O documentário Agora, da diretora Dea Ferraz, é um dos filmes mais peculiares apresentados até agora no Olhar de Cinema 2020.
Tanto no estilo cênico como na composição de um cenário único, este é um filme que se apropria da linguagem a partir do corpo humano -- aproveitando algo que todos possuem, mas utilizando-o como forma de comunicação libertadora, sem se limitar à voz. Os corpos se transformam no cenário de Agora, falando cada vez mais.
Com a proposta aparentemente simples de apresentar sentimentos através do próprio corpo, a obra conta com a presença de artistas e ativistas reunidos dentro de um espaço vazio único, escuro e limitado, dentro do quadro que a câmera é capaz de captar.
Ferraz utiliza a câmera como dispositivo de limitação e, ao mesmo tempo, de libertação. Vemos o espaço se expandir a partir dos movimentos captados. Contando com a entrega (não só física como mental) das pessoas ali presentes, a diretora registra movimentos improvisados e em completa sintonia com suas angústias, alegrias, dúvidas e questões internas.
É muito interessante ver que Agora se propõe a ampliar o significado de seu título com tanta intensidade, focado no momento presente. Quando Ferraz diz a palavra em voz alta, participando ativamente de seu filme, os movimentos dos artistas param, voltam, se embaralham em palavras e gritos cheio de sentimento.
Em debate sobre seu filme no YouTube do festival, Dea Ferraz deixou suas impressões sobre sua obra. "É muito forte pensar neste desprendimento da imagem através do corpo. Pra mim isso já dizia muito da dimensão que o filme tomaria, no sentido do corpo como esse lugar de memórias e histórias, de uma comunicação direta. O corpo é capaz de dizer muitas coisas para nós. É um espaço de existência, a única casa que temos", disse. Confira o bate-papo completo aqui.