O filme nacional 7 Prisioneiros é um dos principais lançamentos da Netflix em novembro e trata de questões sociais complexas e urgentes como o trabalho análogo à escravidão. O AdoroCinema, ao lado de outros veículos de imprensa, participou de uma conversa com o diretor Alexandre Moratto e o produtor Fernando Meirelles, que comentaram sobre a importância de falar sobre o tema abordado no filme e as maiores dificuldades para realizar a produção, que estreia no catálogo da Netflix em 11 de novembro.
Em 7 Prisioneiros, o jovem Mateus (Christian Malheiros) aceita trabalhar em um ferro-velho em São Paulo com o novo chefe Luca (Rodrigo Santoro) para ganhar uma oportunidade de dar uma vida melhor à família. Porém, ele acaba entrando no perigoso mundo da escravidão contemporânea com diversos outros garotos, sendo forçado a decidir entre continuar nessa situação ou arriscar o futuro de sua família.
Produção de 7 Prisioneiros e os desafios para realizar o filme da Netflix
7 Prisioneiros é segundo longa-metragem do diretor Alexandre Moratto, que fez sua estreia em Sócrates de 2018. Questionado pelo AdoroCinema sobre as dificuldades de fazer um filme que lida com temáticas tão complexas e urgentes sobre a nossa sociedade, Moratto revelou que o roteiro foi seu maior obstáculo.
"O grande desafio para o filme é como fazer essa história autêntica e como pesquisar essa questão. Como que a gente fala com pessoas que sobreviveram escravização? É uma questão tão escondida. Como é que a gente pesquisa as pessoas que escravizam? Como é que a gente entende essas pessoas? Então para mim, por um lado de roteirista, o roteiro em si foi um grande desafio", afirma. Por isso, Alexandre Moratto conta que levou bastante tempo e eu trabalhou ao lado da roteirista Thayná Mantesso, com o envolvimento do produtor Ramin Bahrani e Fernando Meirelles, que segundo o diretor deu vários tratamentos no roteiro e feedbacks. "Foi um processo de construir o roteiro e realmente eu acho que, no final de tudo, foi o maior desafio: acertar o roteiro. Justamente por ser um assunto difícil, complicado, então como que a gente entende, encara e transmite essas emoções através do roteiro?", explica Moratto.
Fernando Meirelles revela que conheceu Alexandre Moratto durante o processso de finalização do filme Sócrates, que foi realizado pela sua produtora O2 Filmes. "Eu assisti o filme e fiquei muito impressionado por que ele me contou que Socrates tinha sido feito com 50 mil reais e totalmente na raça, é um filme muito sensível, muito consistente (sólido)", diz o produtor na entrevista. Os dois acabaram se aproximando e, quando o roteiro de 7 Prisioneiros ficou pronto, acabou chegando nas mãos de Meirelles. "Ele desenvolveu 7 Prisioneiros muito mais com o Ramin, que é outro produtor, diretor de O Tigre Branco. Na hora que o projeto e o roteiro estava em pé, nos ofereceram e a O2 pulou. Primeiro, por causa do Alex [Moratto], e segundo porque a O2 tem uma série de projetos ligados a questão de desigualdade, é um tema que mobiliza a produtora", comenta Fernando Meirelles, conhecido pelos seus trabalhos na direção de Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e mais recentemente Dois Papas para a Netflix.
Alexandre Moratto e Fernando Meirelles falam sobre escravidão contemporânea
Durante a entrevista, Alexandre Moratto e Fernando Meirelles comentaram sobre a escravidão contemporânea e a importância de abrir a discussão sobre essa temática em nossa sociedade atual.
"A escravização de seres humanos e a exploração do ser humano é algo que continua desde sempre. A diferença agora é a escala em que acontece, tem 40 milhões de pessoas no mundo atualmente que vivem em condições análogas à escravidão e isso é um número tremendo de pessoas. E a forma que é feito hoje em dia, essa questão de usar a família das pessoas para deixar elas rendidas e ameaçadas, isso é uma coisa que acontece muito", explica Moratto. Fernando Meirelles complementa falando sobre os diferentes tipos de escravidão, especialmente os que acontecem na atualidade: "Existem escravizações que não são necessariamente com barra de ferro como acontece no filme, mas o cara não tem nenhum emprego, não tem onde morar e você contrata ele dando 10 reais por dia para ele fazer um serviço que equivaleria a 80, isso é uma escravização", diz Meirelles em comparação com a história retratada no filme.
7 Prisioneiros fez sua estreia durante o Festival de Veneza de 2021 e foi um dos destaques na 45ª Mostra Internacional de São Paulo. Alexandre Moratto revelou suas expectativas para que essa história alcance muitas pessoas ao redor do mundo. "O filme, por ser Netflix, pelos talentos que estão por trás dele, acho que tem um grande potencial de chegar a muitas pessoas. Então, minha expectativa, o meu desejo, é que o filme atinja um grande público no Brasil para poder abrir essa discussão, para a gente entender melhor como é que funciona. Mas eu também espero que o filme tenha repercussão internacional e já está tendo através dos festivais, das críticas. Acima disso, o fato de ser Netflix vai fazer com que pessoas na Índia assistam ao filme, pessoas na África, então eu espero que também assistindo o filme pessoas podem se identificar e falar 'isso me lembra o meu país', mesmo o filme sendo aqui no Brasil", completa Moratto.
7 Prisioneiros está em exibição nos cinemas do Brasil e chega ao catálogo da Netflix em 11 de novembro.