Nem só de Angelina Jolie vive Malévola. Entre as novidades de Malévola - Dona do Mal, a sequência do longa de 2014, está ninguém menos que a pessoa à frente deste barco: o diretor Joachim Ronning. Responsável por Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, o cineasta norueguês reúne um elenco de veteranos e novatos na sua mais recente aventura. De volta estão, além de Jolie, Elle Fanning no papel da agora rainha Aurora e Sam Riley como o fiel escudeiro Diaval.
Para Ronning, há um pouco do que o levou para Piratas do Caribe em seu trabalho com Malévola 2. “Sim, nós tivemos um bom relacionamento”, explica, falando sobre a troca com a Disney. “Nós tínhamos os mesmos sentimentos sobre os mesmos elementos, continua sendo assim e a dinâmica realmente funcionou.”
Cinco anos após o lançamento do original, Malévola - Dona do Mal traz uma Aurora apaixonada e novos desafios para a dinâmica familiar. Após aceitar se casar com o Príncipe Phillip (Harris Dickinson), a personagem de Fanning é imediatamente acolhida pela rainha, sua futura sogra (Michelle Pfeiffer), como se fosse sua própria filha. Revoltada, Malévola se opõe ao reino e reúne novos aliados para proteger as terras mágicas que compartilham.
Para o lançamento do filme, o AdoroCinema viajou até Los Angeles e teve a oportunidade de conversar com o diretor, Joachim Ronning, e o ator Sam Riley, intérprete de Diaval. Os dois falaram sobre os desafios técnicos da sequência, o clima familiar nos bastidores e o que os fãs podem esperar da história.
Modo de Fazer
“Esta é a minha segunda sequência”, aponta o diretor sobre o que o conquistou em Malévola - Dona do Mal. “Para mim, você pode ter todo o espetáculo do mundo, ter todos os recursos — especialmente fazendo filmes com a Disney. Mas, no fim do dia, é sobre os personagens e sobre o núcleo emocional da história. Foi isso que me tocou no primeiro filme e o que, na minha opinião, surpreendeu o público ao redor do mundo. Então essa era uma história que eu queria continuar contando. Mas, é claro, você também precisa levá-la a um próximo nível.”
“Então, eu estava interessado em um tipo de história de origem para a Malévola, para que ela descobrisse que não era a única. E tudo isso expandiu o universo. Foi isso que me atraiu”, justifica. “Angelina está sempre muito com a mão na massa quando trabalhamos no roteiro. Eu me sentei com ela muitas vezes para tratar do roteiro. Com tantos roteiristas entrando e saindo e tantos produtores, acabou ficando muito comigo e com Angelina. E esse trabalho nunca para, a escrita do roteiro é algo que estou fazendo constantemente. Nossos dias começavam no trailer de maquiagem dela. Ela estava lá sentada por algumas horas sendo aprontada e eu ficava lá enquanto debatíamos o texto.”
Já Riley, que retorna como um dos veteranos que fizeram parte do longa original, pontua sobre receber novos amigos e a grandiosidade da produção.
“Eu amei voltar para a sequência. Foi ótimo, foi divertido, principalmente com Angie [Jolie] e Elle [Fanning]. Eu diria que o primeiro filme aparenta ser muito pequeno, não parece? Para mim, parece. Aquele foi o maior filme de que já havia participado, e os sets eram incríveis. E esse é ainda maior. E, para mim, com mais amigos, nós abrimos as portas para mais personagens, como a Michelle Pfeiffer [a rainha Ingrith] e o Harris Dickinson [príncipe Phillip], e isso foi incrível. Eu estava apenas começando a aproveitar o primeiro filme quando terminamos de gravar, porque eu estava tão nervoso e só ficava pensando 'Ok, está tudo bem, está tudo bem'. Quando finalizamos, eu fiquei grato de poder voltar e interpretar novamente um personagem que amo. Então agora eu consegui relaxar e aproveitar cada momento das filmagens. Não estava com medo.”
Diaval 2.0
Quem não se lembra da relação ao mesmo tempo fiel e um tanto desequilibrada entre Malévola e Diaval no filme de 2014? A dupla está de volta em Dona do Mal trazendo alguns momentos que se divertem com a inabilidade social da protagonista — algo que, para Sam Riley, é parte do que a própria Angelina Jolie enxerga para o filme.
“Voltar a interpretar o Diaval é incrível”, conta o ator. “Foi a Angelina quem me conseguiu este papel, ela assistiu à minha fita [de teste] e disse que eu deveria interpretá-lo. E foi ela quem ajudou a criar todo o visual para o meu personagem no primeiro Malévola, e nós embarcamos em uma jornada louca até chegar ao visual dele, como corvo e as roupas de couro e a peruca. E eu o amo por isso. E [Angelina] me encorajou bastante neste filme, e como eu estava mais tranquilo, mais relaxado, nós nos divertimos muito mais.”
Já sobre o que há de novo nele — e no relacionamento entre o corvo e Malévola —, Riley detalha:
“Eu tive que trazer algo novo para o personagem e para o seu desenvolvimento, mas Angelina teve muitas boas ideias”, confessa o ator. “Acho que ela sentiu que a nossa ligação no primeiro filme foi algo que conquistou as pessoas. Então, nós tínhamos a oportunidade de aprofundar essa dinâmica um pouco mais e trazer uma espécie de alívio na história, uma leveza que trabalhasse em contrapartida com os temas maiores e mais pesados do filme.”
Malévola 2.0
Em linhas gerais, o que está em jogo na sequência? Ronning aponta que é necessário saber onde aumentar a extensão narrativa da história e quais são os temas principais que a trama pretende abordar:
“Você expande o universo trazendo novos personagens, criando novas linhas narrativas. Porém, o mais curioso era descobrir como Malévola iria reagir ao fato de Aurora se tornar uma mulher e sair de casa. Como pai ou mãe, você sempre teme e quer adiar o momento em que você não é mais a pessoa mais importante da vida do seu filho, ou filha. Então, até onde você se dispõe a ir pelo filho — e, neste caso, Malévola tenta mudar e tenta se tornar mais humana, e o tiro sai pela culatra. E ela se sente traída, e isso a catapulta para o exílio. É lá que ela descobre que não é a única de sua espécie, e isso era um grande apelo para mim, para que eu decidisse fazer este filme. Eu queria poder expandir dentro desse universo e fazê-lo maior, enquanto investigava sua história de origem.”
Os desafios técnicos
“Até um certo nível, sempre há trabalhos em que há muitos efeitos, e sempre teremos que lidar com elementos de fantasia que são impossíveis de serem construídos”, declara Joachim Ronning, sobre como manter o equilíbrio e a diferença entre trabalhar com sets físicos ou em computação gráfica.
“Mas eu sempre prefiro filmar elementos em sets construídos — queremos que as partes que são importantes para a história estejam na câmera o máximo possível”, continua. “E, para os atores, é horrível atuar contra uma tela azul ou verde. Mas definitivamente há casos neste filme em que eles precisam fazer isso, e então eu preciso passar mais um ano em frente ao computador. Ao mesmo tempo, há centenas e milhares de pessoas constantemente trabalhando para criar os cenários, que são enormes. Este é um filme com um orçamento gigantesco, então isso acaba influenciando na construção dos sets.”
Mas é claro que os desafios vão além. O cineasta conta qual foi a cena que mais gostou de rodar e como o icônico jantar foi tão importante quanto difícil.
“Era uma cena particularmente desafiadora. Não apenas temos todos os atores que precisam estar lá, sentados. São dez páginas de roteiro, e filmamos por uma semana. É uma cena grande, com muitos monólogos e você precisa criar um confronto e colocar os personagens uns contra os outros, precisa iniciar todo o restante do filme. A tensão precisa ser construída da maneira correta. Neste sentido, é uma cena complicada, mas eu também amei porque não havia computação gráfica — apenas o incrível time de produção e direção de arte.”
A mensagem por trás da história
Como Angelina Jolie mesma disse, há sempre uma mensagem por trás de histórias destinadas a públicos mais jovens. Em um filme que se trata essencialmente de um conflito entre dois povos incapazes de encontrarem algo em comum, existe uma reflexão que pode ser feita pensando na política de Trump e no segregacionismo.
“Parece que nós não conseguimos aprender nada, não é?”, reflete Sam Riley. “Mas ainda podemos sonhar. Estamos vivendo em um tempo em que as pessoas estão muito polarizadas, em suas opiniões políticas. E há muitas desigualdades entre os 99% e o 1%. E quando o 1% começa a questionar por que as coisas são assim, por que eles não estão felizes, os ricos sempre dizem que é por causa de outras pessoas, de outros fatores que escapam a eles. Estamos sempre encontrando bodes expiatórios para os nossos problemas, e é assim que coisas terríveis podem acontecer. É importante que sejamos tolerantes uns com os outros e que encontremos uma forma de vivermos juntos, salvar o planeta. Temos coisas maiores a fazer, missões importantes que precisamos nos juntar para resolver.”
Já o diretor pondera:
“Acho que o que era interessante quando estávamos desenvolvendo a personagem da Michelle Pfeiffer — e, novamente, isso não foi uma escolha clara de nossa parte —, o que descobrimos foi que a maior arma dela era controlar a narrativa da história. Na sociedade de hoje, você pode ter isso a um clique de distância, seja no Twitter ou em qualquer rede social. E, se você tiver, está no poder, gerencia o controle da narrativa e decide o que as pessoas pensam. E é fácil dividir. Quando você faz isso, você está manipulando”, pontua.
“Então, para nós, foi interessante observar os paralelos. Mas no fim do dia, o nosso filme é sobre tolerância, aceitação uns dos outros e gentileza. Isso foi importante para mim, porque eu acredito que poderíamos usar um pouco mais disso no mundo.”
Malévola - Dona do Mal chega aos cinemas em 17 de outubro.
*Laysa Zanetti viajou até Los Angeles a convite da Walt Disney Pictures.