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    Conheça George A. Romero, diretor que influenciou produções como The Walking Dead e Madrugada dos Mortos

    Filmes e séries de zumbi são um dos subgêneros de filmes de terror mais populares dos últimos anos. E provavelmente não teríamos produções como Madrugada dos Mortos, The Walking Dead e Zumbilândia sem George A. Romero.

    Em 1968, George A. Romero dirigiu e co-escreveu com o roteirista John Russo um pequeno e despretensioso filme que iria acabar influenciando para sempre o gênero do terror. Essa pequena produção independente era o terror A Noite dos Mortos-Vivos. O filme conta a história de um grupo de pessoas presas em uma casa durante uma súbita invasão zumbi. Ninguém sabe de onde eles surgiram, nem como eles ganharam vida. Os mortos são representados apenas como uma ameaça repentina e o filme explora os horrores de ter que lidar com entidades tão violentas e incompreensíveis. Embora, inicialmente, rejeitado por grandes estúdios, A Noite dos Mortos-Vivos foi um grande sucesso, conquistando muitos elogios da crítica e fazendo uma bilheteria milionária mesmo com um orçamento baixo. E, sem dúvidas, o filme influenciou todos os filmes de zumbi que vieram depois.

    George Romero deixou quatro roteiros prontos antes de morrer

    GEORGE A. ROMERO NÃO PRETENDIA CRIAR O CINEMA DE ZUMBI

    A princípio, Romero tinha intenção de escrever uma história de terror sobre alienígenas. Mas depois de reescrever várias vezes o roteiro com Russo, ele teve inspiração no livro Eu Sou a Lenda de Richard Matheson (adaptado no filme homônimo estrelado por Will Smith) sobre um homem que se torna o único sobrevivente de um vírus mortal. Enquanto no livro as pessoas infectadas se transformam em criaturas mais próximas aos vampiros, Romero decidiu que os monstros do seu filme seriam cadáveres reanimados, algo pouco visto no cinema até então. Um dos poucos exemplos sendo o filme A Morta-Viva de 1943.

    Então, despretensiosamente, George A. Romero acabou dando início a todo um novo subgênero de terror que permanece popular até hoje, gerando vários clássicos não só nos EUA, mas no mundo todo. Basicamente todas as características mais populares da mitologia sobre zumbis foram estabelecidas em A Noite dos Mortos-Vivos. As obras anteriores tinham, geralmente, uma conexão religiosa com o vodu e com o sobrenatural (é o caso de A Morta-Viva) ou estavam relacionados à ficção científica como Frankenstein. Já no filme de Romero, ele não teve pretensão de criar explicações para a existência das criaturas. Os mortos apenas surgem repentinamente como uma doença ou uma praga incontrolável. E o diretor redefiniu os mortos-vivos para o que eles são hoje: cadáveres reanimados com tendências canibalistas.

    Romero queria contar uma história sem grandes exageros nos efeitos visuais. Então, ao invés de ter elaboradas sequências de ação e violência, ele acabou decidindo deixar os zumbis em segundo plano e focar o enredo em seus protagonistas. O diretor criou um filme de terror contido e claustrofóbico, sufocando seus personagens em um espaço fechado enquanto o mundo aparentemente acaba ao redor deles. Assim, A Noite dos Mortos-Vivos se tornou um filme extremamente humano. Claro que o longa tem ótimas cenas violentas de gore (como um bom filme de zumbi deveria ter), mas o roteiro se preocupa em ir muito além disso e realmente se aprofundar na relação entre os personagens.

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    OS FILMES DE GEORGE A. ROMERO REFLETIAM OS PROBLEMAS SOCIAIS DA ÉPOCA

    Uma das características mais marcantes do filme foi ter um protagonista negro em uma época de violentos conflitos raciais nos EUA. A década de 1960 foi o auge da luta por direitos civis da população negra, com vários militantes como Martin Luther King Jr. e Malcolm X sendo tragicamente assassinados, então ter um homem negro como personagem central da história foi extremamente simbólico em A Noite dos Mortos-Vivos. Quando questionado sobre isso, Romero afirmou que não era sua intenção inicial trazer essas discussão racial para o filme e que ter escalado Duanes Jones para o papel principal foi apenas um reflexo do talento do ator. Mas, como muitos críticos reafirmaram depois do lançamento da obra, é impossível não criar esses paralelos, especialmente considerando o final trágico do personagem.

    Até aquele momento, a maioria esmagadora das produções para o cinema e televisão tinham um elenco completamente branco, e os poucos atores negros que conseguiam espaço eram quase sempre relegados a papéis estereotipados. Então o personagem Ben subverteu vários estereótipos racistas atribuídos a homens negros no cinema naquela época. Além de ser o personagem central, ele era o mais lógico, calmo e racional entre todas as pessoas presas na casa. E isso fugia da representação racista que homens negros geralmente sofriam: como pessoas infantilizadas e pouco inteligentes. Ter um protagonista negro representado de forma positiva em um filme tão popular foi extremamente relevante na representatividade de afro-americanos no cinema.

    A sequência O Despertar dos Mortos, que recebeu o remake Madrugada dos Mortos em 2004 dirigido por Zack Snyder, também traz alguns comentários sociais referentes ao momento em que foi lançado. Um deles é sobre a expansão do capitalismo através dos shoppings centers que influenciaram um aumento no consumismo da população. No filme, há várias cenas dos zumbis andando aleatoriamente pelos corredores do shopping e isso reflete o comportamento de quando ainda estavam vivos, perambulando sem rumo e objetivo pelas lojas. Além disso, um dos protagonistas e sobreviventes no final do filme também é um homem negro. Embora a sequência tenha sido lançada dez anos após o original, o protagonismo negro no cinema ainda era raro. E um personagem negro que sobrevive até o final em um filme de terror era algo muito pouco visto, então a obra de Romero também foi precursora nesse sentido.

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    A MAIOR AMEAÇA É, NA VERDADE, O SER HUMANO

    Uma das características mais recorrentes em filmes de zumbi é explorar a facilidade com a qual a sociedade recorre a selvageria e violência em momentos de crise. Filmes como Extermínio de 2002 e séries como The Walking Dead exploram bem como a maior ameaça, afinal, é sempre as próprias pessoas. Além de enfrentar os horrores causados pelos mortos, os personagens sempre acabam precisando se proteger também dos vivos. E essa recorrente convenção nos filmes de zumbi também foi estabelecida por George A. Romero. Em Noite dos Mortos-Vivos, Ben consegue com sucesso escapar das garras dos mortos. Mas quando o dia seguinte chega, ele acaba sendo vítima de um grupo de homens armados. Na sequência O Despertar dos Mortos, os personagens conseguem se proteger dos zumbis em um shopping, mas acabam sendo atacados por uma gangue violenta e implacável. E na terceira parte da trilogia, Dia dos Mortos, lançada em 1985, os personagens também precisam se proteger de um grupo militar que decide abusar de sua autoridade.

    Em The Walking Dead, a partir da terceira temporada, os zumbis ficaram em segundo plano, como uma ameaça secundária, e os grandes vilões da série se tornaram definitivamente os humanos. o Governador, os canibais de Terminus e Negan são algumas das maiores ameaças que Rick e seu grupo enfrentaram durante as dez temporadas de The Walking Dead. Enquanto os zumbis, embora ainda representem um perigo, se transformaram em meros coadjuvantes, os humanos se revelaram como uma força ainda mais maligna. O mesmo acontece no filme Extermínio (estrelado pelo ator Cillian Murphy de Peaky Blinders) onde um grupo de sobreviventes em uma Londres pós-apocalíptica se torna refém de militares sádicos. Isso é claramente uma influência dos filmes de Romero que sempre exploravam inteligentemente o comportamento humano e como indivíduos recorrem rapidamente a barbárie quando não há mais consequências para os seus atos.

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    ROMERO, SEM DÚVIDAS, REVOLUCIONOU O GÊNERO

    George A. Romero, com sua direção hábil e roteiros despretensiosos, introduziu definitivamente o gênero de zumbi na cultura popular. Embora no próprio filme ele nunca utilize a palavra “zumbi”, ele conseguiu estabelecer todas as convenções sobre o subgênero que vemos até hoje no cinema, na televisão, e nas histórias em quadrinhos. Vários diretores foram influenciados diretamente pelas obras de Romero para criar suas próprias histórias sobre zumbis como Zack Snyder com Madrugada dos Mortos e mais recentemente Army of the Dead, que será lançado na Netflix em maioEdgar Wright com a ótima sátira Todo Mundo Quase MortoYeon Sang-ho com o eletrizante, mas comovente Invasão Zumbi. Graças a Romero, hoje temos uma variedade enorme de filmes do gênero, desde ótimas comédias como Zumbilândia até produções mais dramáticas como Contágio - Epidemia Mortal com Arnold Schwarzenegger. Seu legado no cinema de horror é inegável e sua filmografia permanece extremamente relevante.

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