Atenção, a matéria contém spoilers de 7 Prisioneiros!
7 Prisioneiros, novo filme nacional de Alexandre Moratto, está disponível no catálogo da Netflix e aborda em sua história a crueldade da exploração humana. Lidando com questões sociais complexas, o filme termina de uma maneira que pegou muitas pessoas de surpresa, por não ter necessariamente um desfecho simples e otimista para seus personagens. Pensando nisso, o AdoroCinema vai explicar o final do filme da Netflix.
7 Prisioneiros: Christian Malheiros, de Sintonia, revela processo "muito cruel e difícil" para se desprender de seu personagem (Entrevista Exclusiva)Em 7 Prisioneiros, o jovem Mateus (Christian Malheiros) aceita trabalhar em um ferro-velho em São Paulo com o novo chefe Luca (Rodrigo Santoro) para ganhar uma oportunidade de dar uma vida melhor à família. Porém, ele acaba entrando no perigoso mundo da escravidão contemporânea com outros garotos, sendo forçado a decidir entre continuar nessa situação ou arriscar o futuro de sua família.
Entenda o final de 7 Prisioneiros na Netflix
Luca administra uma rede de tráfico humano e trabalho análogo à escravidão. No fim de 7 Prisioneiros, o político Bianchi (Clayton Mariano) entra em campanha política e quer Luca que deixe o ferro-velho para participar das operações de sua candidatura. Mateus – que vira auxiliar de Luca no filme – questiona se a mudança significaria a liberdade de seus amigos, mas descobre que não. Ao mesmo tempo, vê que o chefe gostaria de o ter ao seu lado.
Voltando para o ferro-velho, Mateus conhece a mãe de Luca e sua família, que parecem felizes, o que lhe faz pensar sobre seu destino, pois sempre quis o mesmo para os seus. Logo em seguida, o melhor amigo de Mateus, Samuel (Bruno Rocha), tenta fugir, mas o protagonista traz de volta para a prisão com medo de que seus planos de conseguir uma boa vida para sua mãe fossem arruinados.
Luca faz Mateus escolher entre seu amigo ou sua ambições, e o jovem decide por seu futuro. Isso é concretizado quando o protagonista manda capangas para ameaçar a mãe de Samuel em sua casa. A intimidação faz o prisioneiro perceber que Mateus foi completamente transformado pela ganância, deixando para trás suas próprias crenças e seu senso de justiça para conseguir alcançar as aspirações em sua vida.
Na manhã seguinte, Mateus tem o braço queimado por Samuel com um cigarro, e deixa o ferro-velho ao lado de Luca. O jovem senta no carro e olha para o queimado em seu braço, marcando o fim do filme.
7 Prisioneiros mostra a complexidade do tema e de seus personagens, com Mateus se tornando um homem completamente diferente daquele que acompanhamos inicialmente, mudando de oprimido para opressor. Essa cena final do cigarro deixa isso bem claro, já que o protagonista mostrou ter queimado (apagado) todos os laços que teve em sua vida e, principalmente, o seu passado – mas levado para sempre essa marca.
7 Prisioneiros: "A primeira vez que li o roteiro, terminei odiando o personagem", revela Rodrigo Santoro (Entrevista Exclusiva)Por que esse foi o final escolhido para 7 Prisioneiros?
O AdoroCinema conversou com o diretor Alexandre Moratto e o produtor Fernando Meirelles ao lado de outros veículos de imprensa, onde Moratto comentou sobre a conclusão de 7 Prisioneiros: "O desfecho do filme foi algo que a gente trabalhou durante vários meses. Foi muito difícil encontrar o final certo e a gente testou várias coisas. Eu acho que tinha uns 5 ou 6 finais diferentes, que a gente discutiu e pensou. Eu passei dois anos trabalhando no roteiro, desde o primeiro tratamento até o último que você vê no filme, também tava evoluindo. E, na real, o fim mesmo foi algo que a gente decidiu no dia, no set, então é uma coisa que tava vivo constantemente até o último momento", explica o diretor sobre a cena do cigarro que encerra a produção.
Ele ainda reforça que a ideia de Mateus se tornar um opressor esteve presente desde o começo. "Essa questão dele mudar de time foi algo que logo no início do processo eu sabia que queria exatamente esse final mais realista, mais verdadeiro, porque me lembra muito de Cidade de Deus, no sentido de o filme se tratar de uma questão cíclica e o trabalho análogo à escravidão vai se perpetuando, então através dos dois personagens, o espelho entre Mateus e Luca, a gente vê essa questão tratada em tempo real do filme"
Quando acompanhamos a história, torcemos para que esses jovens consigam escapar, com Mateus responsável por comandar essa revolução. O roteiro de Alexandre Moratto e Thayná Mantesso vai para o lado oposto, mais condizente com a dureza da vida real e com a complexidade que envolve tráfico humano e escravidão contemporânea. Por isso, o final não é nada otimista e termina sem uma conclusão para a história dos personagens, mostrando que é um ciclo sem fim e sem escapatória dessa triste realidade.
7 Prisioneiros está disponível no catálogo da Netflix.
