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    Qual a importância de Spike Lee para a indústria cinematográfica?
    Rafael Felizardo
    Rafael Felizardo
    -Redator | Crítico
    Sonhador desde pequeno e apaixonado por cinema de A a Z, encontrou em David Lynch um modo de sonhar acordado.

    De Malcom X, passando por Martin Luther King Jr. e chegando ao Black Lives Matter, a história da consciência negra se entrelaça ao cinema do diretor norte-americano.

    Desde 1950, quase de maneira cíclica, determinadas bolhas sociais vêm inflando. Quando elas inevitavelmente se rompem, são expostas tensões que, muitas das vezes, não enxergávamos ou ignorávamos. O caso de George Floyd, cidadão negro morto por um policial nos Estados Unidos, não foi um evento isolado — ele costuma se repetir com roupagens diferentes.

    O cinema é um importante braço para a denúncia das mazelas existentes em nossa sociedade, e isso, Spike Lee sempre fez com maestria. Em 1989, o diretor já expunha a violência policial cometida contra negros, no atemporal Faça a Coisa Certa. O longa Malcom X (1992) se faz imprescindível em um momento onde importantes movimentos negros se estruturam, como o Black Lives Matter. E o atual Destacamento Blood (2020) apresenta uma abordagem antiguerra que ainda é necessária em pleno 2020.

    Em suas obras, Lee procura deixar claro como o racismo e outros problemas sociais são conceitos enraizados na estrutura da sociedade. Não por acaso, o diretor costuma antecipar, em suas produções, determinados acontecimentos, antes mesmo deles virem à tona fora das telas. Sua maneira de olhar para o passado não o impede de ser atual, e retratar, como dito anteriormente, eventos que se repetem de maneira cíclica.

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    A FILMOGRAFIA DE SPIKE LEE

    As produções de Spike Lee têm a particularidade de conversarem com temáticas não tão comuns às épocas em que foram lançadas. Logo em sua estreia profissional, com Ela Quer Tudo (1986), acompanhamos o ponto de vista de uma mulher negra em sua relação com três possíveis pretendentes. Com toque de comédia, o diretor apresentou seu cartão de visita com uma produção que envolvia a sexualidade feminina e o protagonismo negro, tudo isso com baixo orçamento e a vontade de fazer algo que dialogasse com um público diferente da maioria dos outros filmes da época.

    Em 1989, ele lançou o longa Faça a Coisa Certa, dois anos antes da revolta contra a violência policial sofrida pelo operário negro Rodney King. A vítima não foi a primeira e nem seria a última de uma série de atentados da polícia contra a população negra, e Spike Lee já nos contava isso há trinta anos. Em uma das cenas mais icônicas de sua filmografia, empunhando aneis escrito “love” e “hate”, um cidadão negro é morto asfixiado por um grupo de policiais. Mais atual impossível.

    Em quase todos os seus filmes, conseguimos colher alguma crítica à forma com que determinadas minorias são tratadas pela sociedade. Lute Pela Coisa Certa (1988) aborda o drama de jovens negros em uma universidade no sudeste dos Estados Unidos. Febre da Selva (1991) mostra o preconceito em torno do relacionamento de um homem negro e uma mulher branca. Infiltrado na Klan (2018) — ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, em 2019 — satiriza a estrutura do subgênero blaxploitation e expõe a luta racial contra a “superioridade branca” pregada pela Ku Klux Klan.

    E a caminhada de Spike Lee não para por aí. Ela vai além das telas.

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    O DIRETOR FORA DAS TELAS

    Em janeiro de 2016, Spike Lee anunciou que não iria à cerimônia do Oscar daquele ano. O motivo seria a falta de representatividade, historicamente, nos filmes indicados à estatueta. Três anos mais tarde, ele levantou e deixou seu lugar quando o drama Green Book - O Guia venceu o Oscar de Melhor Filme. Supostamente, o longa faz vista grossa ao racismo.

    A história da militância do diretor não é escrita apenas por suas produções. Crítico ferrenho do presidente Donald Trump, acusou o mesmo de ser um ditador por conta da ameaça de uso de forças militares contra os manifestantes do movimento Black Lives Matter, ao qual Lee é simpatizante. As grandes produtoras hollywoodianas também não escaparam, tornando-se alvos em sua cruzada por mais diversidade em Hollywood.

    Toda a consciência social de Spike Lee ganha ainda mais legitimidade por conta do que viveu. Criado no Brooklyn, pôde sentir na pele como é a vida de um homem negro em um dos distritos mais violentos de Nova York. Com propriedade, durante toda sua carreira, procurou sempre expor o que presenciou. E se em um futuro resolver se retirar e parar com sua arte, terá certeza a respeito do legado que deixou para a indústria de filmes.

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