Verlust, novo filme de Esmir Filho, está presente na programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com Andrea Beltrão no papel da protagonista Frederica e a cantora Marina Lima na pele da ícone pop Lenny, o drama estreará nos cinemas após o festival, em 05 de novembro.
Acompanhando uma festa de réveillon organizada pela empresária Frederica (Beltrão), Verlust também aborda as dificuldades em seu casamento que afetam diretamente sua filha adolescente (Fernanda Pavanelli). Ao mesmo tempo em que realiza a grande festa, Frederica também precisa administrar a vida e carreira da complicada artista Lenny (Lima). Quando uma estranha criatura do fundo do mar surge em sua festa, uma crise se instaura em seu círculo de relacionamentos, precisando, Frederica, enfrentar um dos seus maiores medos: a perda.
Aproveitando a exibição do filme na 44ª Mostra, o AdoroCinema conversou com o diretor Esmir Filho e com Andrea Beltrão sobre Verlust.
Sobre o ponto de partida para o roteiro, Filho disse que a ideia surgiu a partir de um núcleo familiar de frente para o mar, no Ano Novo. "Eu e Ismael Caneppele, também roteirista, pensamos em uma crise que desperta esse núcleo de personagens e um ser do mar que encalha na mesma praia. A vontade era de falar sobre crise, processos e desejos, assim como relações que ficam desgastadas, com a proposta de que as pessoas podem se reinventar. Não precisamos ficar sempre no mesmo formato, porque se não aí a gente encalha. É neste lugar que surge a metáfora do filme todo. O filme possui uma trama sobre estados de personagens mais do que uma história em si. É um filme sensorial", explica.
Já quanto às escolhas de Beltrão e Lima em papéis tão importantes, o diretor disse que a intérprete de Hebe no filme indicado ao Emmy Internacional sempre estava em seus planos. "Desde o início do roteiro eu via a Andrea naquela personagem, de produtora poderosa, com aquela energia. Ela entrou muito cedo e leu diversas versões do roteiro em conjunto. Agora, eu sempre tinha escrito 'ícone pop' no roteiro. Não sabia se seria mulher ou homem, mas o que eu mais queria era encontrar um compositor ou compositora que pudesse emprestar suas músicas."
"Quando eu encontrei Marina logo pensei: 'ela é um símbolo de reinvenção, ela sempre está fazendo isso'. Tem algo bonito em como ela segue fazendo música de forma apaixonada. Aí eu pensei em escolher um disco para simbolizar o encontro dela com a empresária -- ou seja, criamos uma ficção no filme através de músicas que realmente existiram. Tem muito da Marina ali, mas ao mesmo tempo é uma personagem. O roteiro foi mudando a partir dos meus encontros com cada ator. Foi bem artesanal a forma como construímos o roteiro", diz Esmir.
Para Beltrão, foi muito simples ingressar em Verlust, pois a atriz já era fã do trabalho do diretor. "Quando eu li o roteiro, fiquei impressionada e fiquei lisonjeada ao saber que ele havia escrito a personagem pensando em mim, porque ela é realmente muito interessante. E todo o processo foi muito sensorial. O roteiro tem uma missão que é, através de uma folha em branco, explicar as inúmeras camadas de determinada história. Aquelas páginas têm a árdua missão de fazer você atravessar camadas de intenção, que os realizadores querem imprimir na tela. Muitas vezes acontece das palavras sobrarem, porque, como é cinema, a imagem diz muito -- assim como na TV."
"Então, foi muito confortável que o Esmir tenha trabalhado dessa maneira precisa e sutil na escolha do que ia ser dito. Porque ele é um diretor que confia muito na imagem que vai buscar. Quando as falas são cirúrgicas, cortantes, isso me traz a sensação de conforto, porque nada que é dito vai ser jogado fora. O que é dito é imprescindível, e poder muitas vezes se entregar numa cena só pelo sensorial, pela qualidade da cena, pela natureza da cena em si... É um lugar que me interessa", afirma Beltrão.
No que se diz respeito à mensagem final de Verlust, Beltrão prefere não se ater a apenas uma definição: "Eu não acredito muito nisso de definir um filme. Um filme tem uma equipe enorme, uma miscelânea de visões de muitas pessoas contando apenas uma história. Um filme é endereçado a milhares de vidas, experiências diferentes. Então, de repente, o que eu acho que é o que o filme diz pode não significar nada para muitos. A questão da mensagem aprisiona um pouco. Mas ao mesmo tempo eu vejo que Verlust fala sobre muitas coisas, e uma delas é a liberdade de ser, estar com quem você quiser. Esse é um assunto de sempre, da humanidade. É algo pulsante na vida e no filme também. E também tem outra questão envolvendo a baleia encalhada, que fala sobre aprisionamento emocional, que se opõe a essa liberdade total. Aquelas pessoas estão encalhadas emocionalmente, patinando com valores apodrecidos, velhos. Acho isso bonito no roteiro e no filme, a maneira como Esmir e Ismael colocam isso. Existe uma potência nesse sentido, de tocar em questões profundas."
Verlust estreia no circuito comercial em 05 de novembro.