturalizar que pessoas negras se vejam na televisão. Elas precisam se ver. Ligar a televisão, ir ao cinema e se reconhecerem. Se as pessoas se veem, consomem muito mais”, explica.

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