NOTA: 2,5 / 5,0
Ao abordar as dificuldades psicológicas de uma pessoa que nasceu e cresceu dentro de um ambiente familiar tóxico e, sobretudo, que tornou inacessível um caminho benéfico para a própria vida, o diretor Joe Robert Cole entra em um universo delicado. Tal visão de mundo não é amplamente abordada no cinema, portanto já é de causar certo tipo de interesse do espectador para que uma compreensão maior seja dada a estas pessoas - sobretudo jovens - que perdem o poder da escolha em determinado ponto da vida.
No entanto, em Dias Sem Fim a força da mensagem que o diretor quer passar se perde no meio de um emaranhado de tramas paralelas. É claro que todas elas visam delinear o passado, presente e até mesmo o futuro do protagonista Jah (Ashton Sanders), mas a jornada de auto-descoberta que o jovem faz quando é preso na mesma unidade que o pai se encontra não ganha camadas suficientes para se tornar tridimensional.
Trama do filme entra em um looping contínuo de incertezas e violência
Há uma série de diálogos que não contextualizam completamente as motivações de Jah (algumas são respondidas, mas apenas próximo ao final) e, além disso, o uso de flashbacks não contribui num desenvolvimento mais profundo de seus traumas e receios. O roteiro, que poderia entregar uma visão diferenciada do jovem e amplificar a importância de tal aprofundamento de uma vida marginalizada, acaba por ser o elemento mais fraco de Dias Sem Fim, pois não aproveita o potencial completo do enredo.
O grande brilho do filme está na relação conturbada de Jah com seu pai JD (Jeffrey Wright, muito bem no papel de um homem tão perdido e violento que transporta boa parte de seus receios para o filho). Tal relacionamento direciona toda sua forma no aspecto mais interessante da trama: o de como um filho, neto ou sobrinho pode ser capaz de "quebrar a maldição" e se afastar de uma vida de crimes e problemas que têm chances de perdurar para sempre.
Durante boa parte do tempo, Dias Sem Fim prolonga-se na angustiante sensação de que os personagens andam em círculos, tentando procurar uma saída para as situações nas quais se encontram, mas sem saber de fato se aquilo será o fim da linha. Com isso, o espectador também pode se sentir angustiado. De certa forma, essa parece ser a intenção de Cole, mas a intensidade que ele busca passar não chega com a força máxima no fim do terceiro ato - nem mesmo com uma direção consistente e um ótimo primeiro ato.