Victoria, documentário dirigido pelas belgas Sofie Benoot, Liesbeth De Ceulaer e Isabelle Tollenaere, é uma das obras presentes na Competição do 9º Olhar de Cinema, festival que está sendo realizado no formato online em 2020.
O filme, que já passou pelo Festival de Berlim e pelo IndieLisboa este ano, acompanha Lashay T. Warren, jovem pai de quatro filhos que trocou a vida em Los Angeles para viver em uma cidade feita às pressas chamada California City.
Localizada no Oeste dos EUA, a cidade indica ser algo pelo nome, mas na realidade é um projeto que não deu certo. Com ruas vazias e casas afastadas umas das outras, o local emana contemplação e solidão ao mesmo tempo -- e o protagonista entrega ambas as características em sintonia, como resultado de uma escolha que mudou sua vida.
Olhar de Cinema 2020: Agora, da diretora Dea Ferraz, aborda o corpo como espaço de existência e expressãoÉ interessante ver que a abordagem das diretoras, composta por seus olhares estrangeiros, faz com que Victoria ganhe certa distância entre elas e o objeto abordado. Isso resulta em um filme que vai contra a imagem que os EUA possuem diante do resto do mundo -- além de apresentar erros estratégicos em pleno deserto que refletem diretamente na rotina de pessoas que buscam uma vida melhor.
Vivendo à deriva em um local não só isolado como também incompleto, a sensação que o espectador pode ter ao assistir Victoria é a de como o Estado pode ser tão negligente e de que como a sociedade está passível de ser reprimida mesmo em um espaço tão aberto, tingido pela falsa aparência de normalidade.
Victoria é uma obra digna de reflexão e que conversa muito com o atual momento no mundo. As instituições falham com as pessoas e, ainda assim, permanecem agindo como se elas tivessem qualquer tipo de apoio ou que nada de errado estivesse acontecendo -- por mais que isto aconteça tão abertamente, em plena luz do dia (do jeito que as diretoras escolhem realizar seus registros).