Em A Mulher da Luz Própria, da diretora Sinai Sganzerla, acompanhamos uma narrativa cuja abordagem íntima viaja na longa história de Helena Ignez. O fato da filha dirigir um documentário sobre a mãe, uma das atrizes mais conhecidas do Brasil, faz com que este seja mais uma conversa de Ignez consigo mesma, costurando memórias afetivas com suas vivências profissionais.
Sganzerla e Ignez estiveram presentes no 8º Olhar de Cinema para apresentar o filme ao público pela primeira vez. O AdoroCinema conversou com a diretora sobre seu olhar como filha dentro deste projeto e sobre o que foi prioridade diante de dois âmbitos: o pessoal e o profissional. Confira abaixo.
AC: Diante do vasto conteúdo distribuído em seu documentário, como você resumiria a trajetória de Helena?
Sinai: A trajetória de Helena Ignez é uma trajetória camaleônica e também uma trajetória de superação de acontecimentos impostos pela vida. Uma pessoa que vive para as artes e procura a luz e alegria de viver dentro de si.
AC: Como se deu a organização dos depoimentos de sua mãe? O foco era contar sua história no âmbito mais pessoal desde o início?
Sinai: O processo de edição e recolhimento de depoimentos demorou aproximadamente 18 meses. Inicialmente perguntava muito sobre os filmes e trabalhos realizados. Depois eu praticamente cortei na edição tudo que estava relacionado a outras pessoas; achei que ela comentar sobre outros cineastas consagrados seria uma armadilha e o filme perderia sua personalidade. Optei que a personagem principal (Helena) deveria ter o foco total. Mesmo sendo minha mãe, uma pessoa bastante íntima para mim, procurei me distanciar da personagem na roteirização e edição do filme. Mas, no processo de edição, tinha que conter minha emoção na produção das imagens. Assim como no meu filme anterior, O Desmonte do Monte, apresentei a biografia inicial e os antepassados de forma cronológica para entender melhor a dimensão desses personagens.
AC: A estrutura do documentário soa como se ele fosse uma conversa de Helena com ela mesma, ou com alguém muito próximo. Esta ideia partiu de você?
Sinai: Isso mesmo. A intenção era que fosse uma conversa com ela mesma, um pensamento, uma reflexão sobre a própria vida. Partiu de mim.
AC: Em O Desmonte do Monte você já demonstrou bastante fluidez em organizar narrativas que possuem um conteúdo vasto e histórico. Tanto neste filme como em A Mulher de Luz Própria, qual foi o maior desafio pessoal a ser enfrentado?
Sinai: O filme O Desmonte do Monte foi um grande desafio, pois essa história nunca havia sido abordada em filme e pude descobrir um grande material histórico. Provavelmente seja o mais importante material audiovisual sobre o tema do Morro do Castelo, local da fundação da cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente me desmotivaram bastante para eu seguir a narrativa que fiz: no sentido de que esse tema não era interessante, que deveriam ter entrevistas, filmagens com atores, e que eu não deveria utilizar fotografia antigas em movimento - assim como também falar sobre temas antigos. Mas, para a minha surpresa, o filme teve uma trajetória muito bonita, com vários meses de exibição, e me revelou que existe muito interesse no cinema brasileiro do gênero documentário. A Mulher da Luz Própria eu acredito que também tenha grande comunicabilidade com o público, pois assim como o meu filme anterior trata de um tema/personalidade histórica, mas dialoga muito com a atualidade.
AC: Qual é o capítulo que mais te interessa na história de Helena?
Sinai: O momento atual.
A Mulher da Luz Própria tem previsão de estrear em 27 de junho nos cinemas.