A treta entre a organização do Festival de Cannes e a Netflix, que se recusa a lançar seus títulos originais comercialmente nos cinemas do país, não é exatamente nova. Desde 2017, quando Okja e Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe foram selecionados para a disputa pela Palma, o circuito exibidor chiou. E foi atendido, de forma que os filmes do serviço de streaming foram banidos da principal mostra competitiva.
Como um afago à toda poderosa Netflix, a Quinzena dos Realizadores, que não faz parte da programação oficial do Festival, resolveu catar o terror Wounds, do iraniano Babak Anvari (Sob as Sombras), e exibir o filme na mostra paralela. Se a atitude da organização da Quinzena era provocar Cannes, bom, trata-se de um tiro no pé, a julgar pela qualidade da produção.
Embora ainda não haja um consenso a respeito da crítica do filme da Netflix, o título recebeu a pior nota pelo AdoroCinema, até agora, entre os filmes exibidos na Croisette este ano. “Um dos problemas mais graves deste roteiro se encontra na indecisão sobre a fonte do mal: seria um fantasma, um grupo de jovens psicopatas, uma hipnose coletiva, uma possessão, um demônio, uma contaminação? Na ausência de um caminho preciso, o diretor opta por todas as alternativas anteriores”, adianta o texto, que conferiu nota 1,0 ao longa.
(Mais) Uma metáfora sobre os “malefícios” do celular, Wounds ("feridas") é centrado na figura de Will (Armie Hammer), um barman que decide levar pra casa um smartphone esquecido por um cliente no bar onde trabalha, depois de um episódio atípico. Na sequência, ele começa a receber mensagens estranhas, até que eventos aterrorizantes começam a acontecer.
“É lamentável ver atores interessantes envolvidos num projeto tão rasteiro. A pobre Dakota Johnson se limita a uma zumbi possuída pelo computador ou afogada numa banheira. Armie Hammer se esforça para navegar entre a aparência cool do barman e a surpresa diante dos fenômenos sobrenaturais, mas como conferir o mínimo de verossimilhança a cenas insanas como a conclusão?”, questiona o AC.
Para o Guardian, “Wounds se arrasta, rasteja, cutuca, sangra, mas nunca funciona”. “O filme entretém e certamente prendeu minha atenção a maior parte do tempo, mas a virada e o final perdido não me deixam recomendá-lo”, apontou a profissional do Collider.
Os conceituados Variety e The Hollywood Reporter, por outro lado, aprovaram: “Os consumidores vorazes do gênero devem tentar decifrar as ambiguidades obscuras deste filme densamente texturizado”, sugere este o último.
Wounds ainda não teve data de lançamento anunciada.