Em tempos de crise no financiamento do setor audiovisual e da cultura de modo mais amplo, os principais distribuidores e exibidores brasileiros estão buscando formas de inovar para seguir em atividade.
A Sessão Vitrine, um dos principais projetos de distribuição de filmes nacionais independentes, tinha o futuro incerto desde que a Petrobrás retirou o patrocínio, no início de 2019. Mesmo assim, a diretora da Vitrine Filmes, Sílvia Cruz, e a coordenadora da Sessão Vitrine, Talita Arruda, anunciaram que o projeto continua, com a mesma força de antes, apesar das restrições orçamentárias.
Na ausência de um novo patrocinador, e equipe investiu na diversidade de parceiros cujo suporte - financeiro ou de divulgação - permitirá a dez novos filmes brasileiros chegarem simultaneamente nos cinemas e em serviços digitais. Esta é a principal aposta da equipe: manter as exibições em cinemas de 20 cidades distintas (contra 36 anteriormente) enquanto amplia o acesso a todo o país via VoD (video on demand).
De acordo com Talita Arruda, a decisão nasce da necessidade de "pensar as novas formas de consumo do audiovisual", além de formar público interessado em produções ousadas e inovadoras. Sílvia Cruz ressalta que o projeto sempre sofreu alterações ao longo de cinco edições e 46 filmes lançados, em busca do formato mais adequado a cada obra. É preciso "ultrapassar as barreiras da distribuição convencional", ela explica, de modo a tornar estes filmes mais "acessíveis", pensados "de modo coletivo", para que dialoguem entre si e suscitem interesse uns pelos outros.
Os novos projetos escolhidos constituem alguns dos títulos mais premiados tanto nos festivais brasileiros quanto nos internacionais. Eles são:
Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes
Vermelho Sol, de Benjamín Naishtat
Querência, de Helvécio Marins Jr.
Os Jovens Baumann, de Bruna Carvalho Almeida
Nona - Se Me Molham, Eu os Queimo, de Camila José Donoso
A Noite Amarela, de Ramon Porto Mota
A Rosa Azul de Novalis, de Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro
Chão, de Camila Freitas
Diz a Ela que me Viu Chorar, de Maíra Bühler
Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu, de Bruno Risas
Além da exibição de longas-metragens, a Sessão Vitrine vai organizar uma projeção coletiva de curtas-metragens, incluindo Noir Blue, de Ana Pi. A Vitrine Filmes também passa a investir no financiamento de longas-metragens, a exemplo do projeto As Criadas, de Carolina Rodrigues, que será filmado em breve, em parceria com o Canal Brasil. O longa aborda a herança do racismo no país e suas possibilidades de superação.
Arruda e Cruz salientaram o incentivo à produção de uma jovem diretora negra, respeitando a iniciativa de valorizar as vozes marginalizadas, com destaque para filmes feitos por e sobre negros, mulheres e indivíduos LGBT. De fato, a coletiva de imprensa foi marcada pela crença profunda no cinema brasileiro autoral, subversivo e original. "As novas vozes precisam passar pela democratização do acesso", afirmou a diretora Carolina Rodrigues, e completou: "Temos que acreditar na potência de nossas imagens".
De fato, o projeto vai além da garantia de lançamento de dez novos filmes. A Sessão Vitrine organiza-se como forma de enfrentamento aos cortes de investimentos, ao silenciamento de vozes divergentes, à depreciação do trabalho de artistas nacionais. Por sua curadoria e sua postura, o projeto transparece o teor militante, não em nome de algum partido, e sim em prol da inclusão social e da cultura brasileira. "A gente segue na resistência", concluiu Arruda, sob os aplausos dos jornalistas.