No Ritmo do Coração se consagrou como o grande vencedor do Oscar 2022, levando o prêmio de Melhor Filme e também de Melhor Roteiro Adaptado na cerimônia que aconteceu ontem (27). E as conquistas não pararam por aí: Troy Kotsur foi reconhecido como Melhor Ator Coadjuvante, tornando-se o primeiro homem surdo a faturar uma estatueta da Academia.
A consagração de CODA (no original) na categoria principal confirmou a onda de favoritismo que cresceu absurdamente nas últimas semanas. Dirigido e roteirizado pela americana Sian Heder, o drama musical desbancou Ataque dos Cães, que desde o início era tido como o futuro ganhador do Oscar.
Mas você sabia que No Ritmo do Coração é, na verdade, um remake de um longa-metragem francês lançado em 2014? Trata-se de A Família Bélier, que recebeu seis indicações ao César, a maior premiação da França. Além de concorrer a Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, rendeu à jovem protagonista Louane Emera o troféu de Melhor Atriz Revelação.
Vencedores do Oscar 2022: Veja lista completa de ganhadores da premiaçãoA FAMÍLIA BÉLIER E NO RITMO DO CORAÇÃO TÊM A MESMA HISTÓRIA?
Dirigido por Eric Lartigau, A Família Bélier ilustra bem o amor dos franceses por comédia dramática. Com momentos de extrema sensibilidade e números musicais diferentes do estilo hollywoodiano, a trama segue Paula (Louane), uma adolescente que vive com a família em uma fazenda no interior da França. Tanto seus pais – Gigi (Karin Viard) e Rodolphe (François Damiens) – quanto seu irmão Quentin (Luca Gelberg) são surdos-mudos.
A única que não compartilha da mesma condição, Paula descobre ter talento para o canto, podendo integrar uma prestigiosa escola de música em Paris. Mas como abandonar seus familiares, que precisam dela para traduzir a língua de sinais no dia a dia?
5 filmes franceses que devem ser vistos pelo menos uma vez na vidaJá No Ritmo do Coração desloca a narrativa para Gloucester, uma cidade costeira nos EUA onde vive a família Rossi – formada por Ruby (Emilia Jones), Frank (Troy Kotsur), Jackie (Marlee Matlin) e Leo (Daniel Durant). Ruby é a única pessoa que não tem deficiência auditiva e, por isso, ajuda os parentes com as atividades diárias. Vista como uma estranha em sua escola, ela resolve se juntar ao coral, mas acaba se envolvendo romanticamente com um de seus colegas e começa a fazer amizades.
Com o tempo, ela percebe que tem uma grande paixão por cantar, e seu professor a encoraja a tentar entrar em uma escola de música. Enquanto sua família luta para pagar as contas com o negócio de pesca, Ruby treina para ser aceita na Universidade de Berklee, onde vai poder desenvolver seu dom. Mas, antes disso, ela precisa decidir entre continuar dando assistência a sua família ou ir atrás de seus sonhos.
Por que Hollywood insiste tanto em fazer remakes? (Opinião)Embora A Família Bélier não tenha sido escolhido pela França para disputar a categoria internacional em 2015, as duas tramas são, de fato, muitíssimo semelhantes. O que muda é o idioma oficial da produção, o cenário e, sobretudo, a trilha sonora. Na obra francesa, a protagonista traz para a sua voz vários clássicos de Michel Sardou, cantor e ator francês. Para citar alguns: "Je vole", "Je vais t'aimer", "La Java de Broadway" e "En chantant".
No Ritmo do Coração, por sua vez, reúne canções como "Starman", de David Bowie; "Both Sides Now", de Joni Mitchell; "I've Got the Music in Me", da The Kiki Dee Band; "You're All I Need To Get By", de Marvin Gaye com Tammi Terrell; e "It's Your Thing", dos The Isley Brothers.
ELENCO DE A FAMÍLIA BÉLIER ERA REALMENTE SURDO?
A vitória de No Ritmo do Coração reacende a polêmica em torno do elenco de A Família Bélier. Afinal, Karin Viard e François Damiens não são surdos na vida real. Uma vez escalados para o projeto, eles tiveram que aprender a linguagem de sinais durante cinco ou seis meses, quatro horas por dia. Quanto ao Luca Gelberg, o jovem realmente é PCD, assim como Bruno Gomila – que encarnou o personagem Rossigneux.
No Ritmo do Coração parece ter se atentado à questão da representatividade ao escalar três atores surdos para os papéis principais – Troy Kotsur, Marlee Matlin e Daniel Durant. Curiosamente, a primeira pessoa com deficiência auditiva a conquistar um Oscar foi a própria Matlin: o de Melhor Atriz em 1987, por Filhos do Silêncio.
Oscar 2022: Novas regras mudaram mesmo a premiação? Diversidade avança em alguns pontos, mas para em outrosAo aceitar a honraria de Melhor Ator Coadjuvante, Kotsur usou a linguagem de sinais para prestar homenagem a pessoas surdas, filhos de pessoas surdas e pessoas com deficiência. "Eu só queria dizer que esse prêmio é dedicado à comunidade surda, à comunidade de No Ritmo do Coração e à comunidade de pessoas com deficiência", declarou. "Este é o nosso momento!"
"Eu li um dos livros de [Steven] Spielberg recentemente, e ele disse que a definição de um diretor era 'o melhor comunicador'", continuou o artista. "Sian Heder, você é a melhor comunicadora porque uniu o mundo surdo e o mundo ouvinte", finalizou Kotsur.
Vale lembrar que No Ritmo do Coração está disponível no catálogo do Amazon Prime Video, enquanto A Família Bélier pode ser visto no Globoplay ou no Telecine.