Avisa que ela está de volta! Após quase seis anos de espera e um atraso de dois anos provocado pela pandemia de Covid-19, Samantha Schmütz lança nesta quinta-feira (3) a continuação de Tô Ryca, comédia que levou mais de um milhão de espectadores aos cinemas do Brasil. O filme retoma a história de Selminha Oléria Silva – a SOS –, uma frentista bastante enfezada que deixou seus dias de pobreza para trás ao herdar de seu tio desconhecido uma bolada de R$ 300 milhões.
No primeiro longa, Selminha teve que cumprir o desafio de gastar R$ 30 milhões em 30 dias, sem acumular nada nem contar para ninguém. Em Tô Ryca 2, porém, ela vê sua vida luxuosa ser ameaçada quando uma estranha aparece inesperadamente e alega ser a legítima herdeira da fortuna. Para piorar, ela também se chama Selminha (Evelyn Castro).
Tô Ryca: Sem querer, Marcelo Adnet acerta um tapa no rosto de Samantha Schmütz em vídeo de bastidores (Exclusivo)Diante disso, todos os bens da protagonista são congelados pela Justiça, e sua única fonte de renda passa ser uma singela quantia de 30 reais por dia – ou seja, um salário mínimo por mês. Agora, sabendo como é viver no aperto, ela deve voltar às suas origens e lutar para sobreviver em sua nova rotina. Ao mesmo tempo, ela não pode deixar que sua amada comunidade, Quintino, fique sem sua ajuda financeira.
"É um momento em que a comédia se faz mais até do que necessária", afirma Samantha em entrevista ao AdoroCinema, referindo-se à retomada do cinema nacional depois de um longo período paralisado. "A gente está no meio de várias crises [sanitária, econômica, política], então a gente está precisando de uma dose mais forte de alegria, de injeções de felicidade", defende a atriz, comediante, cantora e compositora.
Segundo Samantha, o grande trunfo do filme está em propor críticas sociais e rir delas. Corrupção, omissão pública, classismo, mobilidade urbana, desemprego e até mesmo enchentes são alguns dos temas abordados em Tô Ryca 2. "A verdade é que a gente está rindo da nossa própria desgraça para poder transformar, ser um agente de mudança através do humor, da arte", diz a intérprete de Selminha. "Nem todos nesse momento têm acesso à sala de cinema, então [espero] que a gente possa pensar maneiras de levar o filme onde ele não chega, a quem não tem condições de pagar."
PARA SAMANTHA SCHMÜTZ, POLÍTICA E ARTE SÃO INDISSOCIÁVEIS
No último ano, com a trágica morte do amigo Paulo Gustavo e de mais de 600 mil brasileiros em decorrência do coronavírus, o nome de Samantha se tornou uma constante nas redes sociais e no noticiário. Ferrenha opositora do atual governo, ela vem criticando a forma como Bolsonaro geriu a pandemia e o desmonte da cultura incentivado pelo presidente. Além disso, a atriz já contestou seus seus colegas de profissão por se isentarem do debate público.
"Isso me acompanha desde sempre", declara Samantha quando perguntada sobre a relação entre humor e política. "O papel do artista é usar sua ferramenta para refletir, criticar, retratar seu tempo, contestar." Ela usa como exemplo seu icônico personagem de Zorra Total: "Eu fazia o Juninho Play como uma crítica aos machistas, a esse homem que trata a mulher como objeto, que invade, que não respeita."
Tô Ryca: Samantha Schmütz fala sobre subúrbio, política e a inspiração de 'Chuva de Milhões' (Exclusivo)Mais recentemente, Samantha imprimiu toda a sua indignação em seu primeiro single, intitulado "Edifício Brasil" e feito em parceria com Tropkillaz. "Na minha música, a gente fala da violência contra a mulher, do caso do menino Miguel, que foi deixado no elevador pela patroa. A gente sabe que, se fosse ao contrário – se Mirtes tivesse deixado o filho da patroa morrer –, ela já estaria apodrecendo na cadeia", declara Samantha, mencionando o caso do garoto de 5 anos que, em junho de 2020, morreu após cair de um prédio de luxo no Recife. "Então, eu acho muito importante fazer críticas. Eu não sei dissociar isso do meu trabalho."
O QUE SELMINHA E SAMANTHA TÊM EM COMUM?
"Ser persistente, guerreira, sonhadora, honesta, conquistar as coisas pelo viés do trabalho, não ter medo de cair e levantar, ser espontânea, ser divertida, ser engraçada, não ter papas na língua", assim Samantha descreve suas semelhanças com a protagonista de Tô Ryca 2.
Ela ainda conta que se divertiu muito durante as gravações do filme, cujo elenco inclui Katiuscia Canoro (Luane), Marcello Melo Jr. (Rubens), Anderson Di Rizzi (Nico), Rafael Portugal (Gracil) e Erom Cordeiro (César). Uma de suas cenas preferidas é a da padaria, quando Selminha pede desesperadamente um emprego, mas acaba demitida em seu primeiro dia por denunciar os abusos trabalhistas do patrão.
"É curtinha, rápida. Eu faço com Gustavo Damasceno, um ator que eu amo, que é meu amigo e estudou comigo na CAL [Casa das Artes de Laranjeiras]. Foi maravilhoso poder trabalhar com pessoas que eu admiro", comemora Samantha.
VEM AÍ TÔ RYCA 3?
No final do Tô Ryca 2, Selminha desencalha definitivamente ao se casar com Rubens. Questionada sobre um possível terceiro filme, Samantha parece gostar da ideia de que sua personagem se torne mãe de pequenos cidadãos tão revoltados quanto ela. "Tô ryca e prenha", brinca a atriz. "Temos, sim, o desejo de seguir contando essa história, mas depende do público agora."
Por fim, Samantha pondera sobre a mensagem que ambos os longas transmitem: "Apesar de tudo, o importante é que a gente faça a nossa parte, sem esperar nada de ninguém. Porque uma hora a gente vai cansar."
Tô Ryca 2 tem direção de Pedro Antonio, com roteiro assinado por Fil Braz.