Há dois meses, Vaga Carne e Sete Anos em Maio deveriam ter estreado juntos no cinema. Dois média-metragens unificados em uma só sessão já era algo inédito por si só, mas infelizmente os cinemas do país foram fechados pouco antes da estreia, no mês de março, por conta do coronavírus.
No entanto, o AdoroCinema entrevistou Grace Passô e Affonso Uchôa, idealizadores de ambos os filmes, pouco antes de a quarentena ser implementada em São Paulo. Atualmente, no mês de maio, Vaga Carne e Sete Anos em Maio estão disponíveis no site da Embaúba Filmes (Vaga Carne também está disponível na Spcine Play).
Nas entrevistas, Passô e Uchôa comentaram a linha que une ambos os filmes: "Eles são diferentes mas com coisas em comum. É engraçado. É um tipo de pareamento que eu gosto, pois ele não é tão evidente. Acaba que, como a relação não é evidente, ela se manifesta num sentido de mistério e isso permeia por ambos os filmes. Eu gosto de como estes são filmes de monólogos - muito diferentes entre si, em sentidos e construções, mas é possível ver semelhanças quando vemos os atores falando ininterruptamente, por um longo período de tempo", diz Uchôa.
A IMAGINAÇÃO CONTIDA NOS MONÓLOGOS
"A ideia de juntar os dois filmes foi da Embaúba", explica Passô. "Foi um modo criado para que um formato tão difícil de ser incorporado no cinema, no mercado, pudesse também circular normalmente. A união de dois médias-metragens foi para criar uma experiência com duração mais compatível com o que está no mercado. Eu e Affonso somos de Belo Horizonte. Já acompanhávamos o trabalho um do outro. Eu, Ricardo Alves Júnior [co-diretor de Vaga Carne] e Affonso somos similares enquanto artistas. E a similaridade entre os filmes... Eles têm esses dois personagens que narram acontecimentos. Através da palavra, eles evocam grandes acontecimentos. Essa ideia de personagens que narram e que através da palavra criam uma imagem, tem muito a ver com os dois filmes."
MERCADO
Sobre a pouca inserção de curtas e médias-metragens nos cinemas do país, Passô reflete que, talvez, a preocupação precisa recair em outro lugar. "Talvez a gente tenha que se preocupar menos com o mercado, porque talvez seja algo que não tenhamos tanto controle. Na verdade, o jeito é tentar achar estratégias para furar padrões já impostos por esse mercado. A ideia da Embaúba é uma proposta, um modo desses filmes circularem. Há certas experiências que não estão no mercado mais comum. Normalmente o mercado não arrisca. Acaba que nós, artistas e distribuidoras, temos de pensar em outros modos de agir. Acho que tudo isso pode acontecer se as pessoas que fazem cinema neste país tiverem possibilidade de criar e estruturar seus projetos. Tudo isso pode acontecer e faz muito sentido que aconteça", diz.
Uchôa concorda e também deu exemplos de como o mercado cinematográfico funciona ao redor do mundo. "Se mais médias-metragens forem feitos, se os cineastas também se libertarem dessas amarras, talvez isso possa pressionar para que um espaço seja aberto. Preferi ser honesto com o que o meu filme é, um média, e não pensei muito na inserção. Mas tivemos sorte porque o filme ganhou um espaço tremendo, mais do que imaginava. Há muitos festivais lá fora que não fazem distinção com duração de um filme e isso nos ajudou muito. Mas no Festival do Rio do ano passado eles também colocaram o Sete Anos em Maio na competição de longas. Não é tão recorrente no Brasil, mas lá fora já existem festivais mais múltiplos."