O Globo de Ouro sempre foi uma premiação polêmica, que divide opiniões com seus vencedores inesperados (ou até mesmo indicados!). Mas tudo na vida tem limite. A próxima edição da cerimônia, até então prevista para 2022, foi cancelada pela NBC, após uma série de críticas recebidas pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (a HFPA, em sua sigla original). Logo, o AdoroCinema te conta como tal situação chegou a esse extremo, mostrando como mudanças são necessárias para o futuro do evento.
Qual é a polêmica ao redor do Globo de Ouro 2021?
Como foi dito, essa não é a primeira vez que o Globo de Ouro se envolve numa controvérsia. Em edições passadas, o comediante Ricky Gervais fazia piadas, bem ali no meio da premiação, sobre a HFPA aceitando subornos para escolher seus vencedores. Esses rumores são presentes em Hollywood, já confirmados em benefícios recebidos pelos membros do HFPA para premiar obras como Burlesque, por exemplo. Ou seja, a reputação dessa obra nunca foi equivalente ao glamour do Oscar (cuja Academia também já sofreu duras críticas depois do #OscarsSoWhite, é importante lembrar).
Mas como a situação chegou tão longe em 2021? Basta lembrar quando suas indicações foram anunciadas, no início de fevereiro. Novamente, títulos controversos encontravam espaço por ali. Porém, a grande polêmica foi para a presença de Emily em Paris na lista, uma comédia duramente criticada pela imprensa (principalmente internacional) por sua percepção pobre sobre a cultura francesa. A situação piorou ainda mais com a revelação que membros da HFPA foram convidados para passar um período na França, com hospedagem luxuosa paga, a fim de acompanhar alguns dias das gravações de tal série.
Logo em seguida, diversas reportagens do Los Angeles Times revelaram que não existe nenhuma pessoa negra dentre os 87 membros da HFPA, desbravando ainda uma série de questionamentos etnicos e demográficos dentre tal grupo. Isso explicaria a ausência de elogiadas produções lideradas por artistas negros em sua recente lista de indicados, como a aclamada minissérie I May Destroy You, de Michaela Coel. Também não foi à toa que Uma Noite em Miami e A Voz Suprema do Blues ficaram fora da categoria de melhor filme. Vale lembrar que, no ano anterior, Watchmen (estrelada por Regina King) nem foi lembrada pelo Globo de Ouro, mesmo levando 11 Emmys para casa e sendo unanimidade entre críticos.
Os protestos contra o Globo de Ouro
No dia de sua exibição, o Globo de Ouro 2021 se mostrou insosso e pouco ousado em seu formato, de forma que nem as apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler puderam salvar a cerimônia. Desde então, começou uma onda de pressões em Hollywood na busca por mudanças efetivas no quadro de membros do HFPA. Instituições como o Time's Up e assessorias de imprensa lançaram campanhas para isso, que culminou numa declaração da Associação, listando algumas medidas que iam ser tomadas para alterar a situação atual. Porém, tais iniciativas não provaram serem suficientes para amenizar as críticas da opinião pública, sem falar que não estabelecia uma linha temporal urgente para suas efetivações. Ou seja, tentaram colocar um band-aid nessa história, mas não deu certo...
Assim, os protestos continuaram. Empresas como Netflix, Amazon e Warner Media cortaram relações com o HFPA até que a situação se torne mais diversa dentro do grupo. Nomes famosos também começaram a se posicionar contra a premiação. Atual vencedor da categoria de melhor ator em minissérie por I Know This Much Is True, Mark Ruffalo declarou não ter orgulho de sua estatueta, enquanto sua colega de Vingadores, Scarlett Johansson, afirmou que membros da Associação já tiveram ações sexistas durante campanhas de divulgação. Por fim, Tom Cruise devolveu os três Globos de Ouro que recebeu em sua carreira — por Jerry Maguire, Nascido em 4 de Julho e Magnolia. A paciência acabou.
Diante disso, a NBC anunciou o cancelamento do Globo de Ouro 2022, declarando que só voltaria a exibir a premiação após a reestruturação da HFPA. Só restou para a Associação lançar uma nova declaração, estabelecendo prazos para as iniciativas de diversidade, com mudanças previstas até agosto deste ano, dizendo que tais ações se tornaram prioridades dentro da instituição. Agora, é esperar para ver se eles vão correr atrás do tempo perdido, pois será uma longa jornada para recuperar o mínimo de reputação do evento.
Sinceramente, já estava na hora disso acontecer. O que começou como uma piada em Hollywood, do tipo "Olha como o Globo de Ouro é zoado", se tornou uma situação ofensiva para toda uma comunidade. Obviamente, vivemos numa sociedade dividida que, infelizmente, enfrenta o preconceito todos os dias. Mas palavras têm importância e o entretenimento tem influência na forma de popularizar vozes que ainda procuram seu espaço. Da mesma forma que é importante ver histórias femininas sendo premiadas (como aconteceu com Nomadland nessa temporada de premiações), também é essencial valorizar a cultura negra (assim como os profissionais, na frente e atrás das câmeras) — algo que também vale para as comunidades latinas, asiáticas, muçulmanas, LGBT e por aí vai....
Por fim, se o mundo fosse perfeito, seriam premiadas as produções de maior qualidade, não aquelas com maior propaganda. Simples assim.