Depois da polêmica e divisiva temporada final de Game of Thrones, David Benioff e D.B. Weiss foram rápidos em encontrarem próximos projetos: a dupla já havia assinado um acordo com a Lucasfilm para desenvolver e dirigir uma nova trilogia de Star Wars, e alguns meses depois firmou um multimilionário acordo de produção com a Netflix. Segundo novas informações divulgadas pelo The Hollywood Reporter e pela Variety, um acordo engoliu o outro e esse foi um dos motivos que fizeram a dupla desistir da investida na ópera espacial criada por George Lucas.
Enquanto o comunicado oficial, divulgado na madrugada da última segunda-feira (28) no Brasil, afirmava que o afastamento de Benioff e Weiss de Star Wars foi uma decisão tomada pela dupla e aceita amigavelmente pela Lucasfilm e por sua presidente, Kathleen Kennedy, os novos relatos apontam que havia de fato um conflito de interesses entre as duas partes e uma divergência a respeito de controle criativo dos novos títulos.
Segundo a Variety, Benioff e Weiss pretendiam explorar em sua trilogia as origens dos Jedi. No entanto, os executivos da Lucasfilm começaram a divergir das visões da dupla. As pressões aumentaram quando foi divulgado o acordo de US$ 250 milhões assinado com a Netflix, o que deixou claro que eles estavam ansiosos por novas oportunidades.
À época, a Netflix chegou a afirmar não estar preocupada com o fato de eles já terem um acordo com a Disney, que precisariam honrar antes de começarem a produzir para o streaming — ou equilibrar mais de uma empreitada ao mesmo tempo: "Não vai demorar 10 anos até a Netflix ver o primeiro rendimento", afirmou uma fonte ao THR. "David e Dan têm muita ambição."
David Benioff e D.B. Weiss, de Game of Thrones, fecham acordo milionário com a NetflixNo entanto, novas fontes declaram que a gigante do streaming estava receosa de ter que esperar cerca de quatro anos para que eles finalizassem o trabalho em Star Wars, e gostaria que Benioff e Weiss focassem em conteúdos exclusivos para a plataforma, sobretudo levando em consideração a iminente concorrência de Disney+, HBO Max e Apple TV+.
Já o The Hollywood Reporter conta que a saída de Benioff e Weiss estava sendo preparada desde agosto, e que a própria Kathleen Kennedy estava insatisfeita com o contrato de ambos com a Netflix, oficializado justamente quando estava agendado o início das produções do novo Star Wars. Kennedy não estava convencida de que a dupla conseguiria desenvolver toda uma trilogia de ficção científica ao mesmo tempo em que supervisionaria os supostos novos projetos para a Netflix. Eles deliberadamente atrasaram o início dos trabalhos em Star Wars pois queriam terminar a temporada final de Game of Thrones antes de iniciarem qualquer outra coisa, e há de se levar em consideração que eles são, de fato, inexperientes em conduzirem mais de um projeto ao mesmo tempo. Ryan Murphy assinou um contrato de US$ 300 milhões com a Netflix e, dois anos depois, já está trabalhando em dez projetos diferentes. David e Dan têm em seu currículo apenas 73 episódios de uma série de TV feitos na última década.
Ainda de acordo com o THR, o fator do "fandom tóxico" também influenciou diretamente na decisão de David Benioff e D.B. Weiss em romper com a Lucasfilm. Afinal de contas, a recepção nada amigável da temporada final de Game of Thrones fez a dupla desistir de comparecer ao painel final da série na San Diego Comic-Con. Aliado a isso, há o fato de que parte dos fãs de Star Wars de fato chegou a se comportar de forma bastante nociva na internet, chegando a expulsar personalidades como Daisy Ridley e Kelly Marie Tran da internet, além dos grandes ataques sofridos por Rian Johnson após Star Wars: Os Últimos Jedi. "Quem quer passar por aquilo de novo? Não eles", afirma uma fonte ao THR. "Isso estava na categoria do 'a vida é muito curta'."
Criadores de Game of Thrones admitem que cometeram erros na sériePor fim, a grande preocupação da indústria gira em torno do extremo controle criativo exercido por Kathleen Kennedy na Lucasfilm. Josh Trank foi demitido de um spin-off de Star Wars em 2015; Chris Miller e Phil Lord foram afastados do spin-off de Han Solo no meio das filmagens, e substituídos por Ron Howard, no mesmo ano em que Colin Trevorrow foi desligado do Episódio IX e o posto de diretor foi entregue a J.J. Abrams, que há havia comandado o Episódio VII, Star Wars: O Despertar da Força. Não bastasse, a produção de Rogue One também passou por um conflito, quando Tony Gilroy foi envolvido para refilmar e reescrever parte do longa idealizado por Gareth Edwards.
O que a indústria teme é que esse grande fluxo de "desligamentos" tenha a ver com uma crise na identidade e na força de Kennedy em frente à Lucasfilm. "É como se, quando você assume um trabalho como diretor ou criador de Star Wars você é automaticamente jogado no Poço de Sarlacc, e as suas chances de saír e fazer o filme são tão improváves que você quase precisa ser um mestre Jedi", afirmou Jeff Block, analista de bilheterias da Exhibitor Relations.
A recente contratação de Kevin Feige para dirigir um filme de Star Wars após o fim da Saga Skywalker levantou novas especulações sobre um possível afastamento de Kennedy, mas tanto o THR quanto a Variety afirmam que as fontes não dizem nada a este respeito.
"Estamos empolgados com os novos projetos da Kathy e do time da Lucasfilm, não apenas em termos de Star Wars mas também com Indiana Jones e no quesito de tocar outras partes da companhia, incluindo Filhos de Sangue e Osso com a Emma Watts e a Fox", afirmou o VP da Disney, Alan Horn. "Com o encerramento da Saga Skywalker, Kathy está buscando uma nova era na narrativa de Star Wars, e sabendo que Kevin é um super-fã, fez sentido que estes dois produtores extraordinários trabalhassem juntos em um filme [da franquia]."