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    Tenet: Crítica do novo filme de Christopher Nolan

    Tenet encanta com espetáculo visual ambicioso, mas peca ao entregar narrativa emocionalmente defasada.

    NOTA: 3,5 / 5,0

    Tenet — novo filme de Christopher Nolan — foi transformado em um símbolo de esperança durante a quarentena. Para estúdios e redes de exibição, a obra poderia reverter a crise cinematográfica atual, gerando o lucro necessário para que mais grandes lançamentos chegassem às telonas. Contudo, toda essa expectativa não se concretizou.

    Claro, levando em conta as restrições pandêmicas, o longa está longe de ser um fracasso, já que conseguiu faturar US$ 323 milhões mundialmente até agora. Dunkirk — lançado em tempos normais — trouxe US$ 525 milhões para a Warner. Essa arrecadação pode ser alcançada facilmente por Tenet após a sua chegada nas plataformas digitais.

    Contudo, há um fator essencial para que a produção de Nolan não tenha conquistado recordes massivos: toda a experiência é construída exclusivamente para o público adulto. É injusto esperar que um filme tão nichado — e inacessível — salve toda a indústria cinematográfica.

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    Protagonizado por John David Washington (Infiltrado na Klan) e Robert Pattinson (The Batman), Tenet acompanha dois agentes secretos tentando impedir a ascensão de um evento catastrófico que trará o fim da humanidade. Novamente, o diretor de Interestelar mergulha em narrativas que desafiam a linearidade do tempo e confrontam a nossa concepção acerca da realidade.

    Toda essa complexidade funciona na maioria das vezes, compelindo o espectador a fixar os olhos na jornada enigmática do filme. É impossível não querer desvendar os segredos da trama. Contudo, a nítida preocupação de Nolan em confundir a plateia acaba nos afastando emocionalmente da história.

    Há poucos arcos que nos conectem aos personagens. Suas motivações, fragilidades e angústias são deixadas em segundo plano. Aqui, a prioridade é apresentar um conceito denso, que ganha novas camadas a cada vez que assistimos ao longa. Sim, é necessário repetir a experiência para tentar captar todas as suas mensagens.

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    Para os fãs do diretor, este não será um problema. Contudo, se uma obra pretende comover ao retratar o fim dos tempos, nós precisamos minimamente conhecer — e nos importar — com os indivíduos capazes de reverter o apocalipse.

    Infelizmente, Tenet não faz isso. O personagem de John David Washington não possui um nome sequer. Nos créditos, ele é intitulado apenas como “O Protagonista”. Pattinson consegue reduzir a impessoalidade do roteiro com uma performance carismática e carregada de charme. Contudo, o passado de ambos é uma incógnita, e poucos detalhes de suas vidas são revelados.

    Kat — interpretada por Elizabeth Debicki — é quem realmente consegue entregar um senso de vulnerabilidade a narrativa. Chantageada e violentada constantemente por seu marido (Kenneth Branagh), ela abraça a causa dos dois agentes na esperança de escapar de sua rotina assombrosa. Este é o mais perto que o filme chega de sensibilizar a sua audiência.

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    Contudo, a falta de “coração” é compensada com um espetáculo visual chocante. As sequências de combate — principalmente as que envolvem viagens temporais — são extremamente inventivas.

    Ao atravessar um portal para o passado, O Protagonista encara a inversão de todas as leis da física. Enquanto se move para frente, o mundo à sua volta anda para trás. Presenciar essa colisão entre realidades é indescritível, e definitivamente está entre os momentos mais ambiciosos do cinema recente. Na próxima temporada de premiações, Tenet irá dominar as categorias técnicas.

    Não se engane: a produção entrega a sensação de grandiosidade requerida pelo público após tantos meses sem ir ao cinema. Contudo, a falta de substância neste deslumbrante quebra-cabeças é explícita e nos faz questionar o que o diretor realmente queria transmitir com a obra.

    Se o objetivo era empolgar, Nolan acertou em cheio. A sequência de abertura no teatro — que envolve uma plateia inteira sendo colocada para dormir em meio a um tiroteio — dita o tom imprevisível desta aventura cinematográfica. A áurea sóbria de Washington, ao lado da personalidade descontraída de Pattinson, são complementares, e oferecem um dinamismo agradável ao longa.

    Agora, se o cineasta desejava nos provocar com reflexões relevantes, o resultado poderia ter sido melhor. Toda a complicação imposta no início é desbancada por um desfecho simplista e um antagonista fraco, movido por impulsos egoístas — e até mesmo caricatos. A impressão final é que o filme poderia conversar melhor com o seu público, caso não se esforçasse tanto para ser mais do que realmente é.

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