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    Princesa da Yakuza: Diretor Vicente Amorim compara sua história sobre máfia e identidade com a de Michael Corleone (Visita a set)

    Baseada na HQ "Samurai Shirô", de Danilo Beyruth, longa tem como protagonista jovem que se descobre herdeira da máfia japonesa.

    O novo filme de Vicente Amorim (Motorrad), Princesa da Yakuza, não só é um thriller mas também uma jornada do herói - ou melhor, da heroína. Em São Paulo, no bairro da Liberdade, a jovem Akemi (Masumi) se descobre herdeira de metade do clã da Yakuza de forma inesperada e logo se encontra num caminho cheio de violência para seguir. Ao lado de um mafioso e um hitman sem memória, Akemi terá forças para conhecer seu passado e, assim, moldar seu destino à própria maneira.

    Com previsão de estreia para 2020, Princesa da Yakuza já teve suas filmagens encerradas em São Paulo, no mês de outubro. O AdoroCinema acompanhou um dia de trabalho da equipe no set, no interior da cidade, e entrevistou Masumi, o ator Jonathan Rhys-Meyers (intérprete do homem sem memória), além de Amorim e o produtor LG Tubaldini. A cena que conferimos contou com ambos os atores em um momento de suspense e revelações sobre a situação de Akemi, que já aparentava estar preparada para enfrentar inimigos e cumprir sua missão enquanto herdeira.

    UMA PRINCESA FORTE

    Em primeiro trabalho no Brasil, a cantora japonesa Masumi afirmou que a oportunidade de estar em um filme brasileiro como protagonista, além de inédita, foi marcante. "Eu nunca havia trabalhado em um filme antes, então estava bem preocupada com o processo. Mas quando conheci Vicente Amorim eu fiquei bem confortável. Ele sempre se comunicou bem comigo, me sinto feliz por trabalhar com ele."

    Sobre sua personagem, Masumi deu várias características que a transformam num verdadeiro exemplar de uma heroína completa. "Akemi está incerta sobre seu propósito na vida. Ela é jovem mas é rudemente despertada por seu destino real e seu passado. E, é claro, ela cresceu sem seus pais por perto, o que não é algo comum, não é como 'todo mundo'. Mas, como todos nós, luta para saber quem é de verdade. A história do filme gira em torno da sua jornada, com ela se descobrindo, indo de encontro com sua própria singularidade e poder. É claro que o mundo da Yakuza é um mundo único, mas todos nós meio que queremos encontrar nosso propósito. E acho que é isso que ela descobre: ela se torna dona de si. Todos temos um herói dentro de nós e ela consegue encontrar essa pessoa com sucesso - mesmo com toda a loucura que acontece."

    De tão forte, o produtor LG Tubaldini compara o universo em que Akemi vive com o de O Poderoso Chefão: "Este filme é sobre uma heroína que não só se encontra, mas se constrói. Ela pega todos os elementos que vieram de sua tradição e cria sua princesa. Comparando com um filme que mostra uma jornada semelhante, é como se fosse um O Poderoso Chefão de saias, porque ela originalmente não está na máfia e vive uma vida comum - até que há um chamado e ela o honra com a própria voz. Não quero dar spoiler, mas... Ela é a princesa da Yakuza, mas é a Yakuza dela. A palavra 'princesa' é quase enfadonha, mas aqui é a princesa que se salva, e não que precisa ser salva."

    Vicente Amorim completa: "Este é um thriller sobre amadurecimento e conta a história dessa garota que, após ver o avô ser assassinado, passa a ser perseguida por um yakuza e protegida por um mercenário amnésico. Ela descobre que é e tem dentro de si uma assassina. Assim como Michael Corleone acorda para ser quem ele é. É o despertar de uma personagem forte."

    DE THE TUDORS PARA O BRASIL

    Jonathan Rhys-Meyers, ator vencedor do Globo de Ouro pela minissérie Elvis, demonstrou satisfação por fazer parte de um set como o de Princesa da Yakuza e ainda comparou esta experiência com as que já viveu no mercado internacional. "Eu faço muitos filmes independentes. Então, essa é a melhor maneira de trabalhar para mim, não gosto de fazer grandes épicos porque você não trabalha realmente com as pessoas. Sempre há muita pressão para que tudo aconteça bem. Se houver muito dinheiro por trás disso, todo mundo tem medo de não ganhá-lo de volta. E isso interrompe o processo criativo, assim como atrapalha o trabalho dos diretores e atores. Isso só atrapalha, porque os atores não podem se arriscar com suas performances. As pessoas querem resultados garantidos, mas bem, essa é uma forma de arte. Você não tem garantias. Na corporação da indústria cinematográfica, não se pode tratar o tipo de criação de entretenimento da mesma maneira que as pessoas que trabalham em um banco. Não funciona assim. Você sabe o que eu quero dizer? Não se pode simplesmente criar das oito às seis todos os dias da mesma maneira", diz.

    "No set de Vicente eu sinto que tenho essa liberdade criativa e, além disso, sei o nome de todas as pessoas da equipe. Quando trabalhei em Missão Impossível 3 havia quatro equipes diferentes no set. Eu nunca sabia com quem eu estava trabalhando em nenhum momento. Quero dizer, eu literalmente não consigo me lembrar de ninguém além de J.J. Abrams e alguns atores... Não consigo lembrar de ninguém com quem trabalhei neste filme", completa o ator, reforçando a opinião de que quanto mais integrada a equipe está com o filme, melhor será o resultado.

    ORIGEM DA HISTÓRIA

    Tubaldini também nos contou que já pensava em fazer um filme sobre a Princesa da Yakuza logo que o criador da HQ Samurai Shirô, Danilo Beyruth, começou a escrever a história. "Quando o Danilo me contou da ideia deste quadrinho, anos atrás, falei: 'Você precisa escrever isso'. Conforme eu lia as páginas que ele ia mandando, pensei que havia um filme ali, claramente. Enquanto ele fazia a HQ eu já estava pensando nisso. Quando a HQ estava quase pronta, com a história já desenhada, convidei o Vicente para o time. Havia feito Motorrad com ele e foi uma experiência muito boa. Foi assim que tudo começou."

    Sobre a ambientação do filme, o produtor comenta: "O projeto tem a Liberdade como bairro, mas é a Liberdade da nossa cabeça. Tanto é que a Liberdade de hoje quase não é um bairro japonês, é um bairro asiático, praticamente. A ideia de ambientar um universo que supera a realidade tem tudo a ver com o mundo da fantasia que queremos fazer, do gênero e do quadrinho. Isso somou muito. Por incrível que pareça, apesar da nossa Liberdade ser completamente fantasiosa, ela talvez esteja mais próxima da memória que as pessoas têm do que é o bairro do que de fato é o bairro hoje. Acho que a narrativa que o Vicente encontrou ali foi muito precisa, foi um grande acerto." 

    FILME DE GÊNERO E FANTASIA COM RAÍZES BRASILEIRAS

    Para Amorim, fazer um filme como Princesa da Yakuza é uma grande realização tanto pessoal quanto profissional. "Eu venho num processo de alguns anos de querer cada vez mais fazer um cinema pop, de gênero especialmente. Fazer gênero no Brasil sempre foi muito difícil pois não havia produtores que acreditassem na ideia; portanto, não aparecia o dinheiro para fazer esse tipo de filme. Um dos primeiros roteiros que fiz era de um filme de zumbi, que eu rodei enquanto estava começando a dirigir e ainda estava mais na publicidade do que no cinema. Ninguém quis produzir. E assim continuou por muitos anos. Segui a cartilha de drama social, biografias, um pouco de televisão... Mas sempre fui nerd e tentei contrabandear para meus filmes elementos de gênero. Corações Sujos é um filme de samurai, por exemplo. Quando eu vi que a maré estava mudando e parecia ser possível fazer gênero no Brasil, agarrei a oportunidade", explica.

    Tubaldini também comenta que além desse ser um filme de gênero, o conceito de jornada do herói se faz muito presente. "A jornada do herói está em praticamente todas as histórias, não só as de gênero. Até quando você acha que não está. O que me move nesse caso é a fantasia. Como produtor, me encanto por realizar trabalhos ligados a isso. E, além da fantasia, me envolve o desafio de fazer coisas diferentes. O que há de mais relevante nesse projeto é fazer um tipo de cinema que mal existe no Brasil. O elenco é praticamente uma torre de babel, tem japonês, brasileiro, americano, irlandês, etc... Foi um desafio montar este elenco por conta das línguas - o filme tem três línguas diferentes - e também por encontrar pessoas com aptidão para cenas de luta. Mas encontramos essa trinca de atores formada por Masumi, Jonathan e Tsuyoshi Ihara (que trabalhou com Clint Eastwood em Cartas de Iwo Jima), que estão sendo um golaço."

    MOMENTO DE MUDANÇAS NO CINEMA BRASILEIRO?

    Quanto à época nebulosa do cinema brasileiro no momento, com cortes na cultura e na resistência de festivais, Tubaldini dá sua opinião: "O que está acontecendo é que há uma vontade de mudar, e essa vontade por vezes é um pouco nebulosa. Em nenhum momento pode-se pensar em censura, em nenhum momento pode-se pensar em limitar o cinema, porque é justamente da liberdade que sai a criatividade. Se você limita na fonte, você está limitando no lugar errado. E o que eu sinto é: fazer esse tipo de cinema que já se faz pouco, ainda mais nesse momento que vivemos, é uma conquista do cinema brasileiro, do Brasil como um todo. É poder levar imagens que as pessoas lá fora vão ver e falar 'Cara, tem brasileiro fazendo isso?!'. Esse é um ponto muito importante. Temos que tomar muito cuidado para não desmontar o que é bom, porque às vezes o Brasil tem um pouco disso. Não é para matar tudo e montar do zero. A indústria cinematográfica gera muitos empregos no país; aqui por exemplo temos mais ou menos 115 pessoas no set - e há dias em que temos 350. Então, enfim, falta informação para as pessoas em geral. A hora que você mergulha nos dados e fatos você vai ver que faz muito sentido existir o apoio à indústria cinematográfica, não só pelo lado cultural como pelo lado econômico."

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