Junho é o mês do orgulho LGBTQI+, e o AdoroCinema aproveita para comemorar toda forma de amor. Para celebrar a data, resolvemos perguntar aos membros da redação: qual filme focado no gênero ou na sexualidade deixou um traço mais marcante?
A maioria dos nossos editores, redatores e estagiários escolheu um filme - principalmente recentes -, mas tem espaço para séries na lista. A seleção também inclui um drama brasileiro, reflexo da produção nacional de alto nível sobre a pluralidade de amores, corpos e identidades.
Qual é o seu filme/série LGBTQI+ preferido?
Francisco Russo (editor-chefe)
Carol (2015), de Todd Haynes
"Haynes constrói um mundo repleto de sutilezas onde um simples olhar ou toque diz muito. Mas não há pressa, nem extravagância. O diretor dá às duas o tempo necessário para que se conheçam e se apaixonem, de forma que a cada novo minuto fique ainda mais à flor da pele a necessidade absoluta de liberar emoções duramente contidas, por medo do preconceito e de possíveis retaliações. Quando elas enfim vêm à tona, surge o gozo: de prazer, de alívio, de amor".
Bruno Carmelo (editor)
Tabu (1999), de Nagisa Oshima
"O diretor japonês, acostumado aos belos retratos sobre o erotismo, analisa o amor entre dois homens num cenário típico da virilidade: o mundo dos samurais, com seus imperativos de honra e patriotismo. Oshima encontra uma maneira de comparar a violência dos samurais à violência do desejo reprimido, com imagens belíssimas. Assim, foge tanto das representações idealizadas e romantizadas - as centenas de filmes sobre a paixão entre homens brancos e musculosos - quanto do fatalismo que consiste em coincidir a homoafetividade com o martírio pela violência ou doença".
Katiúscia Vianna (redatora)
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro, e Pose (2018 - ), de Ryan Murphy
"Se estou trapaceando ao escolher um filme e uma série? Sim. Mas escrevo sobre as duas áreas, então acho que mereço. Para começar, não posso deixar de recomendar o singelo Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que não somente representa uma delicada história de amor, mas também surge como uma jornada de autoconhecimento mágica - ao mesmo tempo que revela diversos talentos nacionais, tanto no elenco como na direção. Por sua vez, a TV mundial nunca mais será a mesma depois de Pose, quebrando recordes ao valorizar diversos artistas trans. Por outro lado, sua história emociona por retratar uma difícil parte da história LGBTQ, mas sem apelar para o dramalhão. É, essencialmente, uma jornada humana sobre a família que construímos em nosso caminho. Ambos surgem como meus favoritos, pois espalham a palavra do amor, focando como a empatia com o próximo pode mudar vidas... É esse o tipo de mensagem que devemos passar uns para os outros."
Sarah Rocha (editora)
Tomboy (2011), de Céline Sciamma
"De imediato, duas características diferenciam Tomboy da grande maioria dos filmes de temática LGBTQI+: a primeira delas diz respeito à escolha de falar sobre identidade de gênero a partir dos conflitos de um protagonista de apenas 10 anos. A segunda é a notável maturidade da atriz Zoé Héran para retratar as sutilezas que o papel exigia. Se Tomboy ainda é frequentemente lembrado dentre os filmes de temática LGBTQI+, grande parte se deve à atuação de Zoe. Na trama do longa francês, dirigido por Céline Sciamma, uma família se muda para uma nova vizinhança, e um garoto, até então conhecido como Laure, passa a se apresentar para os novos amigos como Mikhael. Os dilemas de Mikhael se intensificam quando ele começa a levar uma vida dupla, se vendo obrigado a esconder sua verdadeira identidade dos pais, que ainda acreditam que Mikhael é uma garota".
Carolina Carvalho (estagiária)
Moonlight - Sob a Luz do Luar (2016), de Barry Jenkins
"A obra de arte que é o longa dirigido por Barry Jenkins, Moonlight conta a história de Chiron em três fases de sua vida. A divisão do filme - entre infância, adolescência e vida adulta -, mostra como alguns anos podem mudar a vida de alguém. Sempre introvertido, Chiron se apaixona por seu melhor amigo. Após apenas um beijo na praia, suas vidas vão para rumos diferentes, e somente no final do filme que descobrimos que, por mais que o protagonista tenha entrado para a vida do crime assim como seu antigo mentor, o amor por Kevin não diminuiu. O filme, que é nada mais, nada menos do que um estudo de personagem, mostra a solidão e depressão de um homem, que representa uma comunidade inteira".
Nathália Souza (estagiária)
Hedwig: Rock, Amor e Traição (2001), John Cameron Mitchell
"Esta é uma comédia dramática musical sobre a rockstar transgênero Hedwig, enquanto ela persegue o ex-namorado que roubou suas músicas em uma turnê pelos Estados Unidos. O longa tem criatividade de sobra e está cheio de metáforas visuais e músicas incríveis. Mas ele é tão marcante mesmo porque é uma obra rara, em seu tom debochado e atitude leve em relação à trama, coexistindo com a capacidade de criar situações profundamente dramáticas e gerar empatia por seus personagens. Existe essa ideia de que a comunidade LGBTQ+ é sensível e não aguenta uma piada, especialmente espalhada nos últimos dois anos, que esse filme prova ser mentira de maneira brilhante. A comunidade não gosta de ser piada de gente que não sabe o que é engraçado sobre ela, mas Hedwig: Rock, Amor e Traição sabe exatamente onde está a graça, assim como onde está o drama, e te convida a rir sem medo. Só por isso ele já deveria ser considerado um clássico".
Roanna Cunha (estagiária)
O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee
"Vencedor de três categorias do 78º Oscar, O Segredo de Brokeback Mountain marcou a vida de muita gente, inclusive a minha. A história de amor entre os caubóis Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis Del Mar (Heath Ledger) é tão intensa e repleta de obstáculos pelo caminho, que é impossível não sofrer junto com os personagens, ainda mais quando o romance nunca chega a se concretizar de verdade. Quatorze anos depois, o longa de Ang Lee com certeza não é a representação mais moderna ou inovadora de um relacionamento LGBTQI+, mas desempenhou um papel importantíssimo para o cinema da época. Além de apresentar um casal homossexual de protagonistas para o público mainstream, o filme faz isso ressignificando um dos símbolos mais populares da cultura estadunidense: a figura do caubói do oeste. Afinal, os brutos também (se) amam".
Nathália Jesus (estagiária)
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro
"O filme é emocionante porque retrata o sentimento puro de dois garotos com personalidades e vidas totalmente diferentes. É bonito como Leonardo, um adolescente cego que está descobrindo sua sexualidade, se apaixona por Gabriel, sem se importar com gênero e aparência. Leonardo simplesmente se encanta pela pessoa que o Gabriel é e pelo quão bem o rapaz o faz se sentir. Por ser mais experiente em relacionamentos e por lidar com o preconceito há mais tempo, Gabriel apoia Leonardo e o faz se sentir acolhido, demonstrando que não há nada errado em ser diferente do que esperam que você seja".