A lista de 18 filmes que fazem parte da Competição do Festival de Berlim 2020 é bem diversa: há uma biografia do pintor italiano Antonio Ligabue; o novo filme de Hong Sang Soo, The Woman Who Ran; um drama íntimo sobre uma jovem que deseja abortar sua gravidez; um conto sombrio envolvendo três famílias italianas, e muito mais.
Contudo, há determinados filmes como Siberia, Berlin Alexanderplatz e, o principal, DAU. Natasha, que têm uma atmosfera diferente, que exige total imersão. O último filme citado é uma co-produção entre Alemanha, Rússia e Ucrânia e foi exibido na reta final da programação. Chocou público e crítica por não se limitar à crueldade do ser humano, e pior: por não encenar absolutamente nada.
DAU. Natasha é baseado em uma instalação que foi criada em Paris, no ano de 2009. Logo, uma base na Ucrânia foi construída para recriar a sociedade soviética que sofreu com o stalinismo. O estúdio de cinema possuía uma espécie de instituto de ciência e pesquisa, com direito até a um bar/restaurante (local em que a protagonista do longa trabalha).
São detalhes minuciosos que tornam DAU. Natasha tão aterrador, pois o realismo não para nos cenários e vai adiante até chegar ao roteiro, que é praticamente nulo. Há cenas de sexo explícito, violência explícita e discussões com personagens embriagados. Inclusive, a cena de abertura do longa já é demarcada por um contraste incômodo: as garçonetes do restaurante começam a discutir e, em poucos minutos, saem nos tapas, empurrões e puxões de cabelo.
Tudo em cena é absolutamente real e não temos dúvida disso em nenhum momento. Mas a pergunta que fica é: Até que ponto a cultura da perturbação no cinema pode ser vista como arte? Quando sabemos até onde vai a linha tênue entre chocar por uma razão narrativa ou chocar, simplesmente, para deixar o espectador refletindo apenas sobre o impacto visual? Quando não há mensagem por trás desta intenção, o resultado pode se tornar muito oco - e este é o caso de DAU. Natasha, de longe o filme mais polêmico desta Berlinale.