Em meio a tantas opções de filmes para assistir em festivais, há sempre aqueles que se tornam os mais aguardados, seja pela trajetória em outros eventos ou pelos nomes que compõem elenco, direção e equipe técnica. Neste 52º Festival de Brasília, as atenções estavam voltadas, principalmente, para A Febre, de Maya Da-Rin, e Piedade, de Claudio Assis, dois dos favoritos ao Candango de melhor filme.
Diante disso, é válido ressaltar outras produções que, justamente por não estarem entre as mais badaladas, acabaram surpreendendo público e crítica ao exibir suas qualidades no Cine Brasília.
Alice Júnior
É verdade, Alice Júnior já vinha fazendo uma importante trajetória em festivais Brasil afora, mas o de Brasília serviu, de certa forma, como chancela. A capital federal não sedia apenas o mais tradicional evento de cinema brasileiro, mas também o mais engajado, combativo, questionador e inflamado. O número de polêmicas e fortes reações geradas ao longo da programação é a maior prova disso. Em um contexto como este, ver a calorosa recepção do longa de Gil Baroni foi, certamente, um dos pontos mais altos da semana. Não à toa, o filme foi o segundo maior ganhador desta edição (atrás apenas de A Febre), com quatro Candangos: melhor atriz para Anne Celestino, atriz coadjuvante para Thais Schier, trilha sonora e montagem.
Para quem não teve a oportunidade de assistir ao longa nos festivais, Alice Júnior chega aos cinemas brasileiros no dia 4 de junho de 2020.
Rodantes
Independente de qualquer juízo de valor sobre a obra de Leandro HBL, muitos que assistiram a Rodantes se perguntaram: “como pode não estar na Mostra Competitiva?”. Para seu primeiro trabalho à frente de um longa, o diretor demonstra impressionantes maturidade e controle sobre o material. “Simples em estrutura e com um ritmo que engaja pela fluidez e naturalidade com que passeia pelos acontecimentos na vida dos três personagens principais, o filme de Leandro HBL funciona em vários níveis de imersão, indo do contemplativo a uma emocionante cena de ação com maestria.”. Confira a crítica completa.
Carne
Por dias, não se falava em outra coisa: Carne, o impressionante curta-metragem dirigido por Camila Kater, exibido na segunda noite de festival, ao lado de Piedade. Não foi surpresa alguma ver o curta levar o troféu Candango em algumas das categorias mais disputadas: melhor roteiro pelo júri oficial, melhor curta-metragem pelo júri popular e melhor curta-metragem no prêmio da Abraccine. O projeto cria uma metáfora para fazer um comentário social sobre a corporeidade da mulher através dos estados de cozimento da carne: cru, mal passado, ao ponto, passado e bem passado. Poderoso em discurso e estética, a animação é narrada por mulheres em diferentes faixas etárias da vida, entre elas Helena Ignêz, ícone do cinema brasileiro.
Dulcina
Apesar do formato convencional, o documentário Dulcina ganha força em seu discurso, principalmente por destacar os feitos e conquistas de Dulcina de Moraes, uma das atrizes de teatro mais importantes do Brasil. Incluindo entrevistas com grandes ícones nacionais, como Fernanda Montenegro, Nicette Bruno, Françoise Forton e Theresa Amayo, o filme dirigido por Glória Teixeira foi um dos mais ovacionados pelo público em sua exibição. Além disso, arrebatou quatro troféus Candango: melhor longa-metragem pelo júri popular, melhor longa da Mostra Brasília pelo júri técnico, melhor direção de arte e melhor atriz, prêmio dividido entre Bidô Galvão, Carmem Moretzsohn, Iara Pietricovsky, Theresa Amayo, Glória Teixeira e Françoise Fourton.
Escola sem Sentido
Outro que se tornou um verdadeiro fenômeno no Festival de Brasília foi o curta-metragem Escola sem Sentido. Ovacionado sempre que citado pelos apresentadores, o filme de Thiago Foresti acompanha Chicão, um professor de História apaixonado por sua profissão. Ao ter uma de suas aulas filmadas por uma estudante, os pais da garota o acusam de doutrinação ideológica, e o caso ganha proporções inimagináveis até então. O curta levou para casa quatro troféus Candango: prêmio Saruê, do jornal Correio Braziliense, melhor curta pelo júri popular, melhor curta da Mostra Brasília pelo júri técnico, melhor ator para Wellington Abreu.