Uma das maiores franquias de ficção científica de todos os tempos e, talvez, a mais influente da atualidade, Matrix marcou a história do cinema. Para os fãs da saga de Neo, a boa notícia é que o próximo episódio está prestes a ganhar, mais uma vez, as grandes telas, com Matrix: Resurrections, que estreará em solo brasileiro no dia 22 de dezembro.
Contudo, não é dele que falamos aqui. Para entender melhor o que se passa, precisamos voltar a 1999, ano do lançamento do primeiro longa, Matrix. Na época, a produção, ainda desconhecida, apresentava uma abordagem que despertava a curiosidades dos espectadores, trazendo uma temática não tão comum ao mainstream mundial e que viria a se tornar um sucesso instantâneo após seu lançamento.
Matrix: Qual é a ordem para assistir aos filmes, incluindo os curtas?Pois bem, no filme, a personagem Switch, interpretada pela atriz Belinda McClory, estava planejada para ser uma mulher dentro da Matrix, mas um homem fora dela, no mundo real. No longa, como os avatares dentro da simulação são resultados de nossa própria autoimagem, fica claro que a ideia das diretoras Lilly e Lana Wachowski era introduzir uma personagem trans à franquia, o que acabou não acontecendo.
Em entrevista recente para o site Entertainment Weekly, Keanu Reeves falou um pouco sobre essa situação, contando achar que a ideia não foi para frente pois “o estúdio não estava pronto para isso”. A fala do ator vai de encontro a algumas declarações antigas de Lilly, que já havia afirmado que “o mundo corporativo não estava pronto para isso”, revelando a causa da desistência.
Vale ressaltar que a situação é ainda mais representativa pois Lana e Lilly assumiram-se como mulheres trans em 2010 e 2016, respectivamente, abordando a forma com que a temática da autoaceitação está presente em Matrix. Em entrevista para a Netflix, Lilly revelou que o filme é uma metáfora à questão de descobrir seu verdadeiro eu, seja quem ele for, um dilema que ambas as cineastas viveram em 1999.
No ano passado, a diretora também contou ao The Hollywood Reporter que toda a motivação por trás de Matrix nasceu de uma mistura da raiva que ela sentia por conta da opressão vivida antes da transição, junto a um desprezo latente pelo sistema capitalista.
“Matrix nasceu de muita raiva e ódio. Raiva do capitalismo, das estruturas corporativistas e das formas de opressão”, disse a cineasta. “A raiva borbulhante e fervente dentro de mim era sobre minha própria opressão, que eu [estava me forçando] a permanecer no armário”, completou.
Já para a outra irmã, Lana, Matrix foi um conforto encontrado após a morte de seus pais e de um amigo próximo, mudando sua vida: "Eu realmente não sabia como processar esse tipo de luto", disse ela durante um painel em Berlim. “Eu não tinha experimentado isso tão de perto. Eu não poderia ter minha mãe e meu pai, mas de repente eu tinha Neo e Trinity, indiscutivelmente os dois personagens mais importantes da minha vida."
Fica, então, a torcida para que Resurrections repita as boas impressões dos outros longas, continuando a ser um ponto de conforto na vida das mais diversas pessoas.