Passada a temporada de férias escolares, com grandes produções americanas dominando as salas de cinema, chegou a vez de diversas mostras temáticas disputarem a atenção do cinéfilo. Em São Paulo, são pelo menos quatro mostras interessantes ocorrendo ao mesmo tempo, o que cria um verdadeiro quebra-cabeça na organização dos fãs de cinema.
Um evento que merece a atenção do público é a 14ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que chega à edição de 2019 com uma seleção particularmente forte. Combinando ficções e documentários, muitos deles dirigidos por mulheres, a Mostra apresenta até o dia 14 de agosto importantes debates sobre o peso da religião contra a modernidade, ou sobre a emancipação das minorias diante dos movimentos conservadores.
O AdoroCinema teve a oportunidade de assistir a algumas obras fascinantes como A Memória da Guerra Civil no Líbano, de Ghassan Halwani (imagem acima), e Meu Tecido Favorito, de Gaya Jiji. Enquanto o primeiro busca representar a invisibilidade dos indivíduos que desapareceram sob o regime autoritário do Líbano nos anos 1970-1980, o segundo retrata o amadurecimento de uma jovem quando se torna amiga de prostitutas morando perto de sua casa.
Além disso, Caçando Fantasmas, de Raed Andoni, ousa recriar um centro de detenção israelense onde palestinos eram torturados, convidando as vítimas para visitarem este espaço; e Panoptic, de Rana Eid, propõe uma carta da diretora ao pai militar, lembando a infância passada em abrigos subterrâneos para se proteger das bombas na guerra do Líbano. Já Sobre Pais e Filhos, de Talal Derki, investiga o cotidiano de uma família de terroristas.
Trata-se de filmes provocadores, que dizem muito sobre as organizações sociais contemporâneas e a radicalização de forças opostas entre tradição e modernidade. As reflexões propostas vão além do mundo árabe, podendo ser trazidas também ao nosso continente.
A 14ª Mostra Mundo Árabe de Cinema continua até o dia 14 de agosto, em São Paulo. Leia as nossas críticas: