O clima úmido e quente da Flórida foi o cenário escolhido para abrir a porta do quarto de Bonnie e apresentar oficialmente ao mundo Toy Story 4. Ou, pelo menos, a uma parte do mundo. Dezenas de jornalistas se reuniram no parque da Disney no início de junho, para uma sessão especial do filme seguida de entrevistas com o elenco o diretor e os produtores. O cenário não poderia ser mais propício. Tudo aconteceu às portas da Toy Story Land, com direito aos personagens clássicos da história caminhando entre os profissionais e os visitantes do parque, ao lado de um Woody gigante que recepcionava todos bem na entrada do prédio.
A nova animação da Pixar chega aos cinemas 24 anos após Woody e Andy terem invadido as telonas pela primeira vez e se tornarem parte indelével da infância de uma geração. No filme, Woody, Buzz Lightyear, Jessie e companhia agora têm o retorno de Bo Peep, ou Betty, e vivem uma nova aventura que se inicia quando Bonnie, em seu primeiro dia de aula, literalmente faz um novo amigo: Sporky, ou Garfinho. Ele é um brinquedo questionador e confuso, construído com restos de lixo, que não entende o seu novo lugar no mundo e é o responsável por uma boa parte dos debates existencialistas do filme.
Quando os jornalistas se aglomeravam na sala de cinema do setor de animação da Disney’s Hollywood Studios para um encontro com o diretor, os produtores e o elenco de Toy Story 4, o calor de Orlando deu lugar à expectativa do debate sobre a adição à trilogia clássica.
“Se eu tivesse que resumi-lo em uma palavra, seria transição”, explicou o diretor Josh Cooley sobre a premissa da sequência. “Todo personagem do filme passou por uma transição, está tendo dificuldade com uma transição ou não passou por uma. Então é com isso que trabalhamos.”
Apesar de ser a mais proeminente, Garfinho não é a única novidade. O brinquedo dublado por Tony Hale (Veep) recebe também as companhias, entre outros, de Gabby Gabby (Christina Hendricks) e Duke Caboon (Keanu Reeves), e os três novatos deixaram claro para a imprensa por que foram as escolhas ideais para dar vida a estes personagens.
“Com estes brinquedos, nós olhamos para os brinquedos com que crescemos, e fomos mais para os anos 1970 e 1980”, contou Cooley. “Queríamos personagens que estivessem lá para ajudar a história a ir para frente e ajudar Woody o máximo possível. Mas também queremos entreter.”
O produtor Jonas Rivera completa: “E não fazemos apenas por diversão. Gabby Gabby, por exemplo. A história não funcionaria sem ela. Ela é um eco do Woody e precisávamos que ela fosse verdadeira. O mesmo vale para Duke Caboon, e Giggle [Ally Maki]. Não é só por diversão, a história não existiria sem eles, e essa é a nossa métrica”.
Duke Caboon, o dublê mais famoso do Canadá, é um personagem completamente canadense em sua concepção. A ideia era essa desde o início, antes mesmo de Reeves ser escalado para dar vo. E, durante o processo de animação, todos os canadenses trabalhando em Toy Story 4 se voluntariaram para conceber o personagem. “Acho que ele é 100% feito por canadenses”, confessou o produtor Mark Nielsen.
Keanu Reeves, é claro, não escondeu a sua animação: “Eu sabia que não iria trabalhar diretamente com Tim [Allen, voz de Buzz] ou Tom [Hanks, o Woody], mas eu sabia que, ao trabalhar com a Pixar e estar com estes personagens e este elenco, eu estava recebendo a chance de fazer parte de algo lendário. Então, eu estava empolgado. E a Pixar me deu um ótimo personagem com Duke Caboon. Foi muito divertido ser parte da história”.
Para Tim Allen, o veterano intérprete de Buzz, a melhor parte de retornar ao universo de Toy Story é abraçar as novidades.
“A melhor parte de tudo isso são os novatos, as novas histórias, os novos personagens”, relatou o eterno astronauta. “Essa realmente é a parte mais legal, ver essa família crescer [...] Eu amo a história, e como eles estabelecem um ambiente tão afetivo. É rico, é intenso, é incrível. E Buzz está muito bom nesse”, brincou.
“Acho que podemos nos identificar com diferentes tipos de pessoas passando por diferentes tipos de experiências”, continuou Reeves. “Duke Caboon é um bebê chorão de coração enorme, valente e que ama a vida. Então eu acho que existe um pouco de Duke Caboon em todos nós.”
Ainda que esteja feliz com o resultado, Tom Hanks admite que sentiu algum receio no início do projeto. “Quando eles entraram em contato e disseram ‘vamos tentar fazer mais um’, a minha reação foi: ‘Uau. Sério? Vocês são corajosos, hein? Acham que dá para superar o 3? Boa sorte’! Mas então eles começaram a falar de Duke Caboon, Gabby Gabby e do verdadeiro motor de Toy Story 4 — Tony Hale como Garfinho. Porque olha só o que ele é: ele é uma junção de várias coisas, empoderado pela imaginação da sua criadora. E essa é a essência, isso é que é ser um brinquedo. Eles conseguiram, esses bastardos.”
Para Hale, existiu uma identificação imediata com Garfinho: “É [uma sensação] sufocante. O que ajuda, porque Garfinho é muito sufocante. Mas eu me lembro de quando me levaram à Pixar e o descreveram, mais ou menos assim, ‘ele é um pouco nervoso’; e eu, ‘confere’; ‘ele faz muitas perguntas’; ‘confere’[...] Então eu amo que ele vê tudo como novo, e amo ele ser um personagem cujo lugar de origem é o lixo. É tudo o que ele sabe, e então Woody chega e diz que ele tem um propósito maior. Então, na vida, todo mundo que se enxerga dessa forma pode ver que tem valor e propósito. E acho que essa é uma boa mensagem que Toy Story pode nos trazer. Nunca achei que faria parte de algo como Toy Story. Mas como Woody disse — acabei de chamar ele de Woody. Ele sempre será o Woody para mim — como Tom Hanks disse, existe uma simplicidade nele, na forma como ele enxerga o mundo e não entende muito bem as regras. E eu amo isso.”
Ainda que quase dez anos tenham se passado desde Toy Story 3, Hanks conta que a familiaridade com a história permanece: “Quando fizemos o primeiro Toy Story, há uns 24 anos, nós líamos o roteiro. Havia um roteiro, você o lia, e então via o storyboard animado. No segundo filme, havia um roteiro, mas nós entendemos que não havia como apreciar a história no papel, então nós esperamos para ver tudo montado. No terceiro, eles nem se importaram de nos mostrar algo além dos storyboards, antes de começarmos a gravar. E neste, eu nunca li um roteiro completo, acho que ninguém leu. Mas nós lemos as sequências em que estávamos. Estes filmes são feitos com muita flexibilidade [...], então toda vez que aparecíamos para trabalhar, havia uma nova versão da ideia que nos havia sido apresentada no início.”
Já Christina Hendricks, eternizada nas telinhas como Joan Harris em Mad Men, explica que enxerga Gabby Gabby como uma maneira de questionar os rótulos:
“Ela é adorável. Eu gosto que, quando as crianças virem este filme, ela parece ser uma vilã no início, e então você percebe que ela vem de um lugar muito amável. Acho que é importante dizer que talvez você não goste de alguém no início, mas é importante entender de onde as pessoas vieram e quais são suas histórias. É muito sobre apoio. E no início eu achei que era uma piada quando eles disseram que me queriam para o papel”, comentou.
“Eu achava que vocês tinham feito alguma pesquisa estranha sobre mim, porque eu de fato tenho um boneco de ventríloquo na minha casa, no meu escritório”, confessou. Eu queria um durante toda a minha vida, todo ano eu pedia para os meus pais esse boneco de ventríloquo e eles respondiam, ‘você é estranha. Vamos te dar uma boneca. Você nunca vai ter um desses.’ E então depois de adulta eu finalmente consegui comprar um.”
Para o diretor, Gabby Gabby vem de um lugar bastante natural: “Nós percebemos que nunca havíamos feito uma boneca. Uma boneca, tradicional. E todos nós temos filhas, então olhamos para nossa crianças e seus próprios brinquedos para ver as verdades. E eu gosto ideia de ela ser tipo uma espécie de O Poderoso Chefão, com seus próprios minions”.
“Acho que toda mulher tem vulnerabilidade e força dentro dela”, continuou Hendricks. “Então eu trato provavelmente tudo o que eu faço com essa abordagem, um pouco. Mas acho que todos os personagens deste filme são muito bem baseados, e isso é a coisa mais doce sobre Gabby Gabby. Ela não é apenas uma única coisa. Ela tem força apesar de ser uma boneca de neném. Foi uma alegria trazer todos os lados dela.”
Toy Story 4 chega aos cinemas em 20 de junho.
*Laysa Zanetti viajou até Orlando a convite da Walt Disney Pictures.