Uma história de paixão e regada por sonhos que se passa em um lugar que serve de refúgio para todos os que ali adentram. Inferninho, filme cearense dirigido por Pedro Diógenes e Guto Parente, foi exibido e muito elogiado em festivais como os de Roterdã e Festival do Rio e, agora, entra em cartaz nos cinemas brasileiros.
Com estilo teatral e atuações marcantes de seu elenco (sobretudo de Yuri Yamamoto na pele de Deusimar), Inferninho é uma viagem lúdica e ao mesmo tempo "pé no chão". Os cenários coloridos do bar que dá o título ao longa misturam-se às cores cruas da realidade de quem vem de fora, formando uma obra ímpar cuja mensagem é a de que somos todos movidos por sonhos e amor.
Conversamos com um dos diretores, Pedro Diógenes, sobre o filme. Leia a entrevista abaixo:
O filme foi muito bem recepcionado em festivais como o de Roterdã. Como vocês receberam essas críticas positivas?
A princípio foi uma surpresa, porque com a gente jogou o filme no mundo nós não tínhamos ideia do que esperar. É um filme bem peculiar e diferente do que tínhamos feito antes, mas desde a primeira sessão a recepção foi maravilhosa. Este é um filme que consegue chegar no coração das pessoas e ultrapassar fronteiras. Em Roterdã as sessões foram emocionantes e na Alemanha algumas pessoas vinham falar conosco chorando, assim como no Brasil. Então, apesar de ser um filme com muitas questões nossas, do Ceará, coisas bem particulares, ele consegue ultrapassar limites e é um filme que chega nas pessoas. Ficamos muito felizes com isso.
Como surgiu a ideia para o filme?
Ele surgiu do encontro entre o Alumbramento, grupo que eu e Guto fazíamos parte, e o grupo Bagaçeira de Teatro, que já tem 20 anos de estrada. A gente se "paquerou" de alguma forma - sempre víamos as peças deles. Eles também viam nossos filmes, então tínhamos essa proximidade. Um dia, começamos a desenvolver estes personagens de uma peça que nunca foi para frente. A partir desse exercício de teatro fracassado, começamos a desenvolver o argumento do filme, e isso sempre foi feito de forma conjunta: eu e Guto, vindos do cinema, com eles, vindos do teatro. Os atores estão desde a primeira concepção da ideia, até o roteiro e o resultado final.
O bar é um local teatral mesmo, e é muito bonito ver como funciona como cinema também.
Sim. Nós queríamos um encontro entre cinema e teatro sem que um anulasse o outro ou oprimisse ninguém. Nossa ideia era de que Inferninho fosse um encontro de potências.
Você e o Guto trabalharam juntos outras vezes, mas no caso de Inferninho, o que cada um de vocês colocou dentro desse filme?
É muito difícil dizer. Trabalhamos juntos há muito tempo e até começamos a fazer cinema juntos - longas e curtas. É um processo natural e longo, em que tudo é feito junto. Começamos a elaborar nossas ideias com o grupo de teatro em 2013, então foram muitos processos até chegar ao filme. É até difícil dizer o que veio de quem, é tudo uma mistura muito grande - muitas vezes com os atores junto. Tudo foi se complementando, basicamente.
Como você definiria este filme hoje?
Cada vez que eu o assisto ele me traz coisas novas, mas no todo é sobre fantasias e como vivê-las. Inferninho é sobre poder ser quem quisermos ser e também é sobre amor.
Neste tempo complicado para o cinema brasileiro, com cortes e falta de apoio, com o que Inferninho dialoga com a sociedade atual?
Um filme está sempre vivo e se atualizando, de certa forma, com o que acontece ao redor. Quando a gente começou a fazer em 2013, era outro mundo, pode-se dizer assim. As coisas vão se adaptando, e o fato do filme ser sobre pessoas que têm de se refugiar para ser quem são é algo bem direto com hoje. O mundo fora do Inferninho que nunca é mostrado parece ser um mundo opressor, onde aquelas pessoas não podem viver aquelas fantasias fora dali. Então, eu acredito que aquele local do filme está conectado com o que nós estamos vivendo agora, aqui fora, para além do melodrama principal ali dentro.