Pokémon: Detetive Pikachu estreou no Brasil nesta quinta (9), trazendo aos holofotes aquele que é provavelmente o personagem digital mais carismático já criado. O rato elétrico amarelo da Nintendo sempre foi cativante em suas versões nos games e animes, mas no cinema, a fofura do Pikachu foi extrapolada a níveis estratosféricos. Agradeça à dublagem de Ryan Reynolds por isso (e à Phillipe Maia na versão brasileira), mas também à excelente qualidade da computação gráfica que embala a obra.
Um filme live-action sobre os Pokémon parece ser algo lógico, mas demorou mais de duas décadas para se tornar realidade. A primeira aparição dos "monstros de bolso" foi em jogos para o console portátil Game Boy lançados no Japão em 1996. A animação foi lançada um ano mais tarde, consolidando a febre entre crianças e adolescentes e se espalhando rapidamente pelo mundo. E justamente pelo fato de Pokémon ser um fenômeno multimídia desde seu surgimento, a origem de Detetive Pikachu não está assim tão clara para o público geral.
A ideia de o Pikachu ser um detetive de voz grossa e viciado em café parece bizarra o bastante para ter vindo de Hollywood, mas na verdade ela surgiu em um videogame de Pokémon: o filme dirigido por Rob Letterman é uma adaptação direta do game Detective Pikachu, lançado para o console portátil Nintendo 3DS em 2016. O jogo relativamente desconhecido, que está longe de estar entre os mais populares dos monstrinhos, é uma aventura ao estilo "point and click" (apontar e clicar) que carrega a mesma linha condutora da versão cinematográfica, ainda que com várias adaptações de enredo e formato.
No game, o jogador também segue os passos de Tim, um jovem que chega a Ryme City em busca de seu pai desaparecido, o detetive Harry Goodman, e acidentalmente se encontra com seu parceiro, um Pikachu falante que só ele entende. Diferentemente do filme, em que a criatura dublada por Reynolds é jovial e soa bem-humorada o tempo todo, o Pikachu do jogo tem a voz de um senhor de idade irritado (o vício em café se mantém intacto nas duas versões). O filme também modifica a motivação do herói ao chegar na cidade: Tim (Justice Smith) crê que o pai morreu em um acidente e quer apenas se despedir. No game, Harry sumiu há duas semanas e o filho quer procurá-lo, o que o faz com a ajuda do Pikachu, que sofre de amnésia e também quer descobrir o que houve com o parceiro.
Outros fatos ocorrem em contextos diferentes nas duas versões. No game, Tim se depara com um bando de Aipons raivosos assim que desembarca em Ryme City. No filme, é o próprio Tim que causa o comportamento estranho dos Pokémon símios após abrir uma cápsula de gás tóxico. Outros encontros com monstros variados se repetem tanto no filme como no game, mas na versão para os cinemas, o foco principal está nas criaturas mais conhecidas da primeira geração, como Bulbassauro, Charmander e Squirtle. No 3DS, há enorme foco nos bichos mais recentes. Também coincide o protagonismo de Mewtwo tanto no filme como no game (falar mais sobre isso caracterizaria spoilers).
Há outras cenas-chave que não constam do game, como o embate de Pikachu com um Charmander em uma arena, mas outras estão intactas, como a grande sequência de ação no terceiro ato durante um grande "desfile Pokémon". Boa parte dos personagens do filme também não existem no game, mas podem ser interpretados como adaptações fiéis, como a repórter Emilia do game, que se parece com Lucy (Kathryn Newton), que no filme trabalha em uma emissora chamada CNM (GMM no jogo).
Essas modificações são pequenas o suficiente para posicionar o longa bem alinhado a sua contraparte nos games. Por outro lado, o filme traz um enredo diferente o bastante para que os fãs do jogo ainda consigam se surpreender. Quem jamais pôs as mãos em qualquer game de Pokémon não precisa se preocupar em ficar perdido, porque o filme explica uma mitologia tão específica de uma maneira didática e sem agredir a inteligência dos fãs de longa data. A decisão de adaptar um título mais obscuro também se mostrou acertada, porque deu ao filme a possibilidade de brilhar por seus próprios méritos e aproveitar o que a franquia tem de melhor -- no caso, o carisma dos próprios Pokémon.
Leia aqui a crítica de Detetive Pikachu do AdoroCinema.