Katiúscia Vianna é uma redatora do AdoroCinema que acumulou mais de duas décadas de cultura inútil e decidiu transformar isso num emprego. Nessa jornada, ela tem a missão de representar os fandoms barulhentos e/ou esnobados do Twitter, falar das séries que a crítica ignora e celebrar as '"farofas" que trazem alegria para o povo. Ou seja, os guilty pleasures! Com um ponto de vista 'singular' (ou doido, depende de quem opina), surge a coluna Kati Critica — misturando açúcar, tempero e um pouco de haterismo zoeiro.
Poucas coisas me fazem feliz nessa vida. Sorvete. Cachorros. Musicais bem feitos. Vídeos de pessoas caindo, pois sou um péssimo ser humano. Parafraseando Christian Grey, confesso que tenho um gosto bem peculiar, que nem todo mundo entende. Antes que minha família surte lendo isso, relaxem pois não sou adepta do quarto vermelho. Porém, algo bizarro sempre me faz sorrir: vídeos de pessoas vestidas de Pikachu.
Veja o vídeo abaixo e embarque nessa jornada comigo. Perceba como eles andam que nem Tiranossauros Rex, pois mal conseguem movimentar os bracinhos! Como não amar um bando de ratinhos amarelos fazendo coreografias idiotas, ao som de músicas sem sentido, e com um sorriso estampado no rosto — afinal, são máscaras sem outra opção de expressão?! É só amor!
Não sei se ficou claro, mas fui fã de Pokémon, assim como quase toda criança nos anos 90/2000. Também passei pelas modas de Digimon (eu era a Kari, pois amo letra K e também sou pequena!) e Yu-Gi-Oh! (minha mãe joga na minha cara, até hoje, como gastou 15 reais em cards que nunca usei), mas era louca mesmo pelas aventuras do Ash Ketchum da cidade de Pallet. Talvez porque eu goste de animais de estimação fofinhos, ao mesmo tempo que aprecio uma bela porradaria, afinal tenho a grosseria cativante do carioca? Provavelmente.
Então, confesso que ainda estou em dúvida sobre assistir ou não Detetive Pikachu, o primeiro live-action da franquia. Oficialmente, as críticas nem estão ruins e parece que os efeitos especiais para recriar os monstrinhos são incríveis, mas não é a história dos anime, né? O filme estrelado por Justice Smith e Kathryn Newton é baseado no game Detetive Pikachu, que traz o querido roedor elétrico resolvendo mistérios. Pois a criatividade humana não encontra limites, então isso existe.
Eu sou apegada à jornada de Ash em busca de insígnias, onde a gente sabia que o bagulho ia ficar sinistro quando ele virava o boné. Também decorei o discurso da Equipe Rocket; questionava como a Misty não ficava cansada de segurar o fofo Togepi o tempo todo; e ria ao ver o Brock cantando toda mulher que via pela frente — aliás, talvez ele não seja muito adequado diante desse movimento #MeToo, então abafa o caso.
Não sei quanto a vocês, mas, na minha época, Pikachu nem falava! Só sílabas do próprio nome, tipo um protótipo de Baby Groot! Sem falar que o Eve tinha apenas 4 evoluções, hoje eu já perdi a conta...
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Ser fã de Pokémon era ótimo. A gente comprava refrigerante para colecionar miniaturas, fazia coleção de figurinhas, jogava com tazos (algo que as crianças de hoje em dia nem devem saber o que é), sem falar que tínhamos aquelas bolinhas que pulavam e foram terrivelmente chamadas de "pererecas". Até a Eliana esteve envolvida com o 'fandom' ok? Como esquecer do hino "Força do Mestre", que rima "bom" com "pokémon"? Icônico.
Oficialmente, eu nem posso reclamar tanto, já que parei de assistir o desenho após a terceira geração de pokémons, quando ainda era apaixonada pela Chicorita rainha. Porém, ainda acho que mereço algum crédito no assunto, afinal jogava Pokemon Go!, mesmo correndo o risco de ser assaltada, andando pelo Rio de Janeiro com o celular na mão!
O problema do filme surge justamente ao redor do roedor elétrico que tenho vontade de colocar num potinho. (Mentira, eu ia usá-lo para conseguir o máximo de coisas possível, ameaçando dar choque em geral, mas isso não vem ao caso.) Pikachu sempre foi meu pokémon preferido, então colocá-lo como protagonista não é um problema. Também entendo querer investir em outra história, para não ser comparado ao anime. E não vou implorar por um roteiro com muito sentido, afinal estamos falando de um universo onde bichos com poderes caem na porrada. Mas ele tinha que ter a voz do Deadpool?
Não me entendam errado. Eu AMO Ryan Reynolds. Shippo ele com a Blake Lively. Ele é um ótimo ator e bem zoeiro (o que sempre aprecio, pois ele nem precisava ser simpático, afinal já é bonito!). A Proposta é um dos filmes que mais vejo na vida, por tantas reprises na TV a cabo. Mas como o meu doce, inocente e guerreiro Pikachu teria a voz do Mercenário Tagarela boca-suja? Se ele tivesse a voz do Darth Vader, eu ficaria menos chocada.
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Para mim, Pikachu é como o R2-D2 dos fãs de Star Wars. O Wall-E do universo Pixar. O Black Phillip de A Bruxa. Para vocês entenderem a obsessão do ser humano que vos fala, tenho, até hoje, um Pikachu de pelúcia — o qual coloquei coloridos prendedores de cabelos nas orelhas e chamei de Pikachi, pois achava que era o nome feminino dele. Desde pequena na luta pela representatividade, beijos sociedade.
Apesar do meu haterismo automático, precido admitir que é bonito ver como os produtores de Detetive Pikachu parecem se importar com os fãs, vide os materiais promocionais — com cartazes cheios de Pokémons escondidos — e a vontade de começar um universo nas telonas, já planejando uns spin-offs. E é vergonhoso admitir quanto tempo passei assistindo Pikachu dançar nesse vídeo bobo, mas super criativo em marketing, pois fingiram que estavam divulgando o longa completo na internet. Eles atingiram meu calcanhar de Aquiles, esses malditos...
De qualquer forma, um live-action de Pokémon é algo esperado pelos fãs por tanto tempo, então comemoro que eles tenham o desejo atendido. E a franquia bem que merece ganhar um certo buzz nas telonas. O recente Eu Escolho Você! até fez algum barulho, mas o único filme que realmente ficou marcado na cabeça dos fãs é aquele primeiro, lá de 1998, que fez todo mundo chorar junto com Pikachu e ainda inspirou o genial Nós, de Jordan Peele.
Só que é impossível não ter aquele medinho de ver algo que tanto amamos na infância correr o risco de ser estragado pela ganância de Hollywood. Minha geração tem um belo sentimento nostálgico ao lembrar tempos mais simples, quando nossa maior preocupação era sair correndo da escola para chegar a tempo de ver Super Choque e X-Men Evolution na TV. Talvez, aceitar uma nova geração pode não ser ruim. Antigamente, ostentação era ter vários VHS verdes das animações da Disney; enquanto hoje, estamos diante de uma bem-sucedida moda de remakes em live-action. Quem sabe ser otimista não vai machucar tanto?
De uma forma ou outra, minha Pikachi segue firme e forte perto dos travesseiros lá de casa, sempre proporcionando boas lembranças. Infelizmente, ela não pode mais me acompanhar em aventuras, pois preciso manter um mínimo de reputação e levá-la para redação do AdoroCinema pode ser algo estranho... Hipocrisia é eu escrever isso enquanto bebo no meu copo de Mary Poppins, mas ok. Reputação é superestimada!
Moral da história: Fica aqui meu currículo para estrelar um live-action de Sakura Card Captors, viu? Eu não tenho nenhum condicionamento físico, mas sei gritar "Volte a forma humilde que merece, Carta Clow"!