Projeto Gemini - ou o que viria a ser o filme que chega agora aos cinemas - é baseado em um roteiro que circula por Hollywood há pelo menos duas décadas. “Fizemos alguns testes para tentar recriar o Junior, mas não tinha ficado bom. Então, tivemos que esperar a tecnologia nos alcançar”, explica o superprodutor Jerry Bruckheimer (Armageddon).
Junior é o personagem de Will Smith aos 23 anos, o clone que persegue o Will Smith de 51, quando o veterano decide se aposentar como uma espécie de agente 007 do governo, a contragosto dos seus superiores. Junior, como Simba do novo O Rei Leão, é um personagem digitalizado.
A tecnologia a que se refere o produtor resulta em um novo modelo de projeção chamado 3D+. “Filmar em 24 fps [frames por segundo, o equivalente ao 2D tradicional] já dá trabalho, mas com 120 fps, você vê tudo, cada poro do rosto, você tem que usar pouca maquiagem”, exemplifica Bruckheimer.
Apesar da captação (em 120 fps), o novo 3D permite projetar 60 fps. Ainda assim, trata-se de um nível inédito de “nitidez” (para se ter uma ideia, a trilogia O Hobbit, pioneira na extensão desta tecnologia, contou com uma projeção de 48 fps).
Além do hiperrealismo (realista até para a realidade), a imagem do jovem Will Smith digitalizado ativa na memória a lembrança do ator em Um Maluco no Pedaço. A associação é inevitável, mas o diretor desconversa.
"Eu queria captar o carisma, o charme que ele sempre teve em todos os outros filmes que nos afetaram. Tem referências [à série], mas você não pode se limitar a isso, porque antes o processo era diferente, de forma chapada, e ele interpretava papéis diferentes”, comenta Ang Lee.
Conhecido pelo cinema “de arte” (Razão e Sensibilidade, O Tigre e o Dragão), o diretor duas vezes ganhador do Oscar (O Segredo de Brokeback Mountain, As Aventuras de Pi) é um entusiasta das inovações tecnológicas, o que justificaria, segundo Bruckheimer, a escolha dele para comandar um filme essencialmente “pipoca”: “Quando eu fiz Piratas do Caribe, Johnny Depp só fazia filmes de arte. Então, é legal trazer alguém como o Ang Lee, que faz filmes de arte e normalmente não outros tipos de filme”.
Vale lembrar que Lee também tem no currículo um filme de super herói: Hulk, de 2003, portanto, "before it was cool". Mas ele se acha velho demais para retornar a este universo. “Eu sei que é o gênero mais bem sucedido, vale a pena celebrá-lo, mas, em contramão, ele meio que define o que uma atividade fílmica, meio que se torna isso. Eu gosto de ver um filme como uma variedade”, declara.
Agora… na hipótese (pouco provável, é verdade) de Will Smith ganhar um Oscar pelo papel de Junior em Projeto Gemini, quem deveria fazer o discurso? Confira a entrevista no vídeo acima.