Atenção! Este texto contém spoilers
Disponível nos cinemas de todo Brasil, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é o primeiro longa-metragem do Universo Cinematográfico da Marvel a se enquadrar no gênero de terror. A direção de Sam Raimi é um dos principais fatores que direcionam a trama para este canto sombrio do cinema.
Conhecido por seu traço único na cinematografia de horror, o diretor tem trabalhos singulares em filmes que marcaram o gênero, como as películas da franquia A Morte do Demônio, Arraste-me para o Inferno, Darkman: Vingança sem Rosto e até mesmo a trilogia original de Homem-Aranha, em que o diretor inclui diversos elementos tenebrosos ao longo das aventuras do Peter Parker de Tobey Maguire.
Em entrevista ao IndieWire, o roteirista Michael Waldron revelou que ao saber da presença de Raimi no projeto sentiu-se livre para ousar em alguns pontos da narrativa. Como resultado, uma das sequências mais absurdas do filme não foi cortada pelo estúdio, na qual a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) mata brutalmente os Illuminati.
”Escrevi mortes horríveis para esses personagens porque Sam Raimi estava dirigindo, e ele ficou chocado. Me lembro dele ter dito, ‘Podemos fazer isso?’, e respondi, ‘Você pode. Porque é você. Por isso acho que podemos.’ Eu senti muita liberdade para enlouquecer nesse filme porque era Sam na direção”, revela o roteirista.
O escritor ainda acrescenta: “Todos sabemos no que ele [Sam] é bom, então só dei os blocos de construção e alguns dos detalhes de como essas coisas aconteceriam. De qualquer forma, a realização da cena vem direto de sua mente distorcida.”
Assim como estas cenas, outros momentos do longa ainda apresentam questões gráficas intensas de violência e até jump scare. Com isso, surgiu um debate sobre a possibilidade da classificação indicativa do filme estar “errada”.
A classificação indicativa de Doutor Estranho 2 está incorreta?
Primeiramente, vale destacar que nos Estados Unidos, o longa chegou aos cinemas com a classificação PG-13. De acordo com a Motion Picture Association, associação comercial que representa grandes estúdios de Hollywood, a produção ganhou essa classificação por ter “violência e ação, imagens assustadoras e algumas linguagens”.
Costumeiramente, os longas que recebem essa indicação contém materiais que podem ser inapropriados para menores de 13 anos. "Pais são incentivados a serem cuidadosos, alguns materiais podem ser inapropriados para pré-adolescentes", alerta a organização.
Final de Doutor Estranho 2 abraça o caos: Entenda o desfecho de Multiverso da LoucuraAqui no Brasil, a faixa etária mínima recomendada para Multiverso da Loucura é a de 14 anos. Os três eixos de atenção estabelecidos pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública são estes: violência, drogas e sexo e nudez. Os filmes não recomendados para menores de quatorze anos podem conter morte intencional, pena de morte, aborto, erotização, nudez, consumo de drogas ilícita, entre outras questões, claro, de forma branda em relação a filmes com classificações indicativas mais severas (16+ e 18+).
Com o excesso de sangue e violência gráfica, Doutor Estranho 2 pode proporcionar uma experiência angustiante, principalmente aos espectadores mais jovens que estão acostumados ao padrão estabelecido pela Marvel nos últimos anos. Mesmo assim, o filme ainda se mantém no padrão de outras produções que ganharam a mesma classificação indicativa.
Benedict Cumberbatch revela onde estava Doutor Estranho durante WandaVision e outros bastidores de Multiverso da Loucura (Entrevista Exclusiva)Para citar alguns exemplos recentes, todos os seguintes longas são 14+ em território nacional: Escape Room 2: Tensão Máxima, O Iluminado, A Bruxa de Blair, O Exorcista e o próprio Arraste-me para o Inferno.
Em contrapartida, observa-se que a prática atual no Brasil é inserir filmes de terror nas classificações 16+ e 18+, como Invocação do Mal 3, Maligno, It - A Coisa, A Lenda de Candyman, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, entre outros. Nos Estados Unidos, tais projetos ganham o selo R (Restricted), quando menores de 17 anos precisam estar com os pais ou responsáveis para assistir ao filme.
Outro ponto é que para se fazer uma boa história de terror, cineastas não precisam extrapolar os limites do gore, da violência ou da tensão, a ponto do projeto ser direcionado apenas para pessoas acima dos 18 anos.
Marvel terá filmes para maiores?
Kevin Feige, chefão da Marvel, já estabeleceu que o estúdio dificilmente faria produções que ultrapassassem o PG-13, algo que pode ser mudado no futuro com a chegada de heróis mais “adultos”, como Blade.
"Além de Deadpool, que já se estabeleceu como um certo gênero e uma certa classificação que já dissemos que não mexeríamos [...], nunca encontrei uma história, um enredo ou a jornada de um personagem que o PG-13, o tom ou as classificações que temos usado até este ponto nos impediu", disse o executivo durante um painel do Disney+ na Television Critics Association Winter Press Tour de 2021.
"Nós nunca fomos retidos por isso", afirmou. "Se algum dia formos, certamente pode haver uma discussão a ser feita agora que existem outros meios de comunicação, como Hulu, como Star+, mas esse ainda não foi o caso, de [deixar de fazer] histórias que queríamos com a tonalidade e a estrutura de classificação que temos agora."
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura não é apenas um aceno ao gênero de terror, mas também demonstra como o MCU ainda pode explorar múltiplos gêneros em sua jornada. É também um projeto que abre portas para novas possibilidades de linguagem no estúdio. Seguindo os sucessos de Taika Waititi, Ryan Coogler, Destin Cretton, o longa de Sam Raimi reforça como uma direção bem conduzida por ditar filmes únicos nesta rede de super-heróis.