Apenas três semanas depois de ter aprovado uma concessão de apoio financeiro para que Greta e Negrum3 — dois filmes com temática LGBT — pudessem participar do Festival Internacional de Cinema Queer, em Lisboa, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) voltou atrás na decisão e rescindiu o termo de permissão.
Agora, em nota oficial, os produtores do longa vencedor do 29º Cine Ceará, estrelado por Marco Nanini, posicionaram-se contra o acontecido, ressaltando o que acreditam ser algo sintomático da "perseguição à atividade artística e à liberdade de expressão". O presidente Jair Bolsonaro já demonstrou, anteriormente, intenção de cessar a captação de recursos para obras que classificou como ativistas.
Na carta lançada pela assessoria de Greta, os envolvidos na obra dizem ter recebido com surpresa a informação da rescisão de apoio financeiro a dois filmes que estariam no Festival em Portugal: "Greta e Negrum3, os filmes atingidos, abordam temas que o governo parece não querer ver nas telas: homossexualidade e negritude", diz o comunicado.
A equipe de produção contou ainda ter buscado uma justificativa ao acontecimento: "Assim nós, produtores do filme Greta, temerosos de estarmos sendo censurados, procuramos a ANCINE e soubemos que a Agencia sofreu um contingenciamento de 24% no orçamento, o que significou um corte de 13 milhões nas despesas".
O governo já havia suspendido, no mês de agosto, um edital que selecionava séries a serem exibidas nas TVs públicas, e entre as categorias de investimento havia projetos com temas LGBT. Enquanto Greta, que fala sobre um enfermeiro solitário (Nanini) apaixonado por um criminoso (Démick Lopes) que esconde em sua casa, participou também do Festival de Berlim (entre outros ao redor do mundo), o curta Negrum3 esteve no Festival de Tiradentes e no Festival Mix Brasil.