Em um ano tão difícil como 2020, tudo o que o público procura é um entretenimento leve para se distrair e dar boas risadas, e é exatamente a proposta por trás de A Garota Invisível. O longa-metragem é direcionado para o público infantojuvenil e acompanha a história de Ariana, uma adolescente que sempre passou despercebida na escola. No entanto, ao iniciar uma live acidentalmente, acaba se declarando para o rapaz mais popular da escola e provoca ira na ex-namorada do galã.
A Garota Invisível é dirigido por Maurício Eça, que também está por trás de produções como Carrossel: O Filme e A Menina que Matou os Pais. Quanto ao elenco, este é composto por Sophia Valverde, Matheus Ueta, Mharessa Fernanda, Guilherme Brumatti, Bia Jordão, Kaik Pereira, Bianca Paiva, e tem a participação especial do veterano Marcelo Várzea.
Em entrevista para o AdoroCinema, a nova geração de atores contou como se organizaram de forma remota para a interpretação de seus personagens. Sophia Valverde, estrela de As Aventuras de Poliana, no SBT, explicou a dinâmica: "Foi tudo online. A gente teve vários ensaios pelo Zoom e conseguimos conhecer algumas pessoas e se enturmar mais. Também tivemos workshops online, como não podíamos fazer pessoalmente, e [isso] ajudou muito”, contou a atriz. "Como foi um filme completamente diferente, feito online, a gente não poderia ter aquela interação olho a olho, então era mais complicado. Mas a produção, direção e todo mundo ajudou muito.”
Com o distanciamento, Matheus Ueta contou sobre as dificuldades de atuar sozinho, sem a presença física de outro colega de profissão para responder ao diálogo. "É a primeira vez que eu contraceno literalmente com nada. Sou eu sozinho. Eu falo uma coisa e a minha resposta vem do Maurício, e não de outra pessoa. Acaba perdendo um pouco a questão do feeling de ter alguém, de entrar mais na cena, de olhar no olho da pessoa."
Maurício Eça afirmou que, apesar da performance solo ser complicada para os atores mirins, a situação fez com que eles desenvolvessem ainda mais a criatividade e imaginação. Além disso, ele destaca que a produção fez o possível para criar um ambiente inspirador. “A gente criou um roteiro que pudéssemos fazer durante a pandemia, na casa de cada um. Adereçamos os quartos, demos uma direção de arte que pudesse se aproximar do personagem. A gente filmou, mas não tem nenhuma alusão à pandemia no roteiro. Poderia ter sido filmado a qualquer tempo, porque a gente conseguiu que o nível de interação entre eles parecesse normal.”
EAD e distanciamento físico
A Garota Invisível se adequa à atual realidade dos adolescentes que passam pela experiência da aula online e o contato distante com os amigos. No filme, a presença de quatro alunos em recuperação e um professor mostra como o EAD pode ser uma troca divertida. Porém, como nem todos conseguiram se adaptar bem ao ensino remoto, o elenco deu algumas dicas de como lidar com a situação.
“Tentem entrar na aula online e entender um pouco a aula, mas se não quiser abrir a câmera, não abre. A gente está passando por um momento muito difícil e algumas escolas não entendem que a cabeça e a saúde mental do adolescente e da criança fica abalada, então obrigar a ligar a câmera é muito complicado”, comentou Sophia Valverde.
Mharessa, que interpreta a personagem Diana, uma das alunas repetentes que perderam parte das férias em recuperação escolar, deixou uma mensagem de força para quem está com dificuldades. "Cada um tem o seu tempo, o seu limite e tem que respeitar isso nelas mesmas. Mas acho que também temos que entender que é um momento difícil para todo mundo, estamos todos nos adaptando a isso, ninguém viveu isso antes. É algo que eu também estou descobrindo em mim, me conhecendo novamente. Então esse é o momento para a gente parar e perceber que o mundo inteiro está em crise, e que vamos passar por isso juntos”, disse a atriz. “Está tudo bem não acordar bem todos os dias. Mas estudar é muito importante, então temos que dar o nosso melhor, mesmo sendo muito difícil levantar da cama às vezes, ligar o computador e ficar ali assistindo. Que vocês possam tirar força lá de dentro, porque ainda há esperança, vai ficar tudo bem."
"Não surtem. Relaxem, esse momento vai passar. Tentem se adaptar, continuar estudando e aprendendo coisas novas, porque o futuro vem com momentos bons e melhores. Mantenham-se firme!", complementou Matheus Ueta, com uma mensagem esperançosa de que o melhor está por vir.
Redes sociais e influenciadores digitais
Em uma era em que o digital molda o comportamento humano e se torna centro de nossas necessidades sociais, o filme aborda o poder das redes na interação e formação de opinião. Nos primeiros vinte minutos do filme, a protagonista Ariana diz a frase: “A internet nunca esquece”, após ter sua imagem detonada na web, e levanta a reflexão de como os adolescentes estão propensos a sofrer ou causar ódio gratuito nas redes.
Sophia Valverde, que é bem ativa nas redes e atingiu recentemente 12 milhões de seguidores no Instagram, dá sua opinião sobre comportamentos ofensivos online: "Na internet temos que ter empatia. A gente está falando pelo celular, mas temos que imaginar que tem uma pessoa por trás lendo tudo aquilo. Embora tenha um lado muito bom na internet, pois me divirto bastante, as pessoas julgam muito e tornam isso pesado. Tem alguém que vai ler tudo aquilo e sentir."
Mharessa, que é influencer digital tanto no filme quanto na vida real, comenta: "É muito triste que 99% das vezes, o que a internet nunca esquece são coisas ruins. Existe tanta gente boa que faz coisas que mudam e transformam vidas, mas as pessoas têm mais facilidade em lembrar de atitudes ruins, erros que todos cometem porque somos humanos. É um meio muito difícil e a gente tem que estar com o psicológico muito bem e ter uma boa estabilidade mental, porque infelizmente vivemos em uma época de depressão e ansiedade, e os comentários te atingem de forma que nem dá para imaginar. Temos que tomar cuidado com isso, porque do mesmo jeito que você pode usar para coisas boas, ela [a internet] pode acabar com a autoestima de alguém e acabar piorando a vida dessa pessoa."
A influenciadora vivencia a situação de forma mais frequente e, ao mesmo tempo em que está exposta a comentários ruins, também usa de seu engajamento para conscientizar o público. Durante a conversa, a atriz revelou seu ponto de vista sobre o papel dessa figura pública na construção da opinião de uma nova geração que está se formando.
"É uma das profissões que mais têm crescido nos últimos anos, e eu acho muito importante, mas também muito perigoso. Infelizmente temos influenciadores que influenciam para um lado que não é muito legal. Então temos que ter a consciência de que é uma grande responsabilidade. Como podemos ver no filme, a Diana não é uma boa influencer, ela finge ser quem não é, finge gostar de coisas que não gosta e fala mal dos outros. Esse é um exemplo que não devemos seguir. As pessoas acham que lidam com números, mas lidamos com vidas todos os dias. Qualquer coisa que falamos ou julgamos sem perceber, pode fazer com que outros se sintam mal."
Inspirações dos vilões
Mharessa e Guilherme Brumatti foram pessoas muito presentes na trajetória da personagem Ariana, agindo de forma negativa - e até um pouquinho má - com a jovem que viralizou na internet. Na entrevista, os atores falaram sobre as maiores inspirações que os ajudaram a construir suas personalidades no filme.
"A minha missão não era fazer com que o Khaleb parecesse maldoso. Só um cara ingênuo, que só vive a vida e faz o que quer, e consequentemente, deixa outras pessoas tristes ou alegres. Me inspirei em filmes como Barraca do Beijo. É um equilíbrio. Nem tão bom e nem tão mal”, contou Guilherme.
Já Mharessa foi um pouquinho mais longe e resgatou uma famosa referência dos filmes da Disney. "Eu sou muito fã de High School Musical, então me inspirei muito na Sharpay Evans. Ela é bem patricinha, quer estar na frente de todo mundo, é sempre a número um. Eu consegui muitas coisas da Diana nela. Trabalhei muito para que não ficasse muito Sharpay, mas que tivesse algumas características.”
Quebra da quarta parede
Em alguns momentos do filme, um dos meios utilizados por Ariana é a quebra da quarta parede. Esse recurso gera muita proximidade entre o público e personagem, levando a mensagem de forma mais intimista. Maurício Eça contou sobre a escolha da técnica utilizada em obras como Fleabag e Enola Holmes.
"É uma ironia, uma forma dela contar alguma coisa que não está rolando ali. É algo diferente, para sair da realidade. A ideia é ser um filme leve. Ele diverte, faz sorrir, tem várias mensagens que a gente consegue contar no filme. A coisa da garota invisível é entender que, por mais invisível que você seja, você é especial. No mundo competitivo que a gente vive, temos que achar nosso espaço e perceber que ninguém é melhor que ninguém”, explicou Maurício.
Com essa “conversa” entre o espectador e a protagonista, Sophia Valverde conta de que maneira isso pode impactar os jovens que vivem a mesma situação que Ariana: "Acho que nunca fiz uma personagem assim, nem no teatro. Pelo Brasil inteiro, pelo mundo inteiro, existem pessoas como a Ariana. Que gostam daquele crush super galã de novela, e que às vezes não têm coragem de chegar nele e montam um personagem. As pessoas vão se identificar muito com a Ariana e aprender muito também. A Ariana vai ajudar outros a terem mais confiança, entender que não estão sozinhos nessa, que sempre tem alguém olhando por você."
A Garota Invisível estreia em 22 de dezembro, para compra e locação nas principais plataformas de streaming. Uma das grandes novidades é que a trilha sonora do filme, cantada por Guilherme Brumatti, Nathan Barone, Mharessa Fernanda, Rodrigo Garcia e Sophia Valverde, já está disponível no Spotify, Deezer, iTunes, Amazon Music e Google Music.