A seleção da Berlinale 2020 está indo muito, muito bem. As escolhas para a Competição estão se mostrando cada vez mais interessantes e diversas - afinal, se no primeiro dia vimos uma comédia com tons de suspense e uma cinebiografia italiana, ontem (22) pudemos conferir três obras ainda mais distintas. E uma delas é brasileira!
A primeira sessão foi a de First Cow, da cineasta Kelly Richardson. Com produção da renomada A24 (de Hereditário e Joias Brutas), o filme narra a história de dois homens que buscam apenas sobreviver e acabam encontrando um meio de obter sucesso em uma parceria culinária - isso tudo nas florestas americanas do século XXI.
A narrativa é serena do início ao fim, o que dá ênfase na luta diária da dupla de forasteiros que se encontra por uma inusitada coincidência. Apesar da premissa simples, First Cow abre espaço para reflexões com um visual de tirar o fôlego. Durante os créditos finais, o filme recebeu muitos aplausos da imprensa. Seria esse o favorito por enquanto?
Phillipe Garrel também compõe a seleção competitiva da Berlinale. Seu novo filme, The Salt of Tears, é moldado pelo puro estilo da Nouvelle Vague: temos narração em off, planos abertos que mostram a vida na cidade e personagens que remetem à filmes como Jules e Jim. O próprio protagonista é uma espécie de wannabe Antoine Doinel, mas deste intuito o filme passa (bem) longe. Por ser extremamente controverso em suas atitudes para com diversas mulheres com quem se relaciona, é difícil se conectar ou torcer pelo personagem, uma vez que ele sempre está imerso em suas vontades egoístas e realmente machistas.
Já para encerrar o sábado de frio, nada melhor do que um filme brasileiro, não? Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, foi exibido à imprensa antes de estrear oficialmente para o público neste domingo (23). O filme é um dos mais interessantes da Competição até o momento e imprime na tela inúmeras questões sociais e raciais do Brasil. Os diretores brincam com a linha temporal de um modo que nos faz questionar: quem são os verdadeiros fantasmas? Aqueles que sofreram ou aqueles que ainda vivem no passado? Num passado sujo, doente pelo preconceito e pelas amarras que permanecem ali, mesmo invisíveis? Definitivamente esta é mais uma prova do quão rico é o cinema brasileiro - ainda mais quando ele se aproveita dos traumas não superados de nosso país.
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