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    Festival de Brasília 2019: Loop e a controversa romantização do feminicídio

    Filme estrelado por Bruno Gagliasso foi motivo de grande debate após exibição no Cine Brasília.

    Loop, dirigido por Bruno Bini e estrelado por Bruno Gagliasso, é um dos filmes de caráter mais comercial nesta edição do Festival de Brasília, tanto pela temática quanto pela presença de um ator global no elenco. O projeto também se destaca pelo fato de ser uma ficção científica sobre viagem no tempo e o primeiro longa-metragem mato-grossense selecionado para a Mostra Competitiva do evento.

    Em meio a tantas conquistas, ninguém poderia imaginar que o filme acabaria se tornando o centro de um controverso debate no dia seguinte à sua estreia, que aconteceu na noite de quarta-feira (28). Na presença do diretor e de Branca Messina, intérprete de Simone, a irmã do protagonista, a atriz e diretora Ana Flávia Cavalcanti, que na mesma noite apresentou seu curta-metragem Rã, pediu a palavra para apontar o que ela considera grandes equívocos na obra de Bini.

    Para Cavalcanti, dentre os muitos problemas do filme está o fato de “romantizar o feminicídio”. Antes de mais nada, é válido ressaltar que, no restante do texto, algumas passagens do longa serão citadas e podem conter spoilers.

    Na trama, Daniel (Gagliasso) perde a namorada Maria Luiza (Bia Arantes) em um terrível assassinato. Para salvá-la, ele precisa descobrir a fórmula que torna possível viajar no tempo e impedir a tragédia. No terceiro ato, é revelado que, na verdade, foi o próprio Daniel quem a matou, e, diante da culpa, tenta retornar ao momento chave para reescrever a história. 

    Por ser uma trama voltada unicamente para as motivações e dores do personagem de Gagliasso, e este ser um assassino em busca de redenção, Cavalcanti fez questão de ressaltar o quão problemático era tornar esse homem uma espécie de herói para quem o espectador inevitavelmente vai torcer.

    Embora a discussão tenha sido acalorada, o saldo final foi positivo. Tanto Bini quanto Messina ressaltaram a importância de ouvir o público no sentido de promover problemáticas que, até então, não tinham sido identificadas pela equipe.

    “Estou processando essa discussão como uma grande oportunidade. A mudança é urgente, a gente precisa se reinventar, então nada como esse momento pra gente exterminar essas estruturas racistas, machistas e misóginas que nos habitam”, afirmou Messina. “É duro [ouvir as críticas], porque quando você faz um filme você dá tudo de si, não duvido que o Bruno deu o seu melhor, mas é urgente que ele transforme o melhor dele, como eu preciso transformar o meu”, completou.

    Bini também falou a respeito e seguiu com um discurso similar. “Eu acho os debates de festivais de cinema interessantes porque eles trazem visões diversas, a gente está aqui para se contaminar, absorver novas ideias, ouvir e ver como o público recebe isso”, disse.

    Loop é um dos concorrentes ao troféu Candango da Mostra Competitiva de Longas-Metragens. O premiado será anunciado no próximo sábado, no Cine Brasília.

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