Que atire a primeira pedra quem não tem medo de algo. De amadurecer, falhar ou sair do conforto da casa dos pais. Medo de cair na rotina, ao mesmo tempo que teme se arriscar. Medo de ser rejeitado, mas ter pavor de realmente se entregar a alguém. Basicamente, ser vulnerável num mundo tão louco. O que resta fazer? Rir.
Essa é a proposta de Depois a Louca Sou Eu, filme inspirado na obra homônima de Tati Bernardi. Antes mesmo de chegar às livrarias, a história chamou a atenção da cineasta Julia Rezende — após uma parceria de sucesso da dupla na franquia Meu Passado Me Condena. Por sua vez, a escritora sonhava em ter Débora Falabella como protagonista da (até então) hipotética adaptação para as telonas, sem saber que a atriz já era fã do livro. Ou seja, foi escrito nas estrelas.
Três anos após a publicação, o AdoroCinema se encontra no set de filmagens da comédia dramática, vendo uma cena que define bem um medo básico de todos nós: pagar mico. Na cena, a Dani de Falabella usa a louca imaginação para descobrir como será a entrevista que dará para um talk-show (comandado pelo personagem interpretado por um Evandro Mesquita todo galanteador. Pelo menos, no sonho bom!).
Apesar do caráter autobiográfico do livro, a história das telonas não é sobre Tati. Aqui, acompanhamos a vida de Dani, ansiosa desde a infância, que tenta encontrar diversas formas de lidar com seus medos, enquanto equilibra a relação com uma mãe superprotetora (Yara de Novaes). "É a história de uma mulher moderna que vive nessa sociedade louca, onde é difícil não precisar de nenhuma ajuda, mas muitos ainda consideram isso um tabu. Ela vai contando suas ansiedades e crises, e mesmo com tais fragilidades, consegue seguir em frente. Isso é o legal. Ela é uma mulher real", conta Débora.
De Todos Os Loucos do Mundo
Ao longo do filme, Dani irá passar por diversas terapias e medicações, enquanto vai encontrando os medos presentes na vida: sair de casa, trabalhar, namorar, viajar, ser uma escritora de sucesso... Ou no caso do talk-show, fugir de bolas de queimado? Apesar do tom mais fantasioso da história, o desejo é retratar tais ansiedades cada vez mais comuns na sociedade, apesar de existir medo de falar sobre o assunto. Medo de falar do medo. Irônico, não?
Para Julia Rezende, é justamente a forma de tratar o tópico que se torna "o fator X" de Depois a Louca Sou Eu: "Esse é o grande mérito do texto da Tati, pois consegue expor tudo aquilo que tentamos esconder. Eu até considero um livro triste, pois você vê como ela sofre, mas ainda consegue rir de si mesma. Esse é o desafio da adaptação, pois não queremos falar de uma forma rasa, já que é um assunto tão importante. Ao mesmo tempo não pode ser pesado, pois sempre imaginamos esse filme numa pegada pop, sabe? Tipo Réquiem para um Sonho, que fala fala de drogas e vícios, mas tem uma pegada MTV. O humor entra aqui, pois é uma forma de abrir diálogo. A comédia amplia a capacidade de comunicação com as pessoas"
Surge então a brincadeira do título. Para Débora, o termo "louca" sempre cai sobre os ombros da mulher de forma meio estereotipada. Mas, na realidade, a sociedade também tem suas próprias maluquices: "Não tem como viver no mundo de hoje sem ficar louco, ter ansiedade ou ficar deprimido. Ao mesmo tempo, vivemos numa cultura que diz que todo mundo precisa ser feliz nas redes sociais, mostrar como está bem o tempo todo. Então, o objetivo é falar disso com muito humor. É rir de si mesmo. A gente tem medo de falar sobre ansiedade e síndrome do pânico, mas existe isso em todas as famílias. As pessoas vão se identificar."
Agora É Que São Elas
Para contar a experiência de uma mulher moderna e ansiosa da forma mais natural possível, representatividade é fundamental. Tirando o roteirista Gustavo Lipsztein (Polícia Federal - A Lei é Para Todos), os principais nomes da equipe do longa são femininos: Rezende, Falabella, Bernardi e a produtora Mariza Leão. Isso também se repetia no set, onde diversas mulheres trabalhavam atrás das câmeras, em diferentes cargos, comandando e opinando na cena.
"Acho essa questão importantíssima, pois nunca participei de um set tão cheio de mulheres. Estou vendo cada vez mais isso. E é legal falar de uma mulher independente, que tem uma história de amor, mas isso não é o principal. Fala da carreira dela, fala da mãe e outras coisas. Trabalhar com a Julia está sendo incrível, vou ficar até mal acostumada", brinca Débora.
Infelizmente, essa ainda é a exceção da regra, mas a busca por mais vozes femininas cresce. Construindo uma carreira forte no Brasil, Julia Rezende apresenta sua opinião bem realista: "A presença feminina vai aumentar cada vez mais, a medida que as mulheres consigam ocupar trabalhos atrás das câmeras. Precisamos de mais diretoras, roteiristas, produtoras; que as mulheres cheguem aos cargos de distribuição e exibição. Assim, consequentemente, poderemos contar mais histórias femininas."
Com um elenco formado por Gustavo Vaz, Cristina Pereira, Rômulo Arantes Neto, Débora Lamm, Elisangela; Depois a Louca Sou Eu tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2019.