Em Sergio, o novo papel de Wagner Moura no cinema, é o de uma figura real que marcou o cenário político de uma época. Sergio Vieira de Mello foi um diplomata da ONU que trabalhou por 34 anos em diversas missões ao redor do mundo, transmitindo ideias e projetos a favor da democracia em locais dominados pela violência e repressão.
O novo filme original Netflix tem a direção de Greg Barker, mesmo cineasta que lançou, em 2009, um documentário homônimo sobre o diplomata brasileiro para a HBO. Uma década depois, é curioso observar que Baker produziu tanto um drama quanto um filme documental sobre a mesma figura política. Mas, ainda assim é possível apontar diversas mudanças entre os projetos. Confira as principais abaixo:
Mais romance na ficção
O drama de 2020 também conta com Ana de Armas no papel da funcionária da ONU Carolina Larriera. Ela era companheira de Sergio há anos e estava presente no atentado que tirou a vida do diplomata. O relacionamento de ambos é grande fio condutor da narrativa, pois é nos diálogos entre Sergio e Carolina que vemos a dificuldade do protagonista em dizer "não" às suas obrigações profissionais - inclusive aquela que o levou ao Iraque, local de sua morte.
No documentário de 2009, a presença de Larriera é bem marcada por várias entrevistas, mas não vemos apenas seu ponto de vista ao longo da narrativa, como acontece na ficção. Há depoimentos de outras pessoas que conviviam com Sergio e o conheciam bem. Ou seja, o romance do casal não é o foco do documentário.
Gil Loescher
Aos créditos finais de Sergio, um breve texto explica ao espectador que o personagem interpretado por Brían F. O'Byrne não trabalhou ao lado do diplomata no Timor-Leste ou no Camboja, como o filme deixa explícito. O diretor Greg Barker quis unir em um só personagem todos os colegas de Sergio na ONU, assim como demonstrar suas reações às medidas do profissional em táticas de manutenção da paz em suas missões.
No documentário, a presença de Loesher também é forte, com longas entrevistas em que ele relembra a relação que tinha com Sergio e o tempo que passou ao lado dele nos escombros após o atentado no Iraque.
Detalhes do resgate
A biografia Samantha Power, “O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello”, foi o texto de base para toda a passagem do filme em que Mello estava nos escombros após o ataque da Al Qaeda na sede da ONU no Iraque. No entanto, detalhes que estavam no documentário ficaram de fora da ficção.
No documentário, o sargento Andre Valentine foi alguém essencial nesta passagem definitiva nas vidas de Loescher e Mello, que ficaram presos ali. Valentine motivou os dois homens a manterem sua fé em Deus para sobreviver. Por não ser religioso, Mello não respondeu à afirmação, dizendo que "se Deus fosse quem você diz que é, ele não teria me deixado aqui".
Na ficção, isso ficou de fora, com várias passagens em que Sergio sonha em estar na praia com seus filhos e Carolina ocupando este lugar. Outros detalhes mais assustadores também não entraram no longa-metragem, como por exemplo a cena em que Loescher é retirado dos escombros. O espaço em que ele e Sergio estavam era muito estreito e havia vários cadáveres ao redor. Para conseguir retirar Loescher, sargentos precisaram cortar um dos corpos ao meio que estavam bloqueando a saída.
Sergio está disponível na Netflix. Leia a crítica aqui.